Ajude pesquisadorxs negrxs a levarem as suas pesquisas à II Bienal Afroeuropeia
Luck Yemonja Banke, graduando do curso de Letras Italiano pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Jess Oliveira, doutoranda em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), ambxs estudantes negrxs cotistas, encontraram na tradução uma possibilidade de diálogo entre afrodiaspóricos (descendentes de africanos na diáspora) como importante alternativa contra o epistemicídio, que é o silenciamento do conhecimento deste povo. Para termos noção da importância dessas pesquisas, Jess Oliveira traduziu para o português brasileiro o livro Memórias da Plantação, da artista e teórica negra portuguesa Grada Kilomba, entre outros textos.
O epistemicídio tem agido ao longo dos séculos como justificativa para o semiocídio ontológico que, por sua vez, justifica o genocídio físico e toda ordem de violência e injustiça contra o povo africano em diáspora e seus descendentes.
A diáspora africana no mundo se configura inicialmente e ainda, hoje, como compulsória, fruto do extermínio civilizatório dos povos escravizados e do esvaziamento do próprio sentido de humanidade dessas pessoas.
Embora o povo negro tenha (sido) espalhado pelo mundo e ainda tente recuperar no ocidente uma dignidade humana e almeje visceralmente a justiça social e cognitiva, observamos que o forte nacionalismo das nações europeias invisibiliza e silencia a imensa potência e contribuição cultural da Diáspora Africana neste continente.
A proximidade geográfica com o continente africano e a história da exploração europeia em África são força motriz para que possamos dizer que a ideia de uma Europa constituída apenas por pessoas brancas se configura como mais um mito do nacionalismo europeu e do colonialismo branco ocidental.
Luck e Jess, tradutorxs afrodiaspóricxs no Brasil estão produzindo estudos de ponta, desenvolvendo traduções afrocentradas de artistas e escritorxs negrxs da Europa. Seus trabalhos serão apresentados na II Bienal Afroeuropeia, na Universidade de Lisboa, dos dias 4 a 6 de julho.
Ocorre que nenhuma das duas possui apoio institucional para desenvolver este importante trabalho de difusão e estabelecimento de redes entre a comunidade acadêmica internacional que se reunirá na Bienal Afroeuropeia.
Os cortes na educação, somados ao racismo institucional, não priorizam acadêmicxs negrxs e seus projetos de produção do conhecimento. Essxs pesquisadorxs procuram todo apoio possível para superar a asfixia intelectual, por isso o centro cultural Casa Luanda, em Florianópolis, abriu o espaço para que Luck e Jess realizarem um curso intitulado “Epistemologias e Afroperspectivas Anticoloniais”, visando ao compartilhamento de seus conhecimentos e mobilização para cobrir os custos das viagens. O curso terá certificado, oficina de abayomi e a exibição exclusiva do filme “Audre Lorde – Os Anos em Berlim: 1984-1992 (2012), de Dagmar Schultz traduzido por Jess Oliveira e legendado também por ela junto à Julia Morais e Kuzka.
Às terças-feiras, Luck e sua companheira Eli Palhano vendem Acarajé na universidade (UFSC) para arrecadar a verba para garantir sua participação na conferência. “O Acarajé é um alimento ancestral e sagrado que comprou a carta de alforria de muitas mulheres e suas famílias, é símbolo de emancipação das mulheres negras desde antes da pseudo-abolição, e nos ajudará a propagar nossa contribuição intelectual”, afirma Luck com otimismo.
Uma campanha de financiamento coletivo – também foi organizada para colaborar com todas as despesas, que são muitas! – está nas últimas semanas e arrecadou até o momento apenas 21% do esperado. Então, ainda dá tempo de virar esse jogo!
Informações sobre o Curso de Epistemologias e Afroperspectivas Anticoloniais [email protected] ou na Casa Luanda.
*O espaço desta coluna foi cedido dada a importância deste tipo de estudo e também como forma de apoiar o financiamento coletivo da participação destxs pesquisadorxs na II Bienal Afroeuropeia. Apoie a pesquisa e o conhecimento do povo preto!