Este título está rodando minha cabeça há alguns dias e fiquei com grande dificuldade de desenvolver. Afinal, a culpa e as mulheres são amigas íntimas. Na caminhada da vida, por muitas vezes escutei que era corajosa, mas não entendia isso, afinal todas as decisões precisavam ser tomadas. Fui corajosa em largar uma relação, depois de agredida, com uma criança de um ano e meio?

Corajosa em aceitar um convite para apresentar um projeto político de renovação? Corajosa por mudar de cidade e dar continuidade ao projeto e ler as necessidades de uma parcela da população? Pode até ter sido, mas acompanhadas destas atitudes – que na minha cabeça precisavam acontecer – vem a culpa.

Aquela que nós criamos e, principalmente, as que nos dão. Separar com uma criança tão pequena? Como fica a convivência com o pai? Diante de uma agressão, nada mais pode ser maior, do que o fim deste ciclo. A tomada desta decisão, sem sombra de dúvidas, levou tudo isto em consideração.

A existência da culpa vem por quebra de valores, de crenças, que gera essa sensação de que cometeu algo errado. É muito cruel ter convicção de estar fazendo o que precisa ser feito, mas “as vozes” não nos garantem isso.

Estamos programadas a gerarmos nossos filhos e criarmos uma família mesmo que, para isso, nós mulheres, tenhamos que nos anular como ser, como indivíduo. E quando, nos rebelamos contra essa pressão de aceitar uma relação tóxica para garantir uma “família” aos nossos filhos, somos enquadradas por toda a sociedade. Acabar com algo que nos afasta de todos é um passo para a consciência e respeito por nossos corpos e almas.

A fiscalização sobre cada decisão tomada por uma mãe é muito maior do que com qualquer outro ser humano. A mulher que se torna mãe tem que suportar todos os reveses das relações familiares como se fosse um alicerce inabalável. E nos cobramos por cada decisão. Somos sufocadas pela hipocrisia do patriarcado, onde a mulher será sempre subserviente ao gênero masculino.

A verdade é que, ao escolhermos o nosso próprio caminho, desafiamo-nos a redefinir o que significa ser mulher e mãe em um mundo que muitas vezes nos limita.

A coragem, portanto, não deve ser vista apenas como um ato isolado de bravura, mas como um processo contínuo de autoconhecimento e afirmação.

Para isso, é fundamental que nós mulheres, nos unamos nessa jornada de libertação da culpa. O compartilhamento de experiências entre nós pode servir como um bálsamo para aquelas que se sentem sozinhas em suas lutas. Ao contar nossas histórias, criamos uma rede de apoio onde a empatia e a compreensão florescem.

Essa solidariedade é essencial para dissipar a ideia de que devemos carregar sozinhas o peso das decisões difíceis. Juntas, podemos validar nossas escolhas e lembrar umas às outras de que ter coragem é também reconhecer a dor e a luta que cada uma enfrenta.

Precisamos questionar e reformular as narrativas em torno da maternidade e da feminilidade. A culpa não precisa ser uma companheira constante nas nossas jornadas; podemos transformá-la em um catalisador para mudanças positivas.

Ao redefinirmos o que significa ser corajosa, podemos nos libertar das amarras do julgamento alheio e abraçar nossa autenticidade.

Cada escolha feita com amor e respeito por nós mesmas é um passo em direção à construção de um futuro no qual as mulheres serão livres para viver sua verdade sem medo ou culpa. Afinal, a verdadeira coragem reside na capacidade de sermos fiéis a nós mesmas, mesmo diante das adversidades impostas pelo mundo ao nosso redor.

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  • Bia Vargas

    Catarinense de 38 anos começou a empreender quando foi mãe. Voluntária social desde os 13 anos passando por grupo de jov...

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