Formada pela economista Livia Guilardi, pela educadora Delza da Hora e pelo educador Marcelo 7 Cordas, pessoas pretas e cisgênero, a Coletiva Raízes é uma candidatura coletiva à vaga de Deputada estadual de Santa Catarina nas eleições de 2022 pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) na coligação Federação PSOL/REDE.

Coletiva Raízes é a quarta candidatura a responder ao questionário proposto pelo Catarinas para divulgar as candidaturas de mulheres comprometidas com a agenda política feminista, antirracista e LGBTinclusiva no estado. Pela primeira vez, o estado conta com candidaturas coletivas para o cargo no parlamento estadual. 

As entrevistas serão publicadas diariamente por ordem de chegada. Se você é uma candidata comprometida com a agenda de direitos mencionada acima, ou conhece uma candidatura com esse perfil, responda o formulário

Acompanhe a entrevista de Coletiva Raízes.

Conte sobre sua trajetória de vida/militância e quais motivações a levaram a disputar essas eleições.

A Coletiva Raízes surgiu do amadurecimento de lutas coletivas. Mais do que a junção de bandeiras abraçadas por cada co-candidate, somos três pessoas negras que compreendem que as lutas que importam ao povo trabalhador, passa pelo combate ao racismo.

É necessário ir às raízes dos problemas, para entender o que é possível solucionar nas pautas de educação, geração de emprego e renda, promoção de justiça social e econômica, justiça racial segurança pública, direito à cidade à favela e à periferia, cultura e memória, gênero, sexualidade e direitos reprodutivos, justiça ambiental e climática, direito à terra e ao território.

Tendo esses eixos como prioritários, nos colocamos de forma compromissada na defesa das lutas cotidianas da vida das pessoas. Neste ano, temos a chance de mudar a ALESC, e transformar a “Casa do Povo”, num espaço onde verdadeiramente o povo tenha voz e vez! Queremos celebrar as nossas raízes e dar voz a nossa voz!

Você tem conseguido verba para a campanha? Como são divididos os fundos eleitoral e partidário entre as candidaturas? Você recebeu apoio e recursos do seu partido?

Sim. O Partido Socialismo e Liberdade tem assumido um compromisso com a distribuição das verbas de campanha, levando em consideração os critérios nacionais do Partido bem como da legislação eleitoral a respeito das cotas de candidaturas negras. Isso nos possibilitou a garantia de verba justa dentro das reais condições do próprio PSOL. Essa conquista é fruto de muitos debates internos e externos e que configuram a atual política eleitoral de fundos eleitorais para determinados grupos excluídos sócio-historicamente dos espaços políticos e de poder em nosso país. Entendemos como assertivos os passos dados até então, e reconhecemos limitações no tocante à aplicação dessa política para grupos populacionais, como o caso das pessoas indígenas. Este deve ser o próximo alinhamento partidário e eleitoral para contemplar de forma justa, democrática e comprometida com a mudança da cara da política que temos em nosso cenário nacional.

Quais as principais questões a superar hoje em relação à desigualdade de gênero? E quais suas propostas para resolver essa questão no cargo que você quer ocupar?

As desigualdades de gênero são uma constante no tocante aos desafios pra construção de uma sociedade antirracista. Ademais, é importante salientar a necessidade de termos políticas voltadas para superação desses fatores que há séculos tem barrado meninas e mulheres a estarem nos espaços de decisão da vida pública. Quando pensamos na realidade das mulheres negras, indígenas e demais populações não brancas, cabe mencionar o papel fundamental desses grupos na construção do nosso país. Tendo em vista os desafios colocados, de acordo com uma pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que pessoas “pretas” e “pardas” são 56,1% da população brasileira, mas representaram só 46,5% dos cerca de 29 mil candidatos aos 8 cargos em disputa nas eleições de 2018. Nas eleições de 2020, somente 15% das 52,2% das mulheres no Brasil foram eleitas. 

Entendemos que é possível alterar esse quadro com políticas públicas voltadas à participação política das mulheres, com foco nas mulheres que residem em regiões periféricas e que de forma geral necessitam de redes de apoio dentro dos seus espaços de atuação política, em suas famílias (mulheres precisam conciliar dupla, tripla jornada), suporte de campanha e etc.

Campanhas sensibilizam, mas não garantem a permanência destas mulheres nesses espaços. Outro fator importante também é a violência política de gênero que vem se alastrando com força no país e colocando diversas candidatas sob estado de alerta: é preciso que os partidos pensem numa política de segurança efetiva para essas mulheres. Dentro do Psol, temos avançado nesse debate em algumas regiões, mas é preciso tornar isso algo prioritário até para a própria definição de candidaturas. Nos comprometemos desde já a encampar esse debate e torná-lo possível em termos de políticas públicas.

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Imagem: reprodução.

Quais os principais temas a serem debatidos, hoje, em Santa Catarina e no Brasil? Quais propostas você apresenta para pautá-los?

Bom, entendemos que os temas da transição energética, fomento de políticas de habitação, políticas voltadas à população de rua, agricultura familiar, combate ao racismo sobretudo na educação e na segurança pública, geração de emprego e renda como fundos públicos, garantia do aborto legal e seguro nas maternidades e hospitais estaduais, concurso efetivo para docentes e profissionais da saúde com piso reajustado, garantia de boas condições de trabalho no serviço público, garantia de equipamentos de cultura, lazer e arte para a juventude, contemplando o direito à cidade. 

Como você pretende atender as diferentes especificidades das mulheres, contemplando em seus projetos as mulheres negras, indígenas, lésbicas e mulheres trans?

Primeiramente, entendemos que é preciso estar em constante diálogo com elas. Temos dados que já demonstram suas realidades no estado, mas é preciso contatá-las, ouvi-las e pensar as políticas a partir dos territórios a fim de garantir a efetividade delas.   

Na sua opinião, quais questões mais graves afetam as vidas da população LGBTQIA+. Quais suas propostas para enfrentá-las?

Hoje, temos uma realidade que assombra nosso país que é a violência de gênero,  quando se tratando da população LGBTQIAPN+ isso toma uma proporção de menos cuidado por parte do poder público.

Queremos criar um dossiê específico que dê conta de identificar as realidades específicas, pautar o direito às políticas de saúde e educação com olhar particular para esse público, identificando as evasões nas unidades escolares, como também as garantias de acessos em unidades de saúde do nosso estado.

Tendo como parâmetro as necessidades desse público estadualmente e como elas se expressam nas periferias, atuaremos juntamente aos grupos sociais que constroem as pautas. 

E sobre as desigualdades raciais, quais suas propostas para superá-las?

Todas as nossas pautas têm como base a superação dos problemas sociais, econômicos, com o olhar racializado. Isso porque entendemos que não é possível construir uma sociedade antirracista e anticapitalista tendo o racismo como possível ou ainda, aliado. É preciso pautá-lo como fundante e/ou agravante de todas as questões que pretendemos nos debruçar e lutar para fomentar ou derrubar (em caso de retiradas de direitos).

Enquanto uma candidata feminista, como pretende atuar de forma a enfrentar os discursos reacionários que não admitem que as mulheres tenham autonomia plena sobre seus corpos, que acreditam na existência de uma “ideologia de gênero” e comprometem a implementação de políticas públicas, principalmente na área da educação, voltadas à equidade de gênero?

É preciso atuar com campanhas. Campanhas funcionam bem para sensibilizar o povo a respeito das mentiras que vêm sendo disseminadas em forma de ódio.

Posteriormente, queremos atuar com políticas voltadas à garantia da aplicação de leis já existentes (lei 10.639/03 e 11.645/08 com foco na garantia da educação sexual levando em consideração a realidade do nosso país, fundado sob a miscigenação forçada por meio de estupros). É preciso distribuir cartilhas de informes com dados explicativos que demonstrem a quantidade de meninas que perdem suas vidas diariamente simplesmente por serem mulheres.

Pouco se sabe também sobre o caso de abusos que ocorrem com meninos, é preciso ter esse olhar atento e descolonizado do debate de gênero pois quando somado à questão racial, o emblema toma um lugar ainda mais delicado para o debate e busca de soluções. É importante informar esses números, pois eles existem.  Educação sexual é uma pauta que abraçamos e queremos fomentar projetos juntos aos sindicatos e secretaria de educação para que medidas de proteção e de defesa pessoal sejam fomentadas  nesses espaços.

A sua plataforma política prevê o incentivo à participação da sociedade na discussão e elaboração de políticas públicas. De que forma?

Sim. Entendemos que é preciso criar elos entre a comunidade e o parlamento. Por isso, acreditamos nos formatos das assembleias, a fim de que cada município consiga acompanhar nossas propostas e atuação na ALESC, e possam debater conosco as decisões que defenderemos nas sessões. Isso já ocorre no formato do mandato coletivo da câmara municipal de Florianópolis. É muito importante que as assembleias ocorram com periodicidade razoável para evitar que os vínculos sejam fragilizados mediante a política institucional.

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