Dançar e mover poéticas cotidianas é o que propõe Letícia Coelho em seu primeiro álbum autoral. A compositora e multi-instrumentista mineira faz músicas como mergulhos em mundos possíveis, em brechas que podem ser abertas onde menos se espera. Também pesquisadora e brincante da cultura popular, Letícia traz a música de rua – rural e urbana – para o disco em diálogo com o rock e a música experimental eletrônica. A poesia atravessa sua narrativa e se faz em palavras e melodias que brotam e resistem: sempre vivas.
Brota será lançado gratuitamente no próximo domingo (25), às 20h, no Espaço Cênico 2 do CEART (Centro de Artes da UDESC), em Florianópolis. Uma hora antes do show serão distribuídas as senhas para o público.
Mais de 70 pessoas participaram do álbum, a maioria de mulheres: 15 instrumentistas e 41 nas vozes que brotam junto com a compositora. “A concepção do álbum parte da motivação da escuta de uma poesia completa, uma brincadeira musical em faixas que dialogam com sua biografia. O disco traz uma geografia da impermanência, ora festiva ora reflexiva, mas sempre propondo o movimento e o risco”, explica Letícia.
O disco foi produzido por Renato Pimentel e Letícia, que é responsável também pelos arranjos construídos em parceria com os músicos Tom Cykman e Mateus Romero, que a acompanham há dois anos, além da participação de convidadas/os.
O disco e o show contam com direção de arte, figurino e cenografia de Alice Assal, com execução da cenografia por Starllone Souza, luz de Louis Radavellli, som de Francis Pedemonte e produção executiva de Gika Voight. Vão dividir o palco com Letícia os músicos Tom Cykman (guitarra), Mateus Romero (baixo), Adriana Zapieri (bateria), Alexandre Lunnardelli (teclas), Osvaldo Pomar (percuteria), Big Jonh (tuba), George de Faria (trompete), Auélio Martins (trombone) e participações especiais.
Letícia conversou com o Portal Catarinas sobre o processo que deu origem ao Brota.
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Catarinas – Fale um pouco da sua trajetória como compositora, cantora e instrumentista.
Letícia: Criei-me na Zona da Mata mineira, em Amparo da Serra, e acho que herdei esse gosto pelas arteirices lá no interior, onde todo mundo acaba fazendo de tudo um pouco. Meu avô Deusy era babeiro e dentista, pensa só. Sempre brinquei de compor, de fazer rima, minha mãe trocava cartas com as primas só em versinhos, de brincadeira. Nas rodas de samba da família aprendi a tocar surdo com meu tio Rodolfo. Mais tarde, em 2004, quando estudei biologia em Viçosa, entrei firme no mundo da percussão, mais tocava que fazia o curso. Tocava no Bloco – grupo de percussão que ajudei a crescer – e nos apresentávamos junto com as Congadas da região e foi ali que começou meu contato com os mestres das tradições. Eles viraram meus professores. Mestres e Mestras de Maracatu, de Congada, de tambor de Crioula, de Cavalo Marinho, entre outros. Em Viçosa participei de festivais da canção com o grupo “Flor de batuque” e ganhamos dois deles. Em Floripa participei de alguns espetáculos de dança, de teatro, compondo e tocando, grupos de musica tradicional e decidi mostrar minhas músicas no Festival Sonora em 2016. Daí tive que assumir esse desafio de ser cantautora e instrumentista. O projeto cresceu, fomos em turnê pra Minas gerais no ano passado e esse ano estou brotando esse disco no mundo.
Catarinas – Como foi e tem sido desenvolver o seu primeiro álbum? A que lugares você espera que ele te leve?
Letícia: Foi a coisa mais legal do mundo! Porque só trabalhei com profissionais maravilhosas – elas foram a maioria, foram 15 instrumentistas das 28 pessoas que gravaram, a talentosíssima Alice Assal na direção de arte, as incríveis Letícia Ichnaz na fotografia e Isadora Machado na arte e ilustrações, além da participação por whatssapp de 41 mulheres. A produção musical junto com Renato Pimentel foi incrível. Renato é impecável, pessoa atenciosa e parceira demais. Teve um cuidado musical lindo com as composições e topou nas minhas ideias malucas. Espero que esse disco circule e brote em vários lugares.
Catarinas – O que te moveu e move neste trabalho autoral?
Letícia: O fazer. Criar, experimentar, compartilhar coisas que vivo, vejo e espero, com as pessoas. Fazer uma música cotidiana, com todas as surpresas boas e fracassos que podem surgir no dia de qualquer uma de nós.
Catarinas – De que forma a narrativa do Brota se conecta às mulheres que se unem a você neste álbum?
Letícia: Acho que a habilidade de sempre brotarmos, seja numa oportunidade fértil, seja na lama, ou numa duna arenosa e no final dançarmos tudo isso.
Catarinas – O que as pessoas podem esperar desse primeiro álbum e do show?
Letícia: É um convite pra conhecer minhas brotações e fazer parte delas. É um álbum que tem narrativas e abre portas inesperadas nelas. O show vai ter um tanto disso, com luz cenário figurino e surpresas.
Catarinas: Como você avalia a cena musical catarinense nos dias de hoje e nesse contexto como pretende difundir seu trabalho?
Letícia: Acho que Floripa é um berçário repleto de iniciativas legais que vem se fortalecendo e esparramando pelo mundo. Aqui tem uma cena incrível do rock, do samba, do choro, das batalhas MCs e eu tô no meio disso tudo.
Catarinas – Que reflexões e sensações o Brota pretende provocar?
Letícia: Pode ser de um tudo um pouco, como dizem em Minas. Mas que faz brotar faz.