— Oie, como está tudo por aí? vendo uma carinha triste do outro lado da tela. 

— E tem como ser diferente? A gente nem sabe o que fazer. Ver as notícias, ou não ver as notícias? Se indignar e comprar brigas, ou ficar quietinha pra não enlouquecer? É a vacina, a cloroquina, a falta de UTIs, a morte de pessoas conhecidas, as crianças e a escola, o home office, a higienização dos legumes depois da feira… não tem fim. Tô cansada e, pra piorar, me sentir cansada me traz culpa, porque eu sei que tem pessoas em situação mais difícil que a minha.

— …

— Pronto, fiz minha catarse e te joguei todo o meu “lixo”, como se você também não tivesse problemas. Acumulei mais uma culpa.

— Hei, calma. Respira. Com amigos é assim mesmo, a gente precisa se ouvir e se apoiar. O nosso cansaço está bem parecido, então esta conversa também me ajuda a pensar sobre mim mesma. Tem dias que eu fico entre “esganar” alguém ou fazer uma meditação… mas, cada vez mais, tenho vontade de esganar quem faz meditação😊.

— Hahaha, boa.  Sorte que eu medito longe de ti.

— Escuta, fiquei pensando naquela nossa última conversa sobre os serviços públicos que a gente usa com frequência e ás vezes nem se dá conta. Deu pra fazer uma listinha.

— Eu também. E de novo me senti culpada por ter “papagaiado” por tanto tempo que não precisava de serviços públicos.

— Acho bom reconhecer os erros, mas pode ser com menos culpa. 

— Eu começo com a minha lista: No dia a dia lembrei do acesso a àgua, energia elétrica, serviço de esgoto e coleta de lixo. 

— Impossível viver sem estes serviços, né? Nesta mesma linha eu acrescento vigilância sanitária. Prevenção e diminuição de riscos a nossa saúde na produção e distribuição de alimentos e medicamentos, nos transportes e lugares públicos, em instituições de saúde, nos locais de trabalho. O que achou? Falei bonito?

— Só falou. Junto tem a vigilância epidemiológica, que eu nem entendia bem pra que servia.  Fui pesquisar e vi que são atividades que acompanham as mudanças nas condições de saúde das pessoas com o objetivo de propor medidas de prevenção e controle. Total contexto COVID19.

— E você está ligada que vigilância sanitária e vigilância epidemiológica são parte do SUS?

— Siiiiim. SUS, meu amor, me perdoe por tanta ingratidão. Hehe!

— Os Serviços do SUS enchem folhas: o sistema de transplantes, toda a parte de doação de sangue, o programa de HIV/AIDS, o programa nacional de imunização, tratamentos de câncer e outras doenças graves, as várias campanhas de prevenção, atendimento de urgência e emergência, reabilitação…

— Programa de saúde da família… a atenção básica é muito esquecida e também precarizada, mas é a pedra fundamental do sistema. Eu recebo visita frequente da agente de saúde e ela agiliza todos os encaminhamentos necessários para a minha mãe que não tem plano de saúde. Na maioria das vezes o serviço que ela recebe é mais rápido e menos burocrático do que aquele que eu utilizo. Fora que o SUS trabalha prevenção e o plano de saúde não. 

— Eu não me conformo de a gente ter um serviço como o SUS e não defender com “unhas e dentes”. 

— Mas os serviços públicos não param no SUS. Minha mãe, por exemplo, frequenta as atividades para idosos do CRAS aqui do bairro e também recebe a aposentadoria pelo INSS. Eu fui entender um pouco este tripé lendo uma reportagem alguns dias atrás. O CRAS faz parte da Assistência e a aposentadoria da Previdência. Junto com a Saúde, eles formam a Seguridade Social. Depois disso, minha mãe ganhou o apelido de rainha da Seguridade. 

— A ideia de Seguridade é coisa de “primeiro mundo”, mas ás vezes parece que a gente só gosta de “primeiro  mundo” pros outros. ☹

— Fora isso ainda tem a parte da educação e da pesquisa científica. O nosso grande problema está na educação básica que precisa melhorar urgentemente. Precisa ter mais recurso para a educação básica.

— Sim, mas que fique claro que ampliar o recurso da educação básica, não é diminuir o recurso para as universidades e pesquisas. É aumentar tudo. 

— Claro. Isso mesmo. Eu fico pensando nos meus amigos que falam que pra classe média nunca sobra nada. Todos eles com filhos em universidades federais e vários com bolsas intercâmbios e de pesquisa.  

— Tem também o fomento à pesquisa agrícola através das Epagris e dos Ematers. Neste combo vem o fomento à segurança alimentar e à alimentação orgânica e com menos agrotóxicos. 

— E não dá pra esquecer a discussão do direito à moradia e à cidade. Esta casa tem financiamento público. 

— Esta casa aqui também. E com o direito a cidade a gente volta pro tema do saneamento básico e acrescenta acesso à cultura e ao lazer. 

— Serviço Público, Serviço Público. Se a gente tivesse tempo ficava o dia todo falando sobre isso. Mas chegou a hora da cidadã aqui fazer o almoço.

— Esta cidadã aqui também. 

— Obrigada pela conversa amiga. Me animou. Tem muita coisa boa neste país ainda. Bora pra luta. “Estamos machucados, mas dá pra curar as feridas.”

— E pra isso, por sorte, nós temos o SUS… rs

Leia também: Amiga, a gente precisa conversar…[2]

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