“Sabe o que acontece quando os Poetas Vivxs aparecem?
É só tiro de letra! Toma! Escurece!
Poetas Vivxs grita: Preto se empodere! Escurece!
Poetas Vivxs grita: Preta, erga o black!
Tem preto no sul! Preta no sul!
Deixa os black crescer
Deixa os black se armar
Quando o caso escurecer
Pretx aprenda a se amar
Deixa os “menó” crescer
Deixa os “menó” rimar
Dá um livro pra ele ler
Pra tu ver no que vai dar
Vai dar mais pretx na facul!
 Quem duvidou, tô aqui
Tem pretx no sul! Tem preta no sul!
Toma pra baixo
 Toma pra cima
Toma rajada de letra e de rima!”

O empoderamento negro presente na poesia de slam dos Poetas Vivos, coletivo da periferia de Porto Alegre (RS), dá o tom poético-político do 1º Festival de Literatura: PIPA – Pela Ilha Palavra Amplificada, que acontece em Florianópolis, durante três dias, do 30 deste mês a 1º de novembro. É a primeira vez que a capital catarinense sedia um festival dedicado à literatura. PIPA ocorre em diferentes espaços como o Agenda Centro de Artes Urbanas (Itacorubi), Fundação Badesc (Centro), IFSC (Centro), Colégio de Aplicação UFSC (Trindade) e Hostel On the Road (Campeche). A programação é gratuita, exceto a oficina de leitura criativa.

 

Nesta edição inaugural, o PIPA será centrado na poesia desenvolvida por coletivos, em grandes e médias cidades, no centro e na periferia, a maioria integrado por mulheres, muitas delas negras. O festival vai destacar a força da poesia marginal, das narrativas contemporâneas, do texto “papo-reto” e da rima dos guetos e centros. As questões sociais, de gênero e raciais serão temas presentes.

“É voltado para coletivos de arte em específico, mas também artistas que estão querendo transformar realidades”, explica uma das idealizadoras do PIPA, Juliana Ben, do Abrasabarca, coletivo de mulheres poetas.

Segundo Ben, o festival se propõe a ser um evento anual para promover a troca entre escritores, performers e artistas em geral, ampliando o repertório de possibilidades do fazer poético, um fazer que é escrito, mas também falado, gritado, cantado, publicado. A partir de debates, saraus, mostra de vídeo-poemas, oficinas, performances e slams, o festival busca aproximar a linguagem poética do público leitor.

“Não existe um festival de literatura em Florianópolis. As principais cidades do Brasil e do mundo têm festivais de literatura. Tivemos a oportunidade de conhecer e participar de alguns deles. […] Nos motivou esse desejo de trazer mais pessoas, fazer essa comunicação também da ilha, que acaba ficando isolada, com outras regiões do estado e lugares do Brasil. Por isso, estamos trazendo o Coletivo Poetas Vivos, de poesia de slam da periferia de Porto Alegre. Queremos fazer um diálogo maior, não só de Floripa com Porto Alegre, e de grandes cidades com o interior, mas também um diálogo entre o que está sendo produzido no centro e na periferia”, assinala a idealizadora.

Antídoto contra a violência

Na atual conjuntura política marcada pela censura e repressão institucional às artes e ativismos, o PIPA busca ser um espaço de fortalecimento por meio da troca de afetos entre os coletivos. “Estamos falando de coletivos de arte, poesia, mas ampliando para a coletividade das pessoas, da resistência perante as atrocidades deste governo e de outros que estão pairando pelo mundo. Tem uma outra dimensão que o PIPA quer suscitar que é a coisa da brincadeira, do lúdico, do festejo, como atos políticos para nos alimentar contra o que nos faz mal. A potência do afeto, do festejo, da alegria como antídotos contra as políticas de austeridade, autoridade e de violência”, afirma Ben.

A Oficina de leitura criativa “Mulheres Radicais: performance saberes do corpo” abre o Festival na próxima quarta-feira (30), das 13h30 às 17h30, no Think Art Tatoo, na Lagoa da Conceição. A ministrante Maiara Knihs é mãe, escritora, feminista, mestra em literaturas pela UFSC (2014). Atualmente pesquisa a produção artística contemporânea de mulheres latino-americanas no doutorado em Harvard. Inscrições podem ser feitas pelo e-mail [email protected]. Também no dia 30, ocorre o encontro festivo de abertura com performances surpresa às 19h, no mesmo local.

O Festival PIPA é um projeto independente, idealizado pelos poetas e produtores Demétrio Panarotto e Juliana Ben. Sem financiamento público ou privado, foi financiado parcialmente através de uma campanha colaborativa na plataforma Kickante. A realização conta com apoiadores/colaboradores locais, como o Hostel On the Road, Agenda e Think Art, Cervejaria Sambaqui, Espaço Agenda, Comunave, Desterro Cultural e Abrasabarca.

Juliana Ben, nascida das águas de março que fecharam o verão de 1983, é escritora, pisciana, poeta, feminista, performer, produtora cultural, antropóloga, professora e dizedora de poesia. Autora dos livros Te encontro nas minhas linhas em branco (Editora Artesanal Alpendre, 2012), Preia-mar (Penalux, 2018), Abrasabarca (Medusa, 2018) e Revoluta (Caiaponte, 2019) é também colaboradora/autora da Revista SubVersa e integrante do Coletivo Abrasabarca. Natural de Porto Alegre, RS, vive em Florianópolis.

Demétrio Panarotto é doutor em Literatura (UFSC) e professor universitário (Unisul). Músico, poeta, escritor e idealizador do programa Quinta Maldita (na webrádio Desterro Cultural).  Publicou, dentre outros Blasfêmia, “18 Versos para o funeral de Demétrio Panarotto” [Papel do Mato Oficina Tipográfica,2018, poemas], “Tratamento da Imagem” [Patifaria, 2018, conto]; “Lotação” [Medusa, 2018, poemas] Vozes e Versos [Martelo Casa Editorial, 2019, poemas, com Ana Elisa Ribeiro e Marcelo Lotufo].

Programação do 1º Festival Pela Ilha Palavra Amplificada

30/10 quarta-feira
13h30-17h30 – Oficina de leitura criativa “Mulheres Radicais: performance saberes do corpo”, com Maiara Knihs. Inscrições pelo e-mail: [email protected];
Local: Think Art Tatoo (Avenida Afonso Dalembert Neto, 659, Lagoa da Conceição);
19h – Encontro festivo de abertura do PIPA com performances surpresa;
Local: Think Art Tatoo (Avenida Afonso Dalembert Neto, 659, Lagoa da Conceição);

31/10 quinta-feira
10h-12h – Bate-papo com o coletivo Poetas Vivos na Confraria Literária
Mediação/Apresentação Arlyse Ditter;
Local: Colégio de Aplicação (UFSC);

14h30-17h – Bate-papo “Poesia no coletivo: escrever, publicar e falar”
Convidadxs: Felipe Deds (Poetas Vivos – Porto Alegre-RS), Ariele Louise (Abrasabarca, Florianópolis-SC), Carolina Nova Cruz (Coletivo Oco/UFSC) e Cristiano Moreira (Papel do Mato, Rodeio-SC). Mediação/Apresentação Artur de Vargas Giorgi e Demétrio Panarotto;
Local: Sala 247 CCE/UFSC
17h30 – Performance Poetas Vivos no Experimenta
Local: Reitoria UFSC;
19h – Sarau Quinta Maldita especial PIPA
19h – Lançamento do livro Imagens da Madeira (tipografia) de Cristiano Moreira
Local: Hostel On the Road Campeche (Servidão Família Nunes, 76 – Campeche);

01/11 sexta-feira
10h – Performance no Calçadão da Felipe Schmidt
Local: Rua Felipe Schmidt, Centro;
12h-13:30 – Oficina Terrorismo Lírico com (Poetas Vivos)
Local: IFSC – Campus Florianópolis-SC (Av. Mauro Ramos, 950 – Centro);
14h45 – Mostra videopoemas PIPA;
15h15-17h15 – Bate-papo “Poesia, palco e ritmo” com Alice Souto (Coletivo Manivas Chapecó-SC), Agnes Mariá (Poetas Vivos, Porto Alegre-RS) e Ida Mara Freire (Florianópolis-SC). Mediação/Apresentação Juliana Ben
Local: Fundação Badesc (R. Visconde. de Ouro Preto, 216 – Centro);
19h – Festa de Encerramento com SLAM Poetas Vivos
Local: Agenda Centro de Artes Urbanas (Rod. Admar Gonzaga, 967 – Itacorubi).

Acompanhe as atualização no Instagram do Pipa: @pipa_festival. Dúvidas por e-mail: [email protected].

 

 

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  • Paula Guimarães

    Paula Guimarães é jornalista e cofundadora do Portal Catarinas. Escreve sobre direitos humanos das meninas e mulheres. É...

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