Por Lidia Schneider Bristot*.

Vivemos em uma época em que a universidade pública é atacada. Estudantes universitários são acusados de balbúrdia, nudez e esquerdismo. Sabemos que essa ideia, exemplificada na fala do ex-ministro da educação, Abraham Weintraub, mas infelizmente cada vez mais popular, carrega um projeto político de extrema direita. Projeto que visa não só controlar nossos corpos moralmente a partir da religião, como também interditar qualquer possibilidade de desenvolvimento técnico e científico nacional.

Porém, além disso, essa fala carrega algo de verdade e, por isso, é também tão facilmente aceita por parte da população. A universidade é, historicamente, um espaço de ampliação de horizontes, de descobertas, de entrar em contato com um mundo diferente do que se conhecia. A universidade é um espaço de liberdade.

Por isso, tantas e tantas mulheres iniciaram seu envolvimento político no movimento estudantil, como aponta episódio sobre o tema do webdocumentário Mulheres de Luta. É a partir desse local tão comum na juventude, o de estudante, que muitas mulheres encontraram a possibilidade de atuar politicamente pela primeira vez.

Nas pesquisas realizadas pelo Laboratório de Estudos de Gênero e História da UFSC damos conta de que uma ampla parte das mulheres ativistas entrevistadas iniciaram sua atuação no movimento estudantil. Fruto também de mudanças ocorridas nas décadas de 1960 e 1970, em 1956 elas eram 26% dos estudantes universitários, e em 1971 chegaram a 40%.

A expansão universitária no país incentivou o acesso às mulheres ao ensino superior, ainda que se concentrassem em cursos tidos como “femininos”, como é o caso de Enfermagem, Serviço Social, e em cursos que servem a formação para o magistério secundário, como Letras, História, Geografia, Ciências Sociais e Pedagogia, estes últimos com intensa discussão política em seus currículos.

É no espaço universitário e jovem que podemos perceber a primeira vinculação de muitas mulheres com o fazer político, com a liberdade de ação, com, como narra a primeira entrevistada, com a descoberta de que talvez ela seja comunista. É o lugar privilegiado de jovem estudantes, muitas longe da família pela primeira vez e, ainda, sem as amarras da vida adulta (casamento, filhos, trabalho fixo) que muitas mulheres vão descobrir no movimento estudantil o caminho de luta onde laços de amizade, solidariedade e liberdade são construídos.

Qualquer um que tenha como projeto destruir qualquer possibilidade de liberdade e igualdade social vai chamar isso de balbúrdia, não?

Para animar a luta atual, convido a se inspirar nas memórias das mulheres no movimento estudantil, episódio 18 do webdocumentário Mulheres de Luta.

Assista ao episódio:

https://www.youtube.com/watch?v=dfPoLMclGIE&t=63s

Clique aqui para acessar o webdocumentário Mulheres de Luta completo.

Ficha técnica:
Roteiro: Lidia Schneider Bristot
Edição: Marina Moros

*Lidia Schneider Bristot é mestre em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e integrou o Laboratório de Estudos de Gênero e História (LEGH/UFSC) de 2011 a 2018. É Professora de História no rede municipal de educação, mãe, feminista e anarquista.

Edição de Morgani Guzzo.

O jornalismo independente e de causa precisa do seu apoio!


Fazer uma matéria como essa exige muito tempo e dinheiro, por isso precisamos da sua contribuição para continuar oferecendo serviço de informação de acesso aberto e gratuito. Apoie o Catarinas hoje a realizar o que fazemos todos os dias!

Contribua com qualquer valor no pix [email protected]

ou

FAÇA UMA CONTRIBUIÇÃO MENSAL!

Últimas