Por Juliana Maués

Neste Dia de Luta das Trabalhadoras e Trabalhadores (1º de maio), a pedagoga Juliana Maués faz um relato sobre as dificuldades de conciliar a maternidade com o trabalho remoto durante o confinamento social.

A sobrecarga e a jornada tripla de trabalho são velhas conhecidas e parte da realidade das trabalhadoras/mães, que tem se visto obrigadas a fundir e confundir os espaços. Já não sabemos mais se trabalhamos em casa ou se vivemos no trabalho. Em tempos pandêmicos e desgovernados, me equilibro ainda em reconhecer privilégios e buscar formas de lutar por dignidade.

Me chamo Juliana Maués, tenho 34 anos, sou mulher, pedagoga – orientadora educacional no Colégio de Aplicação da UFSC, mãe da Maitê (12 anos) e do Gael (1 ano) e há seis meses retornei ao trabalho em home office. Ser uma profissional da educação no contexto do ensino a distância não é só desafiador, mas, frustrante e exaustivo. Atualmente me vejo engolida na tentativa de separar espaços que muitas vezes me parecem inseparáveis, sou mulher/mãe/trabalhadora da educação, tudo isso misturado ou talvez eu já nem lembre mais quem eu sou.

A tal jornada de trabalho de 40 horas semanais perdeu contornos e limites, as reuniões pedagógicas, conselhos de classe e atendimentos a estudantes e famílias que eu costumava organizar dentro de 8 horas diárias, três horas no período matutino e cinco horas no período vespertino, agora acontecem diluídas em qualquer tempo possível durante o dia, com o bebê no colo, amamentando, com panelas no fogo, e até acompanhando de forma síncrona a aula remota da minha filha mais velha.

Ser Pedagoga é parte importante do que me constitui. Estar presente no espaço escolar no fazer educativo me motiva a lutar por igualdade e justiça social, porque tenho convicção que a educação básica não é só um direito fundamental mas também caminho para a transformação social, cultural e possibilidade de construção da dignidade dos indivíduos.

Ter domínio sobre o conhecimento e acesso ao conteúdo historicamente construído empodera, vejo isso todos os dias em meu trabalho que é, muitas vezes, conversar com as crianças, adolescentes e suas famílias, olhar nos olhos e buscar juntos a superação das dificuldades no processo de ensino aprendizagem; orientar e ajudar a dar sentido à escola como espaço físico, na socialização com os colegas, no olhar para as diferenças.

Como fazer isso através do computador e do celular? Como dizer para ter força, esperança, para acordar, organizar a rotina, achar um lugar para estudar, quando muitas (e na maioria das vezes) eu sequer consigo estar sozinha para trabalhar? Os estudantes do Colégio de Aplicação também estão confusos com os seus lugares e espaços de ser estudante.

A busca por sobrevivência e empatia é o que me move e me faz lavar o rosto pela manhã, dar o café das crianças e ligar o computador. Entre uma reunião e outra, peço paciência e digo que estou com o bebê, tento distraí-lo com brinquedo ou um desenho, ou aguardo os intervalos e soninhos para acolher estudantes que, como eu, se sentem perdidos e buscam meios de fazer o que é possível.”

Vivo com meu companheiro que é trabalhador da saúde e precisa sair e enfrentar as ruas; desde o início da pandemia convivemos com o medo e com o caos dentro de casa. A nossa rede de apoio somos nós dois, não temos família próxima e nem colocaríamos ninguém em risco, vamos nos virando e ajustando o quanto dá. Tentamos fazer uma divisão justa das tarefas de casa mas, fato é que escolhemos nossas batalhas e as coisas em casa se acumulam para que a gente possa respirar e aproveitar nossa família saudável.

Falo de reconhecer privilégios porque posso e fico em casa trabalhando em home office, acumulo jornada tripla, quádrupla, frustrada, cansada porém convicta de que é o certo pela segurança do emprego estável e saúde da minha família. E é por cada mãe trabalhadora, por cada mãe solo que precisa se virar em força e coragem pois não pode deixar de ir para a rua trabalhar, é por cada mãe, mulher, que ainda busca por condições justas de existência e resistência que eu faço da maternagem e da Educação meu lugar político de amor e de luta.

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