A Mandata Bem Viver é uma candidatura coletiva composta por seis mulheres que trazem consigo uma trajetória de militância social, atuando em áreas como ecossocialismo, direitos indígenas, e lutas comunitárias. Liderada por Cíntia Mendonça, a candidatura busca a reeleição na Câmara Municipal de Florianópolis pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol), defendendo uma política pautada na agroecologia, justiça social e participação popular. Integram ainda a liderança do Maciço do Morro da Cruz Janaína Barbosa, a advogada popular Ariadne Teles, a indígena Laura Parintintin, a dominicana Arianide Jean-Baptiste e a militante ecossocialista Anajara Moura.

Mandata Bem Viver é a vigésima candidatura a responder ao questionário proposto pelo Catarinas para divulgar as candidaturas comprometidas com a agenda política feminista, antirracista, LGBT inclusiva e anticapacitista em Santa Catarina. As entrevistas são publicadas diariamente por ordem de chegada. Dado o volume de respostas recebidas, vamos publicar mais de uma entrevista em determinados dias. 

O questionário foi dividido em cinco eixos temáticos, abordando questões centrais para a análise das candidaturas:

Acompanhe a entrevista com a Mandata

Perfil

Resuma sua trajetória de vida/militância e o que a motivou a disputar estas eleições.

Cíntia Mendonça.

Porta-voz da Mandata Bem Viver, é mãe, avó, mestra em Administração Pública e militante ecossocialista pelo Bem Viver. Foi coordenadora do Fórum de Políticas Públicas de Florianópolis, conselheira estadual de Segurança Alimentar e Nutricional e conselheira municipal de Assistência Social de Palhoça e Florianópolis.

Iniciou sua militância política na defesa das águas e dos direitos da natureza, tendo participado da Aliança Ecossocialista Latino-Americana (AELA). É uma das fundadoras do movimento social Bem Viver. Em 2011, ao ingressar numa organização de assistência social que atuava com 300 crianças e adolescentes em quatro comunidades de vulnerabilidade social na grande Florianópolis, deu início a sua participação na construção de políticas públicas sociais, o que a levou a se filiar no PSOL em 2016 e participar da construção de um programa de governo ecossocialista.

Janaína Barbosa 

Moradora do Maciço do Morro da Cruz, mãe de 4 filhos, atuou como liderança comunitária e é uma lutadora pelos direitos das periferias e morros de Florianópolis. Foi diarista e cozinheira, chegando a trabalhar na limpeza de gabinetes da Câmara Municipal. Estudante de Administração Pública na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), conselheira local de Saúde da Agronômica e militante do Movimento Bem Viver.

Umbandista, luta pelo combate à discriminação contra religiões de matriz africana. Também é mãe atípica e luta pelos direitos das pessoas com deficiência, com foco no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Começou sua luta em assentamentos de reforma agrária no Rio Grande do Sul, depois passou a integrar organizações comunitárias nas comunidades de Florianópolis se tornando co-vereadora da Mandata Bem Viver.

Arianide Jean-Baptiste 

Migrante dominicana, mãe de 3 filhos, foi criada no Haiti e mora há 8 anos em Florianópolis. Turismóloga e estudante de Relações Internacionais, luta pelos direitos dos povos em movimento, sendo uma importante liderança e articuladora, realizando atendimento à população imigrante no Centro Comunitário pelo Bem Viver, referência neste serviço em Florianópolis.

Ao chegar no Brasil, enfrentou grandes dificuldades para acessar serviços e direitos básicos, especialmente pela ausência de políticas públicas eficazes para atender a população migrante refugiada. Em resposta às dificuldades, começou a atuar em prol dos direitos da comunidade migrante, posteriormente se organizando junto com o Movimento Bem Viver, tornando-se covereadora e criando o serviço de atendimento no Centro Comunitário pelo Bem Viver.

Laura Parintintin 

Mulher indígena do povo Parintintin, é mãe e avó. É estudante de Ciências Sociais e uma das representantes do Movimento Maloca UFSC, que luta pela permanência indígena na universidade, também travou a luta pelo direito das mães estudantes.

Veio para Santa Catarina por conta das ações afirmativas que já estavam sendo feitas na UFSC. Ao chegar no estado, viu de perto o que era o racismo e a falta de políticas de permanência específicas para indígenas, não só na universidade mas também na cidade, e isso a motivou a somar na luta junto de outros parentes.

Ariadne Teles 

Moradora do Sul da Ilha, nortista vivendo no Sul, é co-fundadora do Movimento Bem Viver. Feminista e advogada popular, iniciou parte de sua atuação em 2018 através da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RO, onde contribuiu na defesa de territórios indígenas e participou de missões internacionais de averiguação de direitos humanos em assentamentos de agricultura familiar, vítimas de violência pela milícia latifundiária na fronteira com a Bolívia.

Sua experiência na luta por justiça social, em defesa dos povos originários e atuação em causas globais, como a coordenação da Freedom Flotilha em apoio à Palestina, fortaleceu seu compromisso em fazer parte do mandato coletivo, representando suas lutas. 

Anajara Moura

Moradora do Norte da Ilha, é militante ecossocialista, professora e estudante de Ciências Sociais. Articuladora pelo Bem Viver através da transição ecológica e em defesa das águas. Luta pelo Rio Vermelho Vivo e pela emancipação das mulheres em seus territórios.

Começou a se organizar no Movimento Bem Viver através do Mutirão do Bem Viver em resposta à pandemia. Decidiu somar na luta por ver que não existe outra saída para barrar a crise climática e social sem ser a organização popular.

Quais personalidades políticas são suas referências?

Alexandra Kollontai, Luiza Mahin, Rosa Luxemburgo, Rosa Parks, Lelia Gonzalez, Dandara, Nise da Silveira, Margarida Alves, Petra Herrera, Comandanta Ramona, Blanca Canales, Angela Davis e Txai Suruí.

Apoio e financiamento

Você tem conseguido verba para a campanha? Quais?

Sim. Apoio e recursos do partido, financiamento colaborativo e doações diretas.

Você enfrenta desafios para arrecadar os recursos necessários para sua campanha? Se sim, quais são os principais?

Sim. Nossa candidatura recebeu uma verba muito menor do que prevíamos por conta da dinâmica interna partidária. Nossa chapa é composta por seis mulheres de luta e trabalhadoras! Não acessamos a alta classe da sociedade e por isso não recebemos doações milionárias como outras candidaturas. Nossos apoios vêm dos territórios, não de super ricos, nesse sentido já ficamos em desvantagem perante aos outros.

Qual é a importância do financiamento coletivo para a viabilidade de sua candidatura?

O financiamento coletivo é uma das bases do nosso financiamento! Cada doação é extremamente importante para garantirmos que nosso material de campanha possa ser diversificado e que possa chegar em todos os cantos da cidade!

Propostas

Quais são os principais temas a serem debatidos no município e suas propostas para cada um?

O formato do nosso mandato coletivo é abranger diversas pautas e lutas!

Durante os últimos quatro anos, lutamos em defesa da água como bem comum propondo o Programa Nascente Comunitária para proteger e recuperar nascentes, fizemos propostas de água potável gratuita em grandes eventos e espaços públicos, e do reconhecimento dos direitos da natureza na Lagoa da Conceição. 

No campo da agroecologia e do clima, apoiamos a construção de hortas urbanas e a gestão comunitária de resíduos,  propomos uma política municipal de agricultura urbana e periurbana e a inclusão de educação climática nas escolas. 

Em defesa dos povos indígenas e saberes tradicionais, conseguimos incluir a Semana Municipal dos Povos Indígenas no calendário da cidade e buscamos assegurar o direito das parteiras tradicionais a emitir Declaração de Nascidos Vivos (DNV). 

Na luta feminista, construímos a lavanderia popular dos Territórios Coletivos do Bem Viver, propomos uma política de enfrentamento à violência política de gênero e raça, e instituímos o Dia Marielle Franco para combater a violência política contra mulheres negras, LGBTQIA+ e periféricas.

Para os próximos quatro anos, queremos seguir lutando no combate à exploração, às opressões e à destruição da natureza. Para isso, vamos lutar por: 

  • Abertura de novos concursos públicos;
  • Redução da carga horária para 30 horas semanais sem diminuição salarial;
  • Ampliar a licença de trabalho por nascimento ou adoção de crianças;
  • Fortalecer cooperativas e a economia solidária;
  • Pressionar a construção da Casa de Passagem Indígena;
  • Lutar pela legalização dos terreiros;
  • Criação de creches em tempo integral;
  • Estabelecimento de um Centro de Apoio a Imigrantes;
  • Centro de apoio a mulheres vítimas de violência;
  • Ampliar as cotas raciais para negras e indígenas;
  • Implementar o ensino de Libras nas escolas básicas;
  • Garantir a inclusão escolar de pessoas com TEA e PCDs;
  • Assegurar saúde integral para pessoas trans e LGBTQIAPN+;
  • Revisar o Plano Diretor de forma participativa;
  • Fiscalizar o cumprimento das leis do Marquito sobre compostagem e zonas livres de agrotóxicos;
  • Lutar pela Tarifa Zero no transporte público;
  • Ampliar as ciclovias;
  • Promover o saneamento ecológico;
  • Regenerar áreas degradadas com agrofloresta;
  • Construir um plano municipal de manejo das águas pluviais.

Quem forma sua base eleitoral? Quais são suas mensagens centrais? E seu slogan de campanha?

Por sermos um mandato coletivo que abrange tantas lutas, nossa base social é composta por pessoas de diversas pautas e territórios. Queremos construir um governo em que o povo mande e o governo obedeça! Por agroecologia, participação social e construção do poder popular, pelos direitos humanos e da natureza!

Tem propostas para promover a igualdade de gênero, LGBTQIA+ e racial no âmbito municipal? Se sim, quais?

Sim. 

Combater o racismo:

  • Incentivo a políticas municipais de Igualdade Racial, de valorização da cultura negra, indígena e quilombola, educação antirracista e combate à violência racial em todos os setores; 
  • Política de Cotas Municipais: garantir a ampliação de cotas para negras e indígenas no funcionalismo público municipal; 
  • Lutar por ações preventivas na Segurança Pública a partir de uma lógica de guarda municipal comunitária e da justiça restaurativa para que possamos valorizar nosso maior patrimônio que são as pessoas; 
  • Lutar por uma Floripa livre de Apartheid: vedar que a administração pública faça contratos e licitações com empresas envolvidas em graves violações de direitos humanos; 
  • Incentivar a organização de coletivos palestinos e facilitar o acesso a espaços públicos e culturais para a realização de atividades políticas, culturais e sociais em defesa da liberdade do Povo Palestino;
  • Garantir acesso a políticas de Saúde Mental para Refugiados Palestinos: Ampliar a oferta de serviços de saúde mental para a comunidade palestina, considerando o histórico de traumas relacionados ao deslocamento forçado e conflitos; 
  • Por liberdade religiosa! Pela garantia do fortalecimento da legalização de terreiros e apoio às intervenções na cidade, como caminhadas, rodas, feiras e encontros.

Contra toda desigualdade e violência de gênero:

  • Lutar pela integração e fortalecimento da Rede de Acolhimento para mulheres vítimas de violência em Florianópolis, com a construção de casas de acolhimento e suporte psicológico e jurídico integral, como a Casa da Mulher Brasileira;
  • Atuar na Política Restaurativa para evitar a reincidência da violência contra as mulheres cometidas pelos seus parceiros; 
  • Atuar pela garantia dos direitos reprodutivos e pelo direito ao Centro de parto natural para ampliar o acesso a todas as pessoas que gestam e que queiram ter seu parto da forma com menos intervenções médicas, retomando a lógica dos partos tradicionais;
  • Apoiar e fortalecer rede de mulheres contra o patriarcado, buscando ampliação da participação com apoio orçamentário do município e cobrando a implementação do plano municipal para as mulheres elaborado pelo Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres ( COMDIM). 

LGBTQIAPN+:

  • Inclusão da Saúde Integral para Pessoas LGBTQIAPN+ no Sistema Único de Saúde (SUS) municipal, com especial atenção para a população trans e não-binária;
  • Garantia de vagas específicas para população LGBTQIAPN+ nos programas de habitação popular;
  • Empregabilidade e educação trans: cotas para travestis, mulheres transexuais, homens trans, intersexos e pessoas não binárias no serviço público e nas universidades, com elaboração e fortalecimento de medidas para assegurar a retenção de estudantes LGBTQIAP+, principalmente trans e travestis;
  • Ampliação do número de casas de acolhimento à população LGBTQIAP+ em situação de rompimento de vínculo familiar;
  • Estabelecimento e fortalecimento dos Ambulatórios Trans e de toda a rede necessária para seu efetivo funcionamento, garantindo saúde integral para a população trans assistida pelo SUS;
  • Fiscalização da política Municipal para população LGBTQIAPN+, buscar orçamento do executivo para sua aplicação.

Você tem propostas relacionadas à política do cuidado? Se sim, quais?

Sim. Creches Noturnas, educação em tempo integral e restaurantes comunitários públicos, como parte de uma política de socialização do trabalho doméstico e de cuidado. Criação de lavanderias populares e comunitárias, como feito no Centro Comunitário pelo Bem Viver da Região Central, espaço pensado para diminuir a carga de trabalho doméstico que recai sobre mulheres em situação de vulnerabilidade social. 

Por cidades anticapacitistas: promoção das cidades e suas ruas para todas as pessoas, com acessibilidade universal, uso misto, serviços e equipamentos na proximidade dos locais de moradia. Instituir a Política voltada para População em Situação de Rua, a partir dos programas de Moradia Primeiro e na lógica da Redução de Danos, contra criminalização e aporofobia.

Ampliação da licença de trabalho por nascimento ou adoção de crianças. Promover políticas públicas do cuidado e de compensação do cuidado materno. Buscar promover política pública de licença paternidade ampliada para que os cuidados com as crianças nascidas ou adotadas pelas famílias sejam compartilhados.

Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários

Como pretende enfrentar discursos reacionários que comprometem a equidade de gênero e racial, especialmente na educação?

Investindo em formações para professoras/es, diretoras/es e coordenadoras/es, ampliando o debate público e pensando a criação de redes de apoio dentro das escolas.

Como avalia a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas municipais? 

Necessária! Na atuação da Mandata Bem Viver, nossa construção se dá através de assembleias e conferências populares. Além disso, sempre solicitamos audiências públicas e reuniões ampliadas dentro da Câmara Municipal para garantir a participação popular na tomada de decisões sobre os rumos da cidade.

Sua plataforma propõe formas de ampliar a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas? Se sim, como?

Sim. Manter nosso gabinete aberto à população, seguir as construções nas bases garantindo assembleias e plenárias populares temáticas e territoriais! Compartilhando e socializando informações e pautando as agendas e debates públicos!

Qual o papel das minorias políticas na transformação dos serviços de saúde e educação municipais?

É de extrema importância que esses espaços sejam ocupados por essas pessoas para desenvolver políticas adaptadas às necessidades específicas das comunidades socialmente marginalizadas.

Violência política e desinformação

Já sofreu ataques, incluindo intimidação, durante a sua trajetória devido à sua agenda política? Em caso positivo, pode compartilhar algum caso?

Sim. Infelizmente, mandatos de mulheres são alvos de diversos ataques, ainda mais quando pertencem ao campo de esquerda. Um dos casos recentes foi o pedido de uma vereadora bolsonarista pela cassação do nosso mandato no Conselho de ética da câmara quando estávamos defendendo outra companheira parlamentar que havia sido vítima de assédio por parte de outro vereador.

Nesta campanha, sofreu ataques nas redes sociais ou nas ruas? Se sim, quais?

Sim, nas ruas, houve um caso em que um homem tentou rasgar nossa bandeira em um evento em praça pública. Além disso, em algumas atividades de campanha fomos intimidadas pelos funcionários da “ordem pública” terceirizados pela Prefeitura de Florianópolis, que tentaram nos impedir de fazer campanha em locais públicos.

Sua candidatura tem sido alvo de desinformação? Se sim, como?

Sim.

Tem ações específicas para combater a desinformação? Se sim, quais?
Sim. Nessa campanha, para combater a desinformação, estamos lançando em nosso site uma plataforma de combate à fake news em que apresentamos a realidade a respeito daquilo que falam de nós.

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