Presidente do Brasil repetiu na ONU o que sempre faz por aqui: descreveu um país que só existe na mente doentia dele

O Brasil descrito por Jair Bolsonaro, há algumas semanas na 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, revelou um país que navega em águas tranquilas, mas que, acreditem, só existe na cabeça do presidente.

Pelo tom fantasioso, a fala de 12 minutos na abertura da reunião dos principais líderes mundiais causou estranheza entre os que conhecem minimamente o país e, claro, muito repúdio por parte de quem vive aqui. Afinal, representou uma sequência de mentiras.

Não bastasse a vergonha que ele passa internamente, quando defende o tratamento precoce contra Covid-19 e combate a política de isolamento social para conter a pandemia, Bolsonaro fez questão de escancarar isso para o mundo. Revelando-se como verdadeiramente é. 

E foi muito além. Falou de uma Amazônia intocada, quando, sabemos, segundo dados recentes divulgados pelo MapBiomas, o desmatamento cresceu 13,6% no ano passado nos seis biomas brasileiros, uma área nove vezes maior que a cidade de São Paulo. Desse total, 61% estão na Amazônia.

Sobre os índios, Bolsonaro ignorou a questão do marco temporal – discussão que está no Supremo Tribunal Federal (STF) e pode significar um retrocesso na demarcação das terras indígenas. 

O show de maldades não parou aí. Ele faz pouco da devastação do meio ambiente, da invasão das terras indígenas por grileiros e por mineradoras, e ignora até mesmo que o Auxílio Brasil nem de longe atende a população ou os critérios definidos pelo STF para criar uma renda básica universal para quem vive na pobreza e extrema pobreza no país.

Ao falar do auxílio emergencial anunciou ao mundo que pagou $800 dólares aos brasileiros em condição de vulnerabilidade. Outra mentira! Falou como se esse fosse o valor de benefício e escondeu que, quem ficou próximo desse patamar, foi quem recebeu as nove parcelas do auxílio em 2020. 

Ele desconsiderou todos os desligamentos, cancelamentos irregulares, pagamentos indevidos e, especialmente, que nunca foi favorável aos R$600. Falou dos 800 dólares como se fosse uma realidade para os mais vulneráveis do nosso país, mas na realidade poucos ficaram próximos desse patamar. A grande maioria precisou se arriscar nas ruas para tentar sobreviver com a mínima dignidade.

Na verdade, o discurso de Bolsonaro na ONU foi para o seu cercadinho de adeptos – do Brasil e do mundo que dão ouvidos a falas, como a dele, que flertam perigosamente com o autoritarismo, o genocídio, a eugenia e tudo o que de pior a humanidade tenta expurgar há séculos. 

Para quem não se recorda, a eugenia foi um conceito criado na Inglaterra, no século XIX, e se difundiu especialmente pelos Estados Unidos e Alemanha. Embora fosse disfarçado de conceito científico, pretendia “melhorar” geneticamente a população. Na prática, queria excluir da sociedade tudo que era feio e diferente para os padrões eugenistas, obviamente. Assim, estimulava a criação de uma raça superior, geneticamente pura. 

Mas o que esperar de um governo que não gosta de números, de pesquisas e de ciência? E não aprecia nem respeita o seu povo? Ele desarticulou, à medida que negou investimentos, os órgãos oficiais de mapeamento do meio ambiente e da sociedade, a exemplo do INPE e do IBGE, só para citar dois exemplos. 

Em seu discurso na ONU, como em tantos outros que se repetem cada vez que ele tem uma oportunidade, Bolsonaro sempre revela ao mundo o que nós estamos cansados de conhecer: um presidente belicoso, com pensamento estreito e equivocado, mas extremamente perigoso. Fiquemos atentos.

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  • Paola Carvalho

    Assistente social, especialista em Gestão de Políticas Públicas na perspectiva de gênero e promoção da igualdade racial,...

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