Nesta sexta-feira que antecede a Páscoa, enquanto muitas pessoas fazem jejum ou deixam de comer carne por questões religiosas, uma imensa maioria não tem o que comer. 

Levantamento recente, divulgado no fim do mês de março, pelo Data Favela e pelo Instituto Locomotiva revela que 97% dos moradores das comunidades brasileiras tiveram suas vidas alteradas com a Covid-19. Desse total, a estimativa é de que 86% passem fome por conta da pandemia, que cortou empregos, renda e perspectivas de vida.

Para a/o morador/a de uma comunidade nessa situação só há duas escolhas: morrer na miséria ou arriscar sua vida para arranjar um bico qualquer e, quem sabe, voltar para casa infectado pelo coronavírus.

Enquanto a pandemia avança fazendo vítimas, o governo se mantém impassível diante dos números da fome, da doença e dos hospitais sobrecarregados, sem estrutura, sem medicamentos para anestesia, sem oxigênio. Por isso, não é incomum encontrar pesquisadores sérios que comparam o período que vivemos com um estado de guerra. Mas essa guerra só terá perdedores.

Aproximadamente, 1/3 da população hoje precisa de uma renda básica emergencial digna, que permita comprar o mínimo para sobreviver. Enquanto isso, o governo aprova um teto de R$ 44 bilhões, que deixará 24 milhões de brasileiras/s fora da nova rodada do auxílio emergencial no momento mais crítico da pandemia, quando as doações se tornam escassas e a comida falta no prato de milhares.

Sob a falácia do ajuste fiscal e sem reconhecer o tamanho da crise que vivemos, o governo continua empurrando a população para o abismo dos que perderam tudo… até a esperança.

Sem vacina, sem auxílio digno, com mortes ocorrendo em proporção e velocidade assustadoras, já somos considerados os párias do mundo. Enquanto isso, acompanhamos países que decretaram lockdown sem receio, mas injetam recursos na compra de vacinas para imunizar a população e prestam apoio financeiro a quem precisa, combatendo o vírus e a falta de comida.

Para os negacionistas e para o governo, promover uma nova rodada do auxílio de R$ 600 e R$ 1200 para mães-solo é impossível do ponto de vista fiscal. Impossível também enxergar que a vacina, aliada ao lockdown e a um valor digno, pode ajudar o país a se recuperar economicamente. Até porque outras pesquisas realizadas já mostraram que o benefício é usado majoritariamente para comprar comida. Dos que receberam o benefício no ano passado, 53% o usaram para comprar mantimentos. E esse valor investido no comércio estimula a economia local e faz o pequeno comerciante sobreviver.

Mas o valor que este ano será possível com o teto de R$ 44 bilhões não vai tirar as pessoas da pobreza nem vai levar alívio para quem mais precisa. Estudo recente do Insper, feito por Naercio Menezes Filho e Bruno Komatsu, publicado pela BBC News Brasil, mostrou que os R$ 250 que serão pagos, na nova rodada, a partir de abril, não são suficientes para suprir as necessidades primordiais em nenhum estado brasileiro.

Em abril de 2020, quando começou a ser concedido, o valor de R$ 600/mês equivalia a 125,44% da cesta básica. Permitia comprar todos os itens de alimentação e ainda deixar uma sobra para outras despesas fundamentais. De outubro a novembro, com a redução do benefício à metade, esse valor passou a cobrir apenas 56,1% do valor dessa mesma cesta.

Agora, com os novos valores do auxílio, pessoas irão para as ruas se arriscar a conseguir algo – alimento, uma cesta, um bico para ter dinheiro. E sem um programa sério nacional de imunização, vão correr o risco de levar a doença para suas casas.

O governo federal continua indiferente ao que acontece no país. Alheio aos pedidos de cientistas, do povo, de governadores e prefeitos por vacina, brinca de trocar ministros. Garantir uma renda emergencial urgente e no valor necessário para suprir as necessidades da população é algo, segundo os dirigentes deste país, inconsequente e impossível do ponto de vista fiscal.

O povo paga caro essa dualidade defendida com unhas e dentes pelo governo de que não dá para investir na vida, sem comprometer a economia.

Nesta sexta, dia 2 de abril, comemoramos um ano da lei que instituiu a renda básica emergencial. A sociedade segue atenta, se mobilizando e organizando, porque enquanto houver alguém com fome neste país precisamos dar comida. Dar comida de qualidade, dar dignidade, dar respeito e garantir a vida. Não vamos calar e não vamos deixar de repetir #AuxílioEmergencialAtéOFimdaPandemia!

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  • Paola Carvalho

    Assistente social, especialista em Gestão de Políticas Públicas na perspectiva de gênero e promoção da igualdade racial,...

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