Contam que elx é extremamente inteligente e educadx.

Tenho minhas dúvidas.

Quando elx nasceu a mãe já tinha o enxoval completo. Uma herança iniciada quando fez 15 anos de idade. Ganhou, à época em que a opção era casar, uma toalha de banho rosa bordada menina e outra azul com MENINO. Assim em letras minúscula e maiúscula. Nada demais!

O avô gosta de anunciar que elx é um amor de pessoa. Tem lá seus atrapalhos, mas nada demasiado. É só saber lidar.

Talvez, porque elx sempre pede benção quando chega e também quando deixa a vivenda da família; a mãe gosta de ressaltar que elx tem uma ou outra imperfeição. Nada condenável. Todavia, irritantemente egoísta para outros.

Severina – a empregada – tem seus entendimentos. Ela acha que elx é um possuidor de tudo e até se atreve a pensar que de todos naquela casa.  Deve ser por isso que elx vive vendo a vida passar. Talvez porque diante dos privilégios devaneia ter um rei na barriga.

Ela chega a dar risada parece mesmo que elx é o próprio rei.

Nunca acorda na hora do café da manhã acompanhando a família. No entanto, adora acordar cinco minutos antes do almoço querendo comer um pedaço de bolo com recheio de tâmaras. E nessas horas a principal tarefa da doméstica é deixar tudo a mão delx.

O avô diz que a mãe nunca permite a cria fazer nada. Ela, a genitora, quando esta “naqueles dias” costuma indagar elx com aquelas frases típica de matriarca: “Onde é que já se viu acordar tão tarde”.

A secretária do lar vai observando e guarda o que lhe é útil. Vai fazendo bilhetinhos imaginários depositando-os em seu avental.

E entre uma ocorrência cotidiana e outra o ancestral, varão, devaneia – enquanto acompanha a cena da cozinha – são as vontades de uma criança. Conclui. O que é que tem demais?

Por outro lado uma coisa está parecendo ruim. Repensa o velho. É que elx já não o acompanha mais aos domingos na igreja. O patriarca daquele núcleo familiar gosta de comentar, nesses momentos de tristeza, das vezes em que, bem quietinhx, elx ficava ao seu lado com as mãos unidas repetindo a prece.

Agora, parece que definitivamente elx deixar de ir à igreja é um grande pecado.

Simultaneamente, enquanto os acontecimentos se desdobram entre o bolo servido e o almoço sendo posto à mesa, elx aprendeu que melhor é fazer silêncio diante das ponderações do avô e das falações da mãe.

E nesse ínterim de ordenação da parentela ninguém abre mão da regalia de morar na vila militar.

Soleniza elx ao morder um pedaço de pizza.

Até a Severina que é quase uma segunda mãe na casa e sabia só trabalhar, sem parar !

Disso elx descompreendia completamente.

Como pode uma pessoa não saber se divertir?

Definitivamente era incompreensível para aquele jovem de 29 anos que também não gostava de assistir à televisão. Essa era para o avô o mais incompreensível; como elx entregava-se ao quarto fechado e ficava fazendo não se sabe o quê.

A mãe defendia que elx estava apenas vivendo. E que era uma boa pessoa. Os tempos eram difíceis, então, emprego não estava fácil, e, cabia ajudá-lo com a gasolina do novo carro. Um presente para o recém-calouro do curso de Direito perfeitamente à distancia.

Mamis, viúva do Marechal, nem fez muita conta para comprar o automóvel; foi logo presenteando com a grana da pensão vitalícia que o esposo havia deixado desde 2011. Fruto do trabalho dedicado ao exército brasileiro. Estava – ela – sossegada, pois iria dar conta de agradar o temporão e ainda por cima pagar as contas com os R$ 14.031,00 recebidos a partir de 01 de janeiro de 2019.

O avô, nascido em 1945, seguia acompanhando o movimento do lar.

Algumas coisas estranhava muitíssimo. Qual a razão de elx se denominar assim?

Jair era tão mais bonito e influenciado pelo bisavô que resolveu retirar do velho testamento da bíblia sagrada cristã:  O “iluminado por Deus”.

Mesmo assim a conta não fechava visto que neste ano novo elx resolveu acompanhar a posse do novo (roto e ordinário) presidente, pelo iphone, pois dizia que a praia estava cheia de gente mal-educada.

E Severina naquele último dia do ano conseguiu sair do serviço ao meio-dia. Já ia atravessando a rua, após sair do Condomínio Paraíso, quando se deparou com um mendigo pedindo um cigarro. Ela prontamente deu o que estava fumando. Era o último que fumava. Promessa de fim de ano. Uma bela benção ter essa ajudinha.

Já o necessitado com os dentes alvos a mostra devolveu o feito brindando Severina entregando-lhe um livro – que havia pegado no lixo.

Ah! Antes de sair correndo e pegar o ônibus ela ricocheteia o olhar pondo atenção ao título: para se chegar a Fonte há que aprender a ser humano!

Princia Beli

Príncia Béli, alma de Artista, mente de Gestora em um corpo de mulher. Tem contribuições com a poesia "Habitualidades" na coletânea Cotidiano; micro contos: Carnavalis e Salão de Festa a Vapor no livro Floripa em 100 palavras. Lançou o livro de artista Linda Liz, em 2017 e o Zine Color - Jardim de Curas, em 2018. Escreve contos, poesia como forma de manifestação das (des) ordens humanas em busca da compreensão mais elevadas de nossos feitos ,ou, como simples registro para expandir nossos olhares.

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