Maio é o Mês Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Uma data dolorosa e necessária, que nos lembra da urgência de enfrentar um crime grave, que exige atenção constante e permanente de toda a sociedade, sobretudo quando falamos das meninas, principais vítimas dessa violação.

De acordo com o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, só em 2023, o país registrou quase 84 mil casos de estupro, desses, 88,2% eram casos de meninas. O recorte racial também escancara desigualdades: mais da metade das vítimas são meninas negras.

Dados inéditos do Ministério dos Direitos Humanos mostram um aumento de 195% nas denúncias de abuso e exploração sexual infantil nos últimos quatro anos. Será que estamos mais conscientes da importância da denúncia? Ou será que são os casos que seguem aumentando exponencialmente?

Essa realidade brutal não está restrita ao ambiente doméstico. Levantamentos realizados pelo Dossiê do Instituto Patrícia Galvão apontam que entre 2015 e 2021, ao menos 553 casos de violência sexual contra meninas ocorreram em locais de prática esportiva. Isso nos obriga a olhar para o esporte com a seriedade e a complexidade que ele demanda: como um espaço de potenciais riscos, reflexo da sociedade, mas também como um poderoso instrumento de conscientização, empoderamento e prevenção.

A prática esportiva, quando bem conduzida, oferece um ambiente de desenvolvimento físico, emocional e social. Um ambiente que pode ensinar sobre limites, respeito, autocuidado e direitos, pilares fundamentais para que meninas reconheçam situações abusivas, fortaleçam sua autoestima e sintam-se seguras para impor limites e buscar ajuda.

O esporte pode e deve ser uma estratégia central na prevenção da violência sexual. Mas é preciso intencionalidade. Iniciativas esportivas precisam incluir em sua metodologia temas como consciência corporal, educação sexual, noções de consentimento e equidade de gênero.

É essencial não só treinar técnicas e técnicos, dirigentes e educadores para identificarem sinais de abuso e acolherem relatos com responsabilidade, mas também criar mecanismos seguros e eficazes de denúncia, garantindo uma cultura de respeito e segurança.

O relatório internacional How Sport Can End Sexual Violence in One Generation, publicado pela Raliance, reforça isso. Segundo o documento, o esporte pode ajudar a romper ciclos de violência ao promover valores pró-sociais, como autocontrole, empatia e responsabilidade. Mas também alerta: meninas são mais vulneráveis à violência sexual no ambiente esportivo do que meninos. A cultura do esporte ainda carrega o machismo, hipersexualização e muitas vezes promove o silenciamento, que precisam ser urgentemente transformados.

Sabemos, por experiência direta, que o contato com o esporte pode ser um divisor de águas na vida de uma menina. Afinal, um dos principais pilares da Nossa Arena é promover espaços seguros e de protagonismo para meninas, mulheres e pessoas trans no esporte.  Não apenas pela possibilidade de sonhar com um futuro diferente, mas por ajudá-la a entender que seu corpo tem valor — e que ela tem o direito de protegê-lo. O que queremos – e precisamos – é que mais espaços como a arena tenham o compromisso de garantir a segurança dessas meninas e adolescentes.

Neste Maio Laranja, é urgente dizer: o combate ao abuso sexual infantil não pode ser responsabilidade apenas da família ou da escola. Ele precisa ser assumido por toda a sociedade — e o esporte tem um papel essencial nesse processo.

Criar ambientes esportivos seguros, com lideranças conscientes e metodologias transformadoras, salva vidas. Precisamos romper silêncios e nos aproximar de uma geração que cresce com mais liberdade, dignidade e proteção.

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  • Júlia Vergueiro

    Sócia fundadora da Nossa Arena e fundadora do Instituto Nossa Arena. Seu trabalho é voltado para dar visibilidade e opor...

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