Nova edição do #OcupaMana é lançado em maio, mês do combate ao abuso e exploração de crianças e adolescentes

Nesta primeira semana de maio, as organizações que compõem a Estratégia Nacional por Justiça Reprodutiva lançam a segunda edição do Edital “#OcupaManaPorJustiçaReprodutiva – Artivismo territorial e digital e Justiça Reprodutiva por Adolescentes”. O edital é focado em jovens meninas cis e trans, entre 12 e 18 anos, e tem o objetivo de incentivar debates sobre os Direitos Sexuais e Reprodutivos nessa faixa-etária.

“Queremos escutar, nos aproximar e entender como essas meninas estão vivenciando os diferentes contextos e como podemos enraizar os debates sobre justiça reprodutiva e fortalecer a presença dessas meninas nos espaços feministas”, explica Leina Peres, da Rede Feminista de Saúde, uma das responsáveis pelo edital e mentora na edição anterior.

No primeiro edital, realizado em 2021, foram apoiadas três iniciativas de artivismo digital em diferentes regiões do país. Agora, além de ações online, as jovens também poderão desenvolver atividades presenciais. “Percebemos que as adolescentes estão retornando para as escolas e movimentos de rua, então resolvemos potencializar as ações territoriais, se elas demonstrarem interesse”, assinala Peres. 

O edital é destinado a ações de artivismo, caracterizadas como manifestações artísticas que instigam a crítica social e política. Grupos compostos por jovens negras e indígenas, LBT’s, pessoas trans e não binárias, assim como trabalhos que tragam suas perspectivas nas lutas por autonomia sexual e Justiça Reprodutiva, são incentivados a se inscreverem.

A inscrição de propostas pode ser feita até 18 de maio deste ano. Serão selecionadas três propostas que deverão ser executadas entre 1º de junho a 1º de outubro de 2022. Cada atividade terá R$ 6 mil para a sua execução. 

Além do apoio financeiro, as equipes também serão acompanhadas por mentoras das organizações que compõem a Estratégia Nacional por Justiça Reprodutiva e que conduzem o edital.

Recomenda-se que as propostas abordem temas do campo da Justiça Reprodutiva articulando temas como: o enfrentamento às violências, em especial violências sexuais contra meninas, adolescentes e mulheres adultas (trans e cis), baseadas no racismo, no sexismo e na cisheteronormatividade; dignidade menstrual; imposição de estética e padrões de beleza racistas; direito à cidades seguras; enfrentamento aos fundamentalismos; enfrentamento à mortalidade materna; acessibilidade; valorização da memória e registros dos legados de mulheres negras e indígenas e suas abordagens da ancestralidade e Bem Viver; e defesa da democracia e da participação democrática, em especial por jovens e adolescentes. 

Acesse o edital completo aqui: 

As adolescentes são uma força propulsora

No primeiro edital do #OcupaMana lançado em 28 de julho de 2021, três grupos foram apoiados com recurso financeiro e acompanhamento de uma mentora, ativista de uma das organizações que participam do projeto. Os produtos resultados do edital foram lançados em uma live realizada no dia 10 de março de 2022 pelo YouTube.

Os grupos que receberam apoio do primeiro edital foram as Amigas do Morro da Cruz (Rio Grande do Sul), que produziram dois podcasts, Girl Up Nise da Silveira (Rio de Janeiro), que lançaram um edital cultural que resultou em um e-book, e Audácia Delas (Bahia), que criaram uma websérie em cinco episódios. Todas as produções estão relacionadas ao ativismo digital e à Justiça Reprodutiva.

“O edital despertou nas jovens e nas mulheres que participaram da execução a possibilidade de serem criadoras de algo, de revolucionar, de tomar a frente. Além da experiência incrível da execução, houve o amadurecimento e a responsabilidade do que é mexer com um projeto e do é mexer com vida e história das outras pessoas”, descreve Lara Kezia Oliveira da Pureza Santos, de 18 anos, integrante do Audácia Delas, da Bahia.

Ellen Vieira, mentora do Audácia Delas, avalia que as garotas que participaram dos projetos apoiados representam uma força propulsora pelos direitos das mulheres. “Elas têm muita clareza das coisas, sobre o que querem falar e o que querem fazer. No caso desse grupo, elas não tinham um coletivo montado, costumavam fazer ações pontuas, e essa experiência do projeto fomentou essa curiosidade”, descreve.

Juliana Leite da Silva, mentora do GirlUp Nise da Silveira e professora da rede pública de ensino, aponta que há um interesse das/os jovens pelos temas relacionados à justiça reprodutiva. Juliana convidou o grupo para realizar uma oficina na escola que trabalha. “Era uma oficina sobre dignidade menstrual só para as meninas e acabou que os meninos ficaram super curiosos, assistiram e pediram ‘professora, também queremos ter oficinas sobre esses assuntos’”, relata.

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Imagem: Oficina realizada pelo grupo GirlUp Nise da Silveira | Crédito: reprodução.

Ensinar e aprender intergeracional

O #OcupaMana possibilita uma troca de conhecimentos e aprendizados entre as jovens participantes e as mentoras. “Foi uma sacada genial possibilitar essa interação intergeracional para incentivar a auto-organização das jovens a partir das experiências das ativistas que participam da estratégia nacional”, coloca Ellen Vieira.

Leina Peres avalia que durante o processo de mentoria, percebeu que as adolescentes têm as feministas mais velhas como referências. “Elas reconhecem a importância das mulheres na vida delas, tanto as mães, as irmãs, as amigas, as feministas e as mentoras, e isso é muito bonito”, ressalta.

Para Ellen Vieira, a mentoria significou desde o compartilhamento de informações mais simples, como o uso do drive e de e-mail, até o desenvolvimento dos roteiros dos vídeos e de como contratar uma empresa para as filmagens.

“A gente aprendeu e ensinou”, aponta Sophia Rodrigues de Oliveira, de 13 anos, uma das integrantes do grupo de Amigas do Complexo do Morro da Cruz, em Porto Alegre. Elas contam que a produção dos podcast as ajudaram a falar abertamente sobre temas que antes eram tabus, como menstruação e gravidez na adolescência, e que estão recebendo um retorno interessante das/os ouvintes.

“A Yasmin apresentou o podcast na escola dela e a professora gostou bastante e ficou surpresa de jovens estarem conversando sobre isso, mas na verdade isso é um assunto que os jovens conversam. As minhas amigas também gostaram, elas acharam que estamos conversando à vontade, então tem escuta, também fica confortável”, relata Sophia Rodrigues de Oliveira, de 18 anos, que também participou da produção.

No projeto conduzido pela equipe GirlUp Nise da Silveira, as integrantes também realizaram a oficina com meninas e meninos sobre dignidade menstrual em um colégio estadual, além da doação de aproximadamente 200 absorventes ecológicos, como forma de combater a pobreza menstrual. Fernanda Mirella Alves, 19 anos, integrante da equipe, relata que elas optaram por realizar uma metodologia participativa, para integrar com os alunos do colégio, através de uma roda de conversa e artivismo.

“Muitas alunas e alunos não sabiam como ocorre o ciclo menstrual, mesmo estando no Ensino Médio”, destaca. Apesar do assunto ser considerado um tabu, Fernanda diz que houve uma grande interação com as e os estudantes. “Elas tiraram dúvidas, algumas chamavam no canto, outras faziam de forma aberta, e esse retorno foi muito interessante. Vimos que muitos não sabiam de coisas que devem ser consideradas básicas para termos noção dos nossos direitos reprodutivos, mas, mesmo assim, eles queriam saber mais”.

Fernanda aponta, também, que participar do edital impactou sua formação. “Consegui desenvolver minha oratória e comunicação. Foi uma experiência excelente e eu incentivo todas a se inscreverem no edital”, destaca a jovem.

Ações desenvolvidas no primeiro edital

Amigas do Complexo do Morro da Cruz

Yasmin, Sophia e Carla são as Amigas do Complexo do Morro da Cruz (Porto Alegre/RS) e criaram dois episódios para o podcast “Conhecendo nossos direitos reprodutivos”. Os programas podem ser ouvidos pelo canal do Spotify da Rede Feminista de Saúde. As meninas relatam que as ideias para os podcasts surgiram a partir das suas vivências. 

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Imagem: reprodução.

O episódio “Virei mocinha, e aí?!” é uma conversa sobre direitos e justiça menstrual de forma leve e descontraída. A ideia surgiu quando estavam conversando sobre a primeira menstruação e viram que a conversa poderia ser gravada e compartilhada com outras pessoas. Elas destacam que o assunto ainda é um tabu e essa ideia deve ser quebrada. “Muitas preferem que a gente não fale sobre a nossa menstruação porque acham que é uma intimidade e ninguém precisa saber, mas é algo natural”, coloca Yasmin.

O segundo episódio, “É tudo na conta da mãe!”, aborda maternidade, negritude e justiça reprodutiva. As jovens apresentadoras do podcast conversam com Dinah de Castro, mulher negra, mãe, militante e assistente social. As amigas contam que o tema surgiu por ser algo que elas convivem diariamente. “Pensamos por ter tantas meninas passando por isso. Então, pra gente, o podcast é um espaço de ter conteúdo e falar sobre”, explica Sophia. “No colégio tem muito caso de guria engravidando nova, ou é por causa de estupro que sofreu dentro de casa ou por falta de informação”, complementa Yasmin.

Audácia Delas

“O Audácia Delas surge a partir da tomada de conhecimento deste edital, feito por mulheres e para mulheres, com a disponibilidade de financiar projetos que desmitifiquem os estereótipos sociais”, conta Lara Kezia Oliveira da Pureza Santos, de 18 anos, integrante do grupo. 

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Imagem: reprodução.

O grupo, composto por moradoras de três cidades da Bahia, Itiriçu, Jaquié e Brejões, produziu a websérie “Senta e Escuta” que, em cinco episódios, conta histórias de mulheres pretas, baianas e interioranas, mostrando sua audácia de escreverem suas próprias histórias.

Ellen, mentora do projeto, descreve que foi surpreendida positivamente pelo resultado. “Eu sabia que era uma ideia linda e que os roteiros estavam bons, mas elas foram gênias no momento da produção”, elogia. Os episódios podem ser acessados no Instagram do Audácia Delas.

“Quando eu tenho uma mulher preta, baiana, interiorana, da minha cidade, minha vizinha, falando, contando a sua história, eu estou sendo escutada, porque eu estou sendo representada. O edital proporcionou essa capacidade de sermos escutadas e nos mostrar jovens capazes de criar e revolucionar”, destaca Ellen.

GirlUp Nise da Silveira

O grupo GirlUp Nise da Silveira, do Rio de Janeiro, promoveu um concurso artístico no Instagram, onde meninas adolescentes de 14 a 18 anos foram convidadas a enviarem alguma produção, dentro dos temas de arte visual, performática e literária, sob o tema de “Justiça Reprodutiva”. Para divulgar o tema e os resultados, foi organizado um e-book com as artes que participaram do concurso cultural de vários estados do país.

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Imagem: oficina realizada pelo grupo | Crédito: reprodução.

Além do concurso, o grupo, a convite da mentora, realizou uma oficina com cerca de 60 estudantes entre 15 e 18 anos de um colégio estadual onde a mentora trabalha. Na atividade, em formato de roda de conversa, as garotas explicaram o que é menstruação, como e por que ela ocorre. Depois, foram doadas cartelas explicando as mudanças do corpo no período menstrual e, também, através do artivismo, foi trabalhado o ciclo menstrual, a partir de um bracelete de menstruação, onde cada miçanga representava uma etapa do ciclo.

“Eu sou uma jovem de 19 anos, sou moradora da periferia, nunca tive nenhum incentivo para criar e continuar em um projeto. É isso que queríamos passar para os alunos, que eles podem aprender sobre isso e impactar as pessoas à sua volta. Não necessariamente criando um projeto, mas conversando com a irmã mais nova, mais velha, falando com os amigos sobre isso”, ressalta Fernanda.

Organização

O edital é uma seleção em iniciativa coletiva de 14 organizações: Anis (Instituto de Bioética), Direitos Humanos e Gênero, Católicas pelo Direito de Decidir, CEPIA, CFEMEA, CLADEM, Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, Coletivo Margarida Alves, Criola, Cunhã – Coletivo Feminista, Grupo Curumim, Portal Catarinas, Rede Feminista de Saúde, REDEH, SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia e a Frente Nacional Contra a Criminalização das Mulheres e Pela Legalização do Aborto, que buscam em estratégia nacional incentivar os debates e reflexões sobre Justiça Reprodutiva.

Serviço

O que: Edital de apoio a projetos de artivismo ligados à justiça reprodutiva.

Público-alvo: Meninas cis e trans entre 12 e 18 anos.

Período de inscrição: 2 a 18 de maio de 2022.

Divulgação do resultado: 28 de maio.

Período de execução: 1º de junho a 1º de outubro de 2022.

Mais informações: clique aqui.

Dúvidas: [email protected]

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  • Daniela Valenga

    Jornalista dedicada à promoção da igualdade de gênero para meninas e mulheres. Atuou como Visitante Voluntária no Instit...

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