Fazendo Gênero e Mundos de Mulheres: Uma universidade mais próxima dos movimentos
Depois de uma semana de intensa programação, em que o câmpus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) concentrou centenas de debates do feminismo contemporâneo, encerrou em Florianópolis na última sexta (4) a 11ª edição do Seminário Internacional Fazendo Gênero e 13º Congresso Mundos de Mulheres. Antes da conferência final com a socióloga Eleonora Menicucci, houve o rito de passagem com a entrega simbólica do evento Mundos de Mulheres pela academia e movimentos sociais brasileiros para a comitiva de Moçambique, país que sediará a próxima edição, em 2020.
Como em todos os dias, a sexta-feira teve intensa programação da Tenda Mundos de Mulheres. Pela manhã, houve a roda de conversa “Mulheres Negras: luta e resistência frente aos movimentos sociais”. À tarde, a tenda abrigou a comemoração do primeiro ano de Catarinas após a mesa “Mulheres construindo outras mídias”, com a participação do Comitê pela Democratização da Comunicação – SC e Rede Mulher e Mídia.
Um das mesas mais esperadas do dia foi “Zahideanas: a força das publicações feministas e a Editora Mulheres” que homenageou a especialista em literatura brasileira, Zahidé Muzart, fundadora da Editora Mulheres, falecida em 2005. Integraram a mesa a escritora Conceição Evaristo, a pesquisadora de publicações de mulheres, Constância Lima Duarte (UFMG), e a parceira de Zahidé na criação da Editora Mulheres, Susana Bornéo Funck. A jornalista do Portal Catarinas, Paula Guimarães, também participou da atividade como debatedora representando a continuidade do sonho de Zahide de dar voz às mulheres.
O último dia da programação na Tenda da Saúde debateu saúde mental, com a participação da coordenadora nacional da Conferência Nacional de Saúde da Mulher (CNSMu), Carmen Lúcia Luiz, a professora da UFSC, Sônia Maluf, e a integrante da Associação de Apoio aos Portadores de Esclerose Múltipla da Grande Florianópolis (Aflorem), Suellen Alves; e os efeitos das LBTfobias na vida das Mulheres, com a conselheira nacional de Saúde Heliana Hemetério, Kelly Vieira Meira (UFSC) e Ana Amorim (UFSC).
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Ainda no sábado (5), houve programação dos roteiros de visita na terra indígena do Morro dos Cavalos, no centro histórico da capital e em três diferentes trilhas ecológicas. As atividades, paralelas à programação oficial, foram planejadas para aproximar as/os participantes do congresso (estudantes, pesquisadoras, ativistas e educadoras) de experiências e comunidades onde fosse possível conhecer diferentes realidades em que vivem as mulheres da região que sediou o 13º Mundos de Mulheres. As visitas guiadas procuravam estimular o olhar socioambiental e de gênero mesmo nas trilhas e locais considerados turísticos da cidade. “A vida e história de diferentes mulheres e seus coletivos e grupos puderam ser transmitidas durante as visitas e auxiliaram na compreensão dos mundos de mulheres, sejam eles de rendeiras, de carcerárias, de quilombolas ou indígenas. A construção dos roteiros objetivou articular as particularidades de cada comunidade visitada”, explicou Luciana Gransotto, pesquisadora da área do turismo e integrante da comissão organizadora responsável pelas atividades.
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Plenária sugere estreitar relação entre academia e movimento social
Realizado em conjunto com o debate acadêmico do Fazendo Gênero, a primeira edição latino-americana do Mundos de Mulheres proporcionou uma aproximação entre a universidade e os movimentos sociais inédito no país. A partir da experiência, a plenária final encaminhou propostas para aproximar a academia dos movimentos de forma perene. “Para dar um salto de qualidade nessa relação, se propôs a criação, no IEG (Instituto de Estudos de Gênero), de um Fórum de Gênero e Movimentos Sociais. A ideia é que seja um espaço de elaboração e formulação de teorias, onde os movimentos também possam levar as suas pesquisas, suas lutas e produções teóricas”, destaca Vera Gasparetto, uma das organizadoras do 13º Mundos de Mulheres.
Para a professora Cristina Wolff, organizadora do Fazendo Gênero, dois elementos se destacaram nessa edição do Fazendo Gênero. “Uma delas foi o encontro entre pessoas que circulam pela academia e as pessoas que vêm do movimento social num mesmo propósito. Essa possibilidade da gente fazer algo juntas. A segunda foram as apresentações artísticas e culturais. Elas foram selecionadas como os trabalhos, num processo de edital e não se restringiram ao entretenimento, elas trouxeram reflexões feministas, manifestos. Essas dimensões do artístico e cultural, do político e do debate acadêmico estiveram juntas de uma forma inédita, fortemente integradas”, avalia.
“O sentimento que fica do MM/FG é que estamos vivendo tempos difíceis, mas juntas podemos fazer alguma coisa. Que nós podemos ter essa força de mudar esse mundo se estivermos juntas, superando as diferenças, porque também ficou claro há muitas diferenças, mas que é possível nos unirmos para atingir algumas metas que são importantes nós. Essa edição fica na história da cidade e do Fazendo Gênero e foi uma construção coletiva, com muitos esforços reunidos. O sentimento é também de gratidão a todas essas pessoas e organizações que se envolveram e que se engajaram para nos ajudar a fazer”, complementa Cristina.
Segundo a organização do MM/FG, além das/os mais de 9. 500 inscritas/os, centenas de outras pessoas puderam participar das atividades no campus UFSC . 40% das inscrições foram isentadas de pagamento e nenhuma atividade foi fechada. A comunidade pode participar do conjunto de conferência, simpósios, mesas redondas e fóruns de discussões. “O credenciamento ficou por conta conta do certificado e agradecemos as pessoas que pagaram, porque elas viabilizaram o evento”, reforça Cristina Wolff.