Esses últimos tempos de ascenso do discurso conservador têm sido difícil Ser Feminista e falar sobre Feminismos, seja nas escolas, universidades, nas ruas e nas redes sociais.

Estamos numa fase de embate e descortinamento – novamente – das temáticas sobre as condições das Mulheres serem, estarem e sobreviverem nas sociedades patriarcais, machistas, heteronormativas, misóginas e violentas, o que tornam esses enfrentamentos polêmicos, divergentes e, por vezes, agressivos. Definitivamente não sabemos lidar com as contradições postas e dialogar pacificamente sobre opiniões diferentes, por óbvio que quando fundadas (não os achismos tão comuns nesta época de que todo mundo tem de ter opinião sobre tudo, mesmo que desconheça absolutamente o que fala ou escreve).

Temos Nós Feministas, Estudiosas e Militantes, ciência e consciência da pauperização e do reducionismo que o senso comum tem exposto as suas visões sobre estas múltiplas temáticas de gênero, sexualidade e feminismos. Estamos, de igual forma, à mercê da insanidade de pessoas que projetam leis intituladas “Escola Sem Partido”, “Estatuto do Nascituro” e, mesmo, criminalização do aborto às vítimas de crimes sexuais, tendo como pressupostos as categorizações de gênero enquanto ideologia e de maternidade compulsória, o que é absurdo e de uma ignorância (em seu sentido dicionário) sem fim. É de uma pobreza teórica, metodológica, científica (se é que pode se dizer que existe esta base) e discursiva, que tenta desvirtuar e escamotear o debate político, conservador, ideológico, religioso, violento no qual se sustenta. Trata-se, por outro lado, de uma afronta direta aos Direitos Humanos das Pessoas, Mulheres, LGBT’s e Crianças, que somam mais de 50% da população brasileira, maioria esmagadora sobre estes seres que querem impor a perpetuação da heteronormatividade, por via de leis do discurso único e violento sobre nossos corpos cansados.

Ainda, é cotidiana a apropriação de críticas rasas – atualmente o mais comum tem sido o uso do oráculo facebook para disseminá-las – e defesas absurdas de que ser Feminista é ser contra homens, contra casamento, contra religião, não ter higiene, ser “abortista” (sic), usar vestes masculinas, enfim, são tantos absurdos que se lê e se fala, que é impossível listá-los integralmente, mas no geral o que pretendem esses discursos professados por Homens e Mulheres é reduzir as pautas e os movimentos à condição de ‘mimimi’ (que, segundo o outro oráculo, o Google, é uma expressão de conotação pejorativa usada na comunicação informal para descrever ou imitar uma pessoa que reclama; é utilizado para satirizar alguém que passa a vida reclamando).

Mas NÃO, Minhas Gentes, Feminismos (assim mesmo no plural) não são ‘mimimis’. Aliás, é exatamente o contrário, as lutas Feministas são lutas por direitos múltiplos, especialmente pela igualdade, dignidade e pela não violência, e, na maioria das vezes, são lutas de acessos aos direitos mais elementares: à vida e à dignidade.

Por isso, se não tem conhecimento sobre o assunto ou nunca leu nada além de postagens ou blogs sem qualquer rigor científico, silencie. É muito mais digno do que reforçar o machismo, principalmente quando o machismo mata, agride e mutila pessoas – e aqui não falo somente de Mulheres, mas de todas as pessoas LGBTT’s, vítimas cotidianas desta barbárie.

Você pode até não concordar com as pautas, formas e táticas de ações de determinados Movimentos Feministas, que militam nas mais variadas formas de violências contra as mulheres, sejam hétero, cis, bi, lésbicas ou trans, aliás, você pode até não se posicionar e passar a largo das pautas feministas, mas nunca e em hipótese alguma, você poderá deslegitimá-lo, diminuí-lo ou adjetivá-lo, pois se hoje, Mulheres, vocês têm acessos das mais variadas formas e têm opiniões, mesmo que não propriamente suas, neste Mundo – como dito, patriarcal, machista, heteronormativo, misógino e violento –, foi por causa de Mulheres de outras épocas, de espaço e tempo, que tiveram a força e a coragem para as tantas lutas que hoje nos garante muitas possibilidades de escolhas, principalmente às Mulheres ocidentais, burguesas e brancas.

Importante neste contexto é entender a pluralidade de Feminismos e as diversidades de Movimentos que existem nos mais diversos cenários de lutas. Como Feminista, por exemplo, não acho que todo homem é abusador e violento, mas sei que certamente o patriarcado, o machismo, a misoginia e a heteronormatividade é uma cultura violenta às mulheres, independente de muitas não conseguirem ver ou entender estas realidades (sempre plurais e diversas).

Por isso, estamos no tempo e no espaço para democratizar e pluralizar os debates sobre os feminismos, além, momento de (re)colocar as coisas em perspectiva. Para tanto, deixo como sugestão, tão somente, duas alertas para avançarmos juntas no diálogo:

  1. JAMAIS desqualifique processos e movimentos Feministas por experiências diferentes, divergentes, ruins e dolorosas, pois temos muito ainda a construir, juntas e juntos. Para além das disputas e divergência dos campos políticos, Feminismos também são pedagogias e aprendizados constantes;
  2. ALTERIDADE SEMPRE(!!!), incondicional e irrestritamente. Negar a alteridade às Pessoas que lutam é de uma violência, real e simbólica, é silenciamento, é invisibilidade. Invisibilizar “a Outra”, pois Ela pensa diferente de Mim ou Nós, ou porquê não entendemos sua luta legítima (aliás, quem sou Eu ou quem somos Nós para negar a luta de Outra?), inferiorizando-a ou aniquilando-a, é muito brutal. E contra a brutalidade precisamos ser intransigentes e não aceitá-la em hipótese alguma, pois o Mundo que queremos e pelo qual lutamos é SEM QUALQUER TIPO DE VIOLÊNCIA E OPRESSÃO (não esqueçamos disso NUNCA!).

No mais, Minhas Queridas, estarei aqui, lutando também para entender tantos fenômenos desconhecidos em processo – histórico, sociológico, jurídico e afetivo!

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  • Daniela Felix

    Mulher, feminista, comunista e militante de Direitos Humanos. Mestre em Direito PPGD/UFSC. Advogada Popular. Articulador...

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