Joanna Burigo, mestra em Gênero Mídia e Cultura (LSE), conselheira editorial do Portal Catarinas e coordenadora Emancipa Mulher, estreia a coluna “Pílulas de Discernimento”, na qual vai trazer pequenas notas informativas e analíticas sobre temas do cotidiano social e político que estão em debate nos fóruns das redes sociais.

Instagram e sensualização

Descobri agora que existem desafios no Instagram na esteira de um deles, que vai assim: a bonita fica posando na frente de uma porta fazendo de conta que não é sexy; de repente, corta pra outro vídeo com a mesma bonita na frente da mesma porta, mas dessa vez a imagem tem efeito visual mais tchan, e a bonita, agora sim abertamente gostosona, sensualiza, lambe a porta, rebola a lingerie. Isso, descobri, é um “desafio”. Desafio? Desafio no Instagram é a construção de olhares e feminilidades menos patriarcais. Ô, plataforminha regeneradora de um male gaze que seria ridículo se não matasse… #femininofeminismo

Male gaze é um conceito oriundo da crítica feminista de cinema. O termo foi cunhado por Laura Mulvey para revelar as formas como a produção visual reflete a ideologia patriarcal através do enquadramento, que ela chama de “olhar masculino”.

Instagram e sensualização 2

Todas as vezes que faço críticas feministas a feminilidades patriarcais alguém pergunta como ficam a autonomia e o desejo de expressão sensual.

Ficam bem. Não mudam. Rebola essa raba, linda.

O que não dá é pra ser tonta e achar que não existe confluência e confusão entre a manifestação autônoma da sensualidade e o bom e velho exercício de agradar o male gaze.

Discernimento, gente. #femininofeminismo

Necessidade do feminismo

O violento e misógino “argumento” jurídico que alega “legítima defesa da honra” como justificativa para feminicídio foi finalmente enterrado pelo STF. Antes tarde do que nunca, e lembre-se deste resultado quando for questionar a necessidade do feminismo; Toffoli deu o canetaço, e tomou a decisão adequada, mas conquistas como esta são fruto de antigas e sistemáticas articulações de juristas, teóricas e ativistas FEMINISTAS.

Recalque da branquitude

Pessoas brancas devem ter é muita inveja de cabelos e looks negros para atacarem tanto visuais tão objetivamente e indiscutivelmente bonitos. Sem a coragem necessária para admitir isso para si mesmas, e na esteira das violências que o racismo permite, zombam até das aparências e estilos mais esplendorosos. É deplorável por ser racista. Mas é também um pouco ridículo. Fica explícito que é recalque.

Delírios saudáveis

Às vezes eu até escrevo e trabalho e planejo como quem esqueceu que vivemos uma pandemia no bolsonarismo. Mas dura pouco.

Misoginia e transfobia

Algumas notas breves e soltas, provenientes de observações que fiz esta semana ao escutar e/ou ler coisas por aí:

  1. Ninguém “nasce no corpo errado”. Não existe “corpo errado”. O que existe é uma normatização que privilegia corpos cis (e brancos, e magros, e jovens, etc).
  2. Mulheres cis, ao declarar que fazem ou deixam de fazer procedimentos estéticos “para não ficar parecendo travesti”, estão destilando transfobia.
  3. Mulheres trans, ao fazerem chacota de menstruação ou do fato de que mulheres cis não podem transar sem medo de engravidar, estão sendo misóginas.

Vamos juntas para ir avante. Dividir para conquistar é coisa do patriarcado. Beijo.

O jornalismo independente e de causa precisa do seu apoio!


Fazer uma matéria como essa exige muito tempo e dinheiro, por isso precisamos da sua contribuição para continuar oferecendo serviço de informação de acesso aberto e gratuito. Apoie o Catarinas hoje a realizar o que fazemos todos os dias!

Contribua com qualquer valor no pix [email protected]

ou

FAÇA UMA CONTRIBUIÇÃO MENSAL!

  • Joanna Burigo

    Joanna Burigo é natural de Criciúma, SC e autora de "Patriarcado Gênero Feminismo" (Editora Zouk, 2022). Formada pela PU...

Últimas