Recentemente, fui confrontada com a seguinte pergunta: qual seria para você o principal problema relacionado a gênero hoje e para onde os feminismos deveriam se concentrar em 2025? Confesso que não soube responder de imediato. Há diversas questões a serem abordadas, ainda vivemos uma série de realidades que tornam a sociedade desigual e insegura para as mulheres, mas onde focar? Aliás, como se descobre algo assim? Como se encontra um único tema para lutar e defender em meio a tantas problemáticas?

Poderíamos falar sobre as diversas violências de gênero, que resultam em dados como uma mulher ou menina sendo morta a cada 10 minutos por seu parceiro íntimo ou outro membro da família, segundo o Relatório Global sobre Feminicídios da ONU Mulheres e UNODC.

Ou, então, sobre o avanço da PEC do aborto, aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara e que põe em risco a vida e a dignidade de milhares de meninas, mulheres e pessoas que gestam no Brasil, proibindo o aborto em qualquer circunstância, inclusive estupros.

No entanto, o que percebo é que todas as pautas estão interligadas. Não há meios de desconectá-las e escolher um único foco para o ano. Seria bom, é verdade, eleger uma só temática e trabalhar por ela durante 365 dias, porém, não é uma realidade possível. Não é possível simplesmente porque as violências que sofremos diariamente se unem por meio de um mesmo fator: ser mulher.

O desemprego entre mulheres ser 45,3% superior à taxa masculina, como mostrou a Pnad do terceiro trimestre de 2024, é uma violência que gera vulnerabilidade e insegurança, dando força a outras violências.

Não ter o poder de decisão sobre o seu corpo ou se sentir insegura em espaços que deveriam ser triviais é uma violência.

Ter medo de andar a pé, como mostrou pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva, por receio de ser assediada ou estuprada é uma violência. Nossa existência é marcada por violências.

Seria, então, o caso de olharmos para 2025 sob a ótica generalista de “o objetivo é combater as violências de gênero”? Pessoalmente, acredito que não. Afinal, quando observamos cada uma dessas questões já estamos abordando tais violências.

Talvez possamos, sim, elencar o que é mais urgente, mas por que precisamos escolher uma só? Muitas pessoas diriam que a base para organização, seja em qualquer movimento, é escolher qual luta é mais latente e usar nossa potência ao máximo por ela. Sim, esse é um caminho, mas como escolher se a origem de tudo é uma só?

Encerrei o questionamento feito acima ainda sem saber uma resposta, assim como não tenho a intenção de trazê-la aqui. Mas sou grata pela provocação, ela me fez refletir e buscar mais. Mais dados, mais compreensão do nosso atual momento, mais informações. E me fez trazer a conversa para esse espaço, o que me leva a crer que esse é o nosso verdadeiro desafio e possível foco para 2025: debater, falar, não calar. A violência ganha não quando deixamos de ter um foco, mas quando nos calamos.

Então, o que fica para mim sobre 2025 é que devemos continuar cada uma dessas lutas. Com energia, com revolta, com milhares de posicionamentos, ainda que pareçam repetitivos.

Se for para falar sobre desemprego e salários desiguais, iremos falar, se for para questionar uma PEC que nos invisibiliza e oprime, questionaremos. Seja o que for, estaremos ali. 

Ainda que tenhamos que voltar aos mesmos assuntos, que precisemos nos repetir. Podemos não elencar um grande foco para 2025 – ou até o façamos, caso alguém realmente tenha essa resposta – mas o principal continua vivo, o principal estará presente no próximo ano e nos que virão a seguir. Não importa o tema, não importa qual vertente da luta, não iremos nos calar. Feliz 2025, mulheres!

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  • Sttela Vasco

    Feminista, paulista e paulistana, sou formada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, pós-graduada em Cinema pelo Ce...

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