Desde a Primavera Feminista em 2015, o 8 de março, Dia Internacional da Mulher, ganhou uma nova força. Se antes a data era predominantemente marcada apenas comercialmente, nos dias atuais o seu significado é cada vez mais resgatado: não só um dia de comemoração e reconhecimento pelo que já conquistamos, como o voto, o 8 de Março é também um dia para reafirmar que continuamos lutando por causas, espaços e direitos, como a igualdade salarial ou o direito sob nossos corpos.

Em 2017, o #8M explodiu pelo mundo, um movimento global organizado e marcado por uma greve feminista internacional, impulsionando ainda mais a nova onda feminista, que encontrou no ativismo digital das redes sociais um espaço para amplificar sua voz e mobilização.

Em 2019, o 8 de Março levou às ruas mulheres das cinco regiões do Brasil, como mostrou a cobertura especial do Portal Catarinas, e foi simbolicamente marcado como #8Marielle, em memória à ativista, que recebeu diversas homenagens por sua contribuição e representatividade.

Homenagens essas que, em muitas redes e muitas rodas de conversa, foram criticadas ou diminuídas, com frases como: “Quando era viva ninguém a conhecia” e envernizadas até por um discurso de ódio.

Mas, por que odiar Marielle?

A mulher mais votada na eleição da Câmara Municipal do Rio de Janeiro em 2016, que conquistou legitimamente um lugar de fala e foi até onde muitas mulheres como ela não tiveram a chance de chegar. Por que odiar alguém que buscava o espaço para minorias políticas (ainda que maioria populacional) silenciadas, lutava contra injustiças sociais, e foi executada há um ano por dois ex-policiais, provavelmente ligados à milícia – uma das mais perigosas organizações criminosas do Rio de Janeiro?

Em um contexto geral, Marielle incomoda pois representa em uma só mulher, uma versão de várias de nós: mulher, negra, LGBT, militante, ativista, oriunda de uma realidade pobre, representando a juventude que busca democratização – o absoluto oposto do projeto político que ascendeu ao poder no país. Ela representa tudo aquilo que o conservadorismo e o machismo têm maior aversão: a reflexão, a pluralidade das vozes, o diálogo, a luta, e a empatia sobre os outros.

Num contexto local, no Estado que ocupa posições de liderança em índices de violência doméstica contra as mulheres e em índices de estupro (segundo Anuário Brasileiro de Segurança Pública), e é também considerado um dos mais conservadores do País, o ódio à figura de Marielle é reflexo do medo. Medo de perder poder e privilégios. Medo de que mais mulheres se levantem como ela, e que não aceitemos mais o conservadorismo e o machismo pintados como tradições, “deveres” e defendidos por uma falsa moral.

Marielle era desconhecida para muitos (catarinenses, brasileiros) até o momento de seu assassinato. Assim como muitas de nós, mulheres, somos invisibilizadas, ao ponto de pensarem que nossas vidas não valem nada. Mas o discurso de ódio não vai nos assustar. Vamos incomodar, como incomodou Marielle.

Publicado também no Jornal Correio Lageano em 14/03.

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