te vendo e escutando bem. E você?

— Tudo perfeito. Eu mudei o plano de internet pra poder fazer o home office. Mais um gasto, aff. Pelo menos acabou o estresse de travar no meio das reuniões.

— Nossa, isso estressa mesmo.

— :I

— Então deixa eu te contar; tentando colocar em ação aquele plano de parar de comer carne.

— Tais certa, semana passada tive que trocar uma corrente de ouro que herdei da minha avó por um quilo de colchão mole 😊

— Igual vou te dizer que na feira o negócio não está muito melhor. Com R$20,00 só dá pra comprar variedade de tempero verde. ☹

— Dieta da clorofila miga…rs

— Tudo bem difícil mesmo. Mas também não podia ser diferente depois de tantos anos de corrupção. Tomara que estas reformas que o Governo quer fazer sejam aprovadas de uma vez.

— :I

— E essa cara? Sério que de novo você vai querer entrar em debate? Eu tenho o meu jeito de pensar e você tem o teu. Cada um tem seu pensamento.

— :I

— A gente não tem escutado desde sempre que o Brasil precisa de reformas? O Judiciário é super lento e os bandidos estão todos soltos. Educação pública está uma porcaria, aqui em casa a tarefa de cada mês é contar os centavos pra pagar a escola das crianças. Saúde um caos também. Ou não é isso? Eu estou torcendo pra que a Reforma Administrativa seja aprovada.

— Olha, esta proposta de Reforma Administrativa [1] que eles querem aprovar não vai melhorar os serviços que a gente usa, nem economizar dinheiro; também não é pra evitar abusos ou corrigir qualquer coisa errada. bem iludido quem pensa assim. A reforma que eles querem fazer, junto com outras bombas que já tão sendo votadas [2], serve pra acabar com os serviços que existem e ainda vai piorar as condições de trabalho dos servidores que estão lá na ponta pra nos atender.

— Acabou a aula?

— Não acabei, não. Quem dera eu tivesse acabado. Todas as políticas deste governo só servem pra beneficiar quem já está no poder. É só pra criar mais desigualdade. Me dá uma raiva. Você vai ver, vai ter um pouquinho de gente rica e um montão de gente cada vez mais pobre.

— De novo esta mesma ladainha, cansada de mimimi!

— Mimimi? Mimimi? mora na lua? Os deputados e senadores que estão lá em Brasília são na maioria empresários e representantes de empresários. Pra quem será que estão trabalhando?

— Por isso que eu sou antipolítica.

— Pera aí, não tem nada a ver com ser antipolítica. A política é justamente o espaço pra gente discutir e pensar como as coisas precisam ser feitas. Fico chocada em como este discurso contra a política pegou. Na verdade, a gente precisa de mais política e eleger pessoas que estejam comprometidas com os direitos e o bem-estar de todo mundo. Pensa só, aquele combo exploração ambiental e defesa do agronegócio não era pra garantir comida na mesa do brasileiro? “Passaram a boiada” com essa justificativa, mas no final das contas o mercado está pela hora da morte e a gente voltou pro Mapa da Fome. MAPA da FOME, sabe o que é isso?

— Olha, eu acho que você está embolando tudo, querendo me deixar confusa. Tem muita corrupção no serviço público, o número de servidores é altíssimo e, pra completar, eles não querem saber de trabalhar.

— …

— Viu, você sempre faz esta cara de superioridade. Por que está me olhando desse jeito? Estou mentindo?

— Estou pensando em como te responder. Vamos lá… é importante combater a corrupção, mas o debate político não se encerra nesta questão. Além disso, a corrupção existe tanto no setor público quanto no setor privado.

— …

— As grandes empresas são corruptas, meu bem. O tal do “véio da Havan” deve quase R$2,5 milhões só de contribuição previdenciária. Fora todas as demais isenções que ele consegue barganhar e que não estão a disposição do dono da loja de tecido aqui da cidade. Empresários como ele têm sido bem espertos em desmontar a estrutura do Estado e acabar com qualquer tipo de fiscalização. Querem mais vantagens para si. Os grandes empresários do bolsonarismo querem mais corrupção, não menos.

— Hum… não sei não… e esse tanto de servidor público ganhando fortunas? Consegue argumentar agora?

— Fortunas? De onde você tira estas ideias? Eu tenho uns dados aqui pra te mostrar.

— Olha, eu só queria matar a saudade, falar um pouquinho contigo, mas qualquer conversa vira briga. Eu preciso fazer o almoço, tenho que desligar.

— Tudo bem, eu também tenho coisas pra fazer aqui com as crianças. Mas olha, a gente tem que conversar. Política, religião, racismo e feminismo se discutem. A gente tem que superar este cenário de mentiras e fake news. Olha, as vezes eu me irrito com você, mas eu te amo e deixar de falar contigo não é uma opção pra mim. A gente vai ter que discutir sobre política e sobre o que está acontecendo no país. Mesmo que você não goste miga, a gente precisa conversar…

[1] PEC 36/20

[2] PEC 186/19 aprovada neste mês de março de 2021 e PECs 187/10 e 188/19 que ainda estão tramitando.

Coletivo Valente

O coletivo Valente nasceu em 2018 da vontade de um grupo de trabalhadoras do judiciário catarinense de Santa Catarina de unirem esforços não apenas em torno do debate das nossas especificidades, mas também da luta por vida digna e livre para todas as mulheres, a partir de uma perspectiva emancipacionista, antirracista e classista.

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