O mês de fevereiro começou com uma pesquisa presidencial, até aí tudo bem, afinal, já estamos em pré-campanha, ainda que não oficialmente. O que tem de absurdo nessa tal pesquisa da Genial/Quaest é a presença do cantor Gusttavo Lima como opção presidenciável. Longe de mim querer dizer quem pode ou não ser candidato. Mas podemos pedir um pouco mais de respeito pelo processo eleitoral, não é mesmo?

Não estamos satisfeitas ainda diante das diversas asneiras patrocinadas pelo alvoroço popular de figuras polêmicas, “fora da curva”, os chamados “outsiders”?

Assistimos, trancados em casa, milhares de brasileiros perderem a vida devido à total inabilidade de gestão de um inelegível, que, no entanto, se exalta por uma suposta competência desenvolvida ao longo de anos na Câmara Federal. Vimos assustadas, filas de pessoas, com seus poucos reais, lutando para comprar ossos e alimentar a família. Assustados, vimos o patrimônio ser destruído por pessoas que acreditavam romper com o Estado Democrático de Direito.

Com tudo isso, incomoda a possibilidade de considerarem possível, minimamente sério, um cantor sertanejo, sem proximidade alguma com o universo político-institucional, comandar um país de dimensões continentais e com tanta diversidade e desigualdade. Somente a boa vontade dele não importa. Alguém que não percebe as desigualdades, rejeita a diversidade e vive numa bolha cercada por grupos mais preocupados com o próprio lucro do que com o desenvolvimento do Brasil. 

Mais uma vez estamos testemunhando um circo se formando, o que parece fugir da memória de algumas pessoas que há alguns poucos anos viram uma grande manobra para eleger o inominável. Saber se está apto para a função pouco importa para essa turma, afinal, o cantor atinge os seus anseios por ser homem, branco e milionário. Mesmo que, todo seu sucesso e fortuna tenham origem duvidosa, isso não importa para o eleitorado extremista. 

Essa realidade evidencia uma cobrança desigual que recai sobre as mulheres quando se trata de candidaturas. Enquanto figuras como Gusttavo Lima são rapidamente aceitas como possíveis líderes, independentemente de suas qualificações, as mulheres enfrentam um escrutínio muito mais rigoroso.

Elas são frequentemente questionadas sobre sua competência, sua experiência e até mesmo sua capacidade de conciliar a vida pública com os afazeres domésticos. Essa pressão não se limita apenas ao campo político, mas reflete um padrão que permeia toda a sociedade, onde devemos provar constantemente nosso valor em um espaço que historicamente foi dominado por homens.

A falta de representatividade feminina na política é uma consequência direta dessa cobrança desproporcional. Muitas mulheres talentosas e capacitadas hesitam em se candidatar por medo do julgamento e da crítica, enquanto os homens são incentivados a ocupar esses espaços.

Essa dinâmica perpetua um ciclo vicioso, onde a ausência de mulheres na política reforça a ideia de que elas não pertencem a esse ambiente.

Se queremos ver mudanças reais e progressistas em nossa sociedade, é fundamental que comecemos a valorizar e apoiar as candidaturas femininas, reconhecendo que elas trazem perspectivas únicas e necessárias para o debate público.

É crucial que todos nós questionemos as normas estabelecidas e lutemos contra essa desigualdade de tratamento nas esferas política e social. Precisamos promover um ambiente onde as mulheres possam se sentir encorajadas a se candidatar sem o peso da culpa ou do julgamento excessivo.

A verdadeira democracia deve refletir a diversidade da nossa população, e isso só será possível quando todas as vozes forem ouvidas e respeitadas, independente de gênero. Portanto, ao invés de celebrarmos apenas os “outsiders” masculinos, devemos também apoiar aquelas que têm coragem de entrar nesse jogo político e desafiar o status quo. Somos nós que podemos trazer as mudanças necessárias para um futuro mais justo e igualitário.

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  • Bia Vargas

    Catarinense de 38 anos começou a empreender quando foi mãe. Voluntária social desde os 13 anos passando por grupo de jov...

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