Sandy Adriane Mello Rodrigues, 15 anos, negra, pobre, moradora da Vila Cruzeiro, em Porto Alegre, morreu após ser estuprada e esfaqueada no pescoço na madrugada do último domingo, em sua casa. Sandy Adriane foi encontrada pela mãe enquanto agonizava. Sequer seu nome contou nas pequenas notícias publicadas sobre o crime. “Estamos indignadas. Uma nota de menos de dez linhas nos jornais de Porto Alegre neste final de semana foi o anúncio do assassinado”, diz a carta “Denunciamos e exigimos providências: todas por Sandy” do Coletivo Feminino Plural.

As manifestantes denunciam a “escalada de violência sexual associada a outras violências, com o uso de armas” na capital Gaúcha. Segundo afirmam, as ameaças de maior violência têm inibido mulheres na busca por ajuda.

“Este fato provoca não só revolta em todas nós, integrantes dos movimentos de mulheres e feministas do Rio Grande do Sul: exigimos providências para que a morte de Sandy seja esclarecida, que a sua família possa ser acolhida e apoiada, e além disso, medidas concretas para assegurar que a vida e a integridade de todas as mulheres e meninas deste Estado sejam protegidas”, diz um trecho da carta.

Visibilidade seletiva

No documento, as manifestantes questionam aquilo que chamam de “visibilidade seletiva dos estupros e assassinatos de mulheres e meninas em Porto Alegre”.

“As vítimas principais são as mulheres pobres das periferias, cujas mortes não provocam as mesmas reações daquelas obtidas quando ocorridas em bairros nobres e com pessoas de classes sociais elevadas”, afirmam na carta.

De acordo com o coletivo, Sandy se enquadra no perfil das maiores vítimas de violência fatal de gênero em Porto Alegre. Segundo estudo recente elaborado por pesquisadoras da UFRGS, dos 89 inquéritos analisados, 64 mortes (72%) foram tipificadas como feminicídios, e as vítimas eram jovens, negras, com baixa escolaridade, exerciam ocupações pouco valorizadas socialmente e viviam nos bairros mais pobres da cidade. Para o coletivo, os dados mostram uma “associação nítida entre a discriminação por gênero e o racismo.”

As feministas afirmam ainda que a violência contra as mulheres é um problema grave da sociedade e que cabe ao Estado a tomada de medidas para prevenir, punir e erradicar, como recomenda a Convenção de Belém do Pará (1994), a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação (CEDAW) e a Lei Maria da Penha, que fez 10 anos. “Continuaremos a denunciar e a exigir providências, nos solidarizando com todas as mulheres e meninas”.

Legitimação das violências

“Para o Coletivo Feminino Plural e a Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, integrantes do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre, a cultura machista, associada à  falta de políticas preventivas à violência contra as mulheres e outros segmentos da sociedade considerados socialmente excluídos, o desmonte dos organismos de políticas para as mulheres e dos serviços cuja qualidade já foram referência nacional, a inexistência de iniciativas como campanhas públicas de prevenção à violência e valorização social das mulheres, tem sido fatores de legitimação das violências e alimentação da cultura do estupro”, diz outro trecho da carta.

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