A cantora Cássia Raquel é carioca, começou cantando na igreja de seus pais, em 2010 ingressou no curso de Bacharelado em Canto na Escola de Música da UFRJ.  Participou em 2008 do programa “Ídolos” e gravou seu primeiro Cd autoral.  Atualmente tem uma trajetória profissional admirável. Atua em grandes produções de musicais no eixo Rio – São Paulo. Dentre os principais estão: “Hair”, “Milton Nascimento – Nada será como antes”, “60! Década de Arromba” e “Les misérables” (os dois últimos estão concorrendo a vários prêmios). Diante de todo seu talento, suas belíssimas atuações e dedicação, ela foi indicada como a melhor Sub/Swing ao 2º Prêmio Musical Cast. A indicação é mais que merecida! Quem acompanha o trabalho dela pela rede, sabe da voz linda que ela tem e a seriedade  ao seu trabalho.

Aproveitando que estamos na semana da Consciência Negra, convidei a cantora (que gentilmente atendeu o convite) para falar uma pouco da sua trajetória e dificuldades que enfrenta como mulher negra no cenário da música teatral que ainda é predominantemente branco.

Foto: divulgação

Ela pontua:
“Tem categorias fora do comum e eu estou como melhor sub. Ser indicada a um prêmio, mesmo que simbólico, é deveras algo a se comemorar. Na categoria de melhor sub (cover) a comemoração deve ser maior ainda, pois o trabalho é dobrado (no meu caso triplicado, já que além de plot de ensemble, tenho que estar pronta para duas personagens de destaque).

Depois da estreia, aí que a gente mais trabalha! Mais ensaios seguidos de sessão, mais cansaço e a difícil missão de não imitar o colega titular dando a sua própria identidade. Nas franquias essa missão é mais complexa, pois não há tanto espaço para criação; portanto, encaixar seu corpo e voz numa coisa que a platéia já conhece é árduo!

Tive a sorte de não ouvir um “aaahhh” decepcionado do público quando soube que haveria substituição, mas tive o desprazer de pessoas que se resumem a assistir produções de um único teatro, que seriam rigorosos comigo porque não me conheciam! Felizmente, a internet possibilita quem tem interesse em apreciar o talento de um artista, basta clicar seu nome.

A função de ser cover é ingrata já que só entramos em cena com notoriedade quando o colega precisa se ausentar. Raramente conseguimos convidar amigos para nos prestigiar nesse papel e não há como ter uma recordação dessas datas. Não há portfólio. Poucas são as vezes que os espectadores reconhecem seu rosto na porta do teatro. Nem sempre se recebe um “parabéns”.

Não há espaço para erros! Quem faz todo dia igual, está acostumado com uma respiração, com um tipo de presença. Por mais competente que seja o ator, não tem como negar que as mudanças, mesmo que simples, não  façam diferença. E quando propomos novidades, não podemos exagerar para não atrapalhar o todo ou até causar risadas e o foco da cena se perder.

Além de tudo, há o fato de uma negra ser esbranquiçada com cabelos loiros ao invés de um visagismo mais realista. É difícil pra mim, uma militante da causa aceitar isso!

Diante disso, alguém lembrar da nossa existência e notar nossa competência é uma alegria sem par”.

A fala da Cássia soa como um “eco”  de tantas outras cantoras negras do campo da música teatral e de todas nós pessoas negras que vivemos sob a exigência descomunal de sermos excepcionais- “os melhores do mundo” para que possamos pelo menos sermos lembradas/os na nossa existência!

Fica aqui o meu chamada aos leitores e seguidores: VOTEM na Cássia Raquel!

Empodere uma mana preta!

 

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  • Antonilde Rosa

    Antonilde é cantora, formanda em Bacharelado em Canto Lírico pela UFG. Ativista dos Feminismos negro,é integrante da Red...

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