Por muito tempo, a palavra valente nos remeteu exclusivamente a figuras masculinas, homens narrados em histórias fantásticas. Em 1995 era lançado o filme Brave Heart (Coração Valente) que narra a luta do povo escocês por liberdade no século XIII. Nele William Wallace, personagem heroico que condizia os revoltosos, dizia: “Todo homem morre, mas nem todo homem vive.”

William Wallace é um exemplo perfeito desse imaginário que por muito tempo esteve relacionado à palavra valente, o do super-homem com frases de efeito. Dezessete anos mais tarde, o mesmo cinema nos trouxe Merida, a princesa rebelde de Brave (Valente). Merida cavalga sozinha, domina o arco e flecha, questiona a determinação de se casar, falha com quem ama e ainda assim costura uma solução para os conflitos familiares e de Estados.

A bravura está ali ilustrada com outras tintas, representada por outro gênero, valente também pode ser uma garota. Porém, tão importante quanto reconhecer que características como a coragem são próprias de homem e mulheres, é também a gente se perguntar: em que gestos mora essa bravura? Como alcançá-la?

Para nós, trabalhadoras do Judiciário de SC, a coragem foi e vem sendo posta à prova desde 2018, quando resolvemos nos organizar através de um coletivo feminista, classista e antirracista. Nosso debate se iniciou dentro do SINJUSC, Sindicato dxs Trabalhadorxs do Poder Judiciário. Ali constatamos que além das nossas particularidades, o que aspiramos é a independência de todas as mulheres.

Ainda naquele ano avançamos com a publicação da primeira edição da revista Valente abordando a temática feminista, trazendo questões de gênero e denunciando um Judiciário sexista e misógino. A partir daí não paramos, seguimos com encontros, formações e encarando um cotidiano duro, mas que nos encoraja a reagir, responder e não coadunar com homogeneidade branca e masculina.

O Brasil de Bolsonaro tem nos desafiado ainda mais. A naturalização da desigualdade de gênero, a promoção da violência contra grupos LGBTQI+, ataques as mulheres negras e periféricas, precarização do mundo do trabalho, são métodos utilizados pelo governo para perfectibilizar o projeto branco, masculino e violento característicos da extrema direita. Essa conjuntura dá ainda mais sentido ao coletivo, que apesar de toda dificuldade, busca combater essas práticas, engajar mais mulheres e sensibilizar a comunidade dessa realidade.

Com muito prazer nos juntamos à luta, em permanente desconstrução, Coletivo Valente, presente.
(Liliane Fátima Araújo e Josiane Censi, servidoras do Judiciário de Santa Catarina, diretoras sindicais e integrantes do coletivo valente).

Coletivo Valente

O coletivo Valente nasceu em 2018 da vontade de um grupo de trabalhadoras do judiciário catarinense de Santa Catarina de unirem esforços não apenas em torno do debate das nossas especificidades, mas também da luta por vida digna e livre para todas as mulheres, a partir de uma perspectiva emancipacionista, antirracista e classista.

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