A Covid-19 escancarou as diferenças e ceifou vidas, mas também revelou a incompetência do Governo Federal para proteger e resguardar sua população

Esta semana, os temas fome e pobreza invadiram a mídia. Na segunda-feira (17), um estudo muito importante, realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) e publicado por um dos maiores jornais do Brasil, mostrou que o país está R$165,8 bi mais pobre por conta das vidas perdidas para a Covid-19. O instituto avaliou as mortes a partir dos critérios de impacto econômico e social.

Quando foi divulgada, 432 mil brasileiros haviam perdido a batalha contra a doença, como resultado da lentidão do Governo Federal em comprar vacinas e prestar socorro. Sem imunização, médicos, estudantes, donas de casa, pessoas em situação de rua, advogados, jornalistas, professores, pedreiros e padeiros, entre centenas de brasileiros, tiveram suas trajetórias interrompidas. A doença não escolheu raça, cor ou condição social.

Mais de um ano após o início da pandemia, o resultado é um país muito mais frágil do ponto de vista intelectual e de produção. A pandemia desestruturou famílias, deixando-as órfãs. Mas também interrompeu profissionais de destaque e competência em suas áreas no auge de sua capacidade produtiva.  E, mais do que isso, levou embora gente que era o amor de alguém.

No meio da semana, foi a vez de um programa escancarar o que nós, do movimento Renda Básica que Queremos, repetimos como mantra há mais de um ano: as pessoas estão com fome. Há os que perderam empregos, os que estão com sequelas da Covid-19, os que estão sem esperança. Com os filhos, se instalam pelas ruas das grandes cidades, especialmente em São Paulo, motivados muito provavelmente pelo sonho de que “a maior e mais rica cidade do país” pode oferecer alguma perspectiva para eles e suas famílias.

A TV deu espaço a essas pessoas, revelando a cara e a voz delas, mas há milhares pelo país. Centenas enviam mensagens diariamente para a página do movimento nas redes sociais, pedindo ajuda e esclarecimentos sobre o auxílio emergencial. Há os que tiveram esse direito reconhecido na justiça, foram aprovados e novamente negados. Há os que foram considerados mortos. Em comum, apenas a necessidade urgente de comida, de solução, de amparo.

Levantamento divulgado há poucos dias, feito pelo Datafolha, mostrou que um em cada quatro brasileiros teve menos comida à mesa nos últimos meses da pandemia. Dos entrevistados ouvidos, em 146 municípios, 88% revelaram que têm a percepção de que a fome aumentou no país.

O Brasil está mais pobre, sim! E segue sem rumo, sem vacina, sem auxílio emergencial digno, sem proteção social. Quem vai zelar pelas mulheres e crianças que vivem expostas nas ruas não apenas à fome, mas a todo tipo de exploração e violência – da física e mental à sexual? Quem vai mostrar para essas crianças alguma opção que não seja a miséria a que parecem condenadas?

Vale lembrar que, num país em que o governo não fortalece os mecanismos de assistência social e proteção de sua população, todos nós estamos expostos, especialmente os mais vulneráveis. Só conseguimos ver a indiferença de quem conduz esta nação aumentando dia a dia. Com isso, leva cada vez mais gente para a fome, a miséria, a indigência e a desesperança.

As pessoas que morreram por ineficiência do Governo Federal não são números. São brasileiros como eu e você. As que vivem nas ruas ou em suas casas, sob ameaça de despejo, com panelas vazias, não são estatísticas. São pessoas, com histórias, mas com vidas em suspenso porque, sem alternativa, precisam que outras, como as que estão na nossa campanha, sejam a voz delas.

Enquanto os números de imunizados avançam em ritmo lento e o de mortos e contaminados continuam em ascensão, assim como o dos brasileiros que engrossam as filas de miseráveis, continuaremos aqui pressionado e esclarecendo. E vamos dizer em voz cada vez mais forte: queremos comida no prato e vacina no braço para todos!

*Paola Carvalho é diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, uma das 300 organizações responsáveis pela campanha #auxílioateofimdapandemia 

 

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  • Paola Carvalho

    Assistente social, especialista em Gestão de Políticas Públicas na perspectiva de gênero e promoção da igualdade racial,...

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