No caos do coronavírus, em parte construído pela ausência de postura humana do então presidente da República, somando-se ao desmonte das políticas públicas, precisamos buscar um motivo para alegrar nossos corações.

E foi assim que sextouuu na live da Teresa Cristina. A cantora, compositora e intérprete realiza suas transmissões ao vivo desde 15 de março, quando o país começou a parar pela necessidade de isolamento social. Sem ter muito o que fazer, não podendo aglomerar, a cantora passou a movimentar muitas/os artistas em seu perfil no Instagram @teresacristinaoficial. São em média, três horas por dia de transmissão, entre diálogos e apresentações musicais por personalidades renomadas e outras ainda desconhecidas do grande público.

Além de ouvir excelentes composições, a/o espectador pode ainda acessar narrativas histórias sobre o contexto de surgimento de determinadas canções, muitas vezes contadas pelo próprio autor ou autora. Além disso, os novos talentos também têm espaço para expressar suas composições, poesia e tantas outras artes.

A cantora fez campanha nas redes sociais pedindo para que os fãs se inscrevessem no canal do YouTube para aumentar o alcance de financiamento do seu trabalho. Vale ressaltar, entre seus inúmeros fãs, surge o perfil @cristiners em apoio à cantora, uma bela campanha de mobilização em busca de patrocínio. Em dois meses das chamadas lives, em meio à crise da pandemia, ela conseguiu o seu primeiro patrocínio da carreira de mais de 20 anos.

A incompreensão das marcas sobre o trabalho e potência dessa artista é mais uma prova do racismo na sociedade brasileira. ‘Isso fala muito de como é o Brasil. As pessoas gostam de dar dinheiro a quem já tem, não sei explicar […] Essa coisa de patrocínio, às vezes, é uma coisa muito ingrata. A gente fica invisível, sabe? Eu sou invisível desde 1998″, disse a cantora nessa entrevista.

Mesmo diante dessa realidade, Teresa Cristina mostrou sua força de engajamento. Desde o começo da quarentena, o número de seguidores mais que triplicou no Instagram. Antes eram 98 mil e hoje ela fala com mais de 340 mil pessoas. “A quantidade de artistas, de pessoas brancas que têm uma carreira facilitada para tudo…Isso é uma coisa que a gente não fala, porque a gente está cansado de falar”, disse ao G1.

Durante as lives, a cantora e compositora demarca o seu posicionamento político como progressista, faz denúncias relacionadas aos acontecimentos da política nacional, defendendo o que acredita. A artista respeita a diversidade de pensamento sem, no entanto, dar espaço para manifestações fascistas. Já houve situações em que expulsou e bloqueou apoiadores de Bolsonaro.

Na última sexta-feira, entre vários convidados ilustres, apareceu Benedita da Silva, deputada federal pelo PT. Benedita é responsável por uma conquista recente do movimento negro: foi ela quem protocolou o pedido de consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que as candidaturas negras pudessem ter direito ao financiamento de campanha eleitoral de forma proporcional. Benedita da Silva é também a única ex-governadora viva do Rio de Janeiro que nunca foi presa.

Benê, como os cariocas a chamam, logo puxou os sambas do cantor e compositor João Nogueira “Minha missão” e “Poder da criação”, levando a plateia virtual ao delírio.

Teresa Cristina é a prova de que é possível no caos, termos esperança no ser humano e na construção de um mundo melhor para todos. Vejo nela a incorporação da frase da filósofa e ativista Angela Davis: “quando uma mulher negra se movimenta, a sociedade se movimenta junto”.

À Teresa Cristina, minha gratidão por me fazer companhia todas as noites, rindo ou chorando, estaremos juntas cantando.

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  • Cirene Candido

    Cirene Candido é formada em Gestão Ambiental, técnica em Segurança do Trabalho e militante feminista pelos direitos das...

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