Tanque
Foi esfregar as anáguas outra vez. Maria nem sabia porque com ela o pai ficava tão irritado. Desde os doze era aquilo. De tão nervosa lavava roupas, esfregava no tanque as anáguas junto, as mãos cansando a carne quase viva. Mas não sem antes parar naquele braço do sofá e se esfregar até sorrir. Maria era muito sabida dos meios que a faziam sobreviver sorrindo. O pai dizia “vem cá minha filha, papai é que pode te proteger, não se esqueça”. E o pai protegia, com muito jeito botava Maria no colo, Maria já mocinha, dizia ele que não se desobedece os pais. Pegava nos cabelos da filha, nas pernas, depois tudo ficava esquisito porque em Maria doía, mas era o pai, aquele homem tão nervoso, e ela nunca fugiu. Cresceu entre poucos amigos, às vezes namoros de um mês, poucas vezes sorrindo eram às vezes de Maria; “já pro quarto, papai já vem”. Lhe doía as lembranças, assim também os medos que não cicatrizaram e cada volta pra casa. A mãe já tinha ido, numa ida bem longe porque ninguém mais viu. É que a mãe disse um dia “tá pra nascer homem que vai mandar em mim”, tão logo o primeiro olho em púrpura e perdeu o norte, deixou a menina e fugiu dos escuros. Madalena nunca mais foi a mesma Maria.