Impossível falar de masturbação feminina sem falar do clitóris,  esse órgão sensacional que nós mulheres guardamos em nosso corpo. Por isso, faremos uma abordagem histórica sobre as visões acerca da constituição e função deste órgão.

Na história da medicina, considera-se que o clitóris foi “descoberto” algumas vezes por cientistas diferentes até ser incluído de vez na literatura médica. O pai da medicina, Hipócrates, acreditava que o clitóris desempenhava um papel importante na reprodução, pois segundo ele, a mulher só ficaria grávida se chegasse ao orgasmo. Na Idade Média, durante a caça às bruxas, o clitóris chegou a ser apontado como “a marca do diabo”, foi acusado de ser responsável pelo lesbianismo, pela cegueira e pelo desequilíbrio mental.

Em 1875, o biólogo belga Edouard Van Beneden descobriu a verdade sobre a fecundação e, involuntariamente, colocou o clitóris ao ostracismo. Na década de 1960 o clitóris volta a ser encarado como parte importante da sexualidade feminina. Mas somente em 2009 cientistas conseguiram entender alguns detalhes importantes desse órgão.

Aproximadamente, o clitóris tem 8 mil feixes de fibras nervosas – mais do que qualquer parte do corpo humano e duas vezes mais do que a quantidade encontrada na cabeça do pênis. A sua maior parte é subterrânea e constituída a partir de dois corpos cavernosos, duas cruras e o bulbo clitoridiano.

A glande é conectada ao corpo ou eixo do clitóris interno, o qual é feito de dois corpos cavernosos. Quando esses tecidos ficam eretos, eles revestem a vagina de ambos os lados, como se estivessem enrolando-se e abraçando o órgão sexual da mulher.

Estudos atuais relatam a conexão extrema entre o órgão sexual e o cérebro. O sexo realmente começa e termina na cabeça no feminino. Em 2013, a escritora feminista Naomi Wolf lançou o livro Vagina – Uma Biografia, em que descreve com mais detalhes essa conexão. Para a autora, os hormônios liberados durante o sexo e a masturbação contribuiriam com a autoconfiança e a criatividade das mulheres: “Dada essa enxurrada química, é possível dizer que a vagina não é apenas um órgão sexual, mas um mediador poderoso de confiança e criatividade do sexo feminino”.

Segundo ainda a escritora, isso explicaria por que durante milênios a sexualidade das mulheres foi reprimida: “A liberação de dopamina também explica por que algumas culturas insistem na mutilação genital, uma prática que, agora nós sabemos, altera não apenas o corpo e a atividade sexual, mas também influencia no próprio cérebro feminino.”

Mais de 100 milhões de mulheres já foram submetidas, e ainda são, a um dos três procedimentos classificados pela ONU como mutilação genital: a clitoridectomia, que é a remoção parcial ou total do clitóris; a excisão, que também remove total ou parcialmente os pequenos e grandes lábios; e a infibulação, o estreitamento do canal vaginal com ou sem remoção clitoriana. A justificativa dessa prática, para além de questões religiosas e ritualísticas, é reduzir ou exterminar o desejo sexual feminino e garantir que a virgindade, pré-requisito para o casamento, seja mantida.

Ainda hoje, livros de sexologia, exceto aqueles escritos por feministas – descrevem o prazer clitoriano como imaturo (Freud) ou como uso preliminar à penetração. Mas, os estudos atuais, aprovam justamente o contrário. Sabemos hoje que a excitação feminina está relacionada a ereção clitoriana e não somente à umidade vaginal. E o mais surpreendente e maravilhoso é que a única função desse órgão e de nos dar prazer! Quebrando paradigmas, o sexo solitário é uma das melhores formas de apreender nosso órgão sexual.

Inveja do pênis? Nem pensar! Eu amo minha vagina e o meu botão do prazer!

Esse texto integra a pesquisa que deu origem à exposição “Conhece-te a ti mesma” de Angelita Cardoso, que segue até 23 de março em exposição no Sítio Arte e Educação em Florianópolis. Outros capítulos serão publicados na coluna.  

 

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  • Angelita Cardoso

    Artista plástica, historiadora e pesquisadora de imagens. Em seu trabalho utiliza técnicas como gravura em metal, aquare...

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