eu gostei de quando você disse
“melhor mergulhar pra cima
fingindo dominar a queda”
é essa mistura de peixe pássaro anjo
na boca humana
que você costuma dizer tão bem

acho
que eu não estive nas janelas
nesses últimos meses
tenho procurado terra e pele
e calor
seria mais restrito que as janelas todas
esse contato com o mundo
qual mundo?

eu não sei se posso dizer que
meu ponto de vista oscila
sem parar
mas sei que todos os dias
de nova e de nova
tateio minha própria face
em busca do que de terra e pele
e calor
existe aqui

essa repetição diferente
que me salva a cada dia
na ilusão de uma receita de geleia
que será boa o suficiente
para me deixar feliz

eu ainda aguardo as próximas instruções
dos instrumentos de trabalho
palavras
terra pele calor
eu aguardo e tento
executá-las todos os dias

*Ariele Louise

 

Abrasabarca

ABRASABARCA se dedica à pesquisa, descoberta e (re)invenção poética. Somos um coletivo que se formou em encontros para ler poemas e falar de literatura em torno da mesa, da fogueira, do vinho, dos livros. A brincadeira de ler em conjunto o texto de outras e outros nos trouxe o desafio e o prazer da escrita autoral. Formado por Ariele Louise, Ana Araújo, Elisa Tonon, Ibriela Sevilla, Juliana Ben, Juliana Pereira e Luciana Tiscoski, realizou as publicações Abrasabarca (Medusa, 2018) e Revoluta (Caiaponte, 2019). Principais performances: Durar ou arder? (Quinta Maldita, 2018), Uma mulher o que é? (Sarau da Tainha, 2019), Como olhas? (FestiPoa Literária, 2019), Revoluta (Bienal Internacional de Curitiba/ Polo SC, 2019).

Últimas