Soube hoje que os índices de poluição despencaram
enquanto despencam os corpos
soube que geólogos registraram a diminuição de ruídos sísmicos,
barulho gerado pela vibração na crosta terrestre que pode ser medido por sismógrafos

mas aqui, do lado de fora e de dentro da minha casa
fora e dentro do meu corpo
um barulhão não me deixa pensar direito

embora os minutos pareçam conter eternidades
já não há tempo de desaprender o mapa da razão

aqui, no meu fora dentro pulsante
os peixes vivem
mesmo com a água no pescoço
suas barbatanas brilham, refletindo a luz de um tempo
que não vem
os peixes
são a vivacidade que não me deixa mentir
que me espera
que me fita
que me alcança

no aquário
o vidro das janelas
guarda respostas a mistérios
jamais enfrentados
como a dúvida de que haja par
no Real à vida que se grava
naquela foto da água-viva de águas
profundas onde a humanidade
nunca esteve em presença corpórea

baleias azuis são vistas
pela primeira vez
na Antártida depois de 40 anos
em Veneza peixes prateados
dançam em canais verdes

  *Poema coletivo.
Abrasabarca

ABRASABARCA se dedica à pesquisa, descoberta e (re)invenção poética. Somos um coletivo que se formou em encontros para ler poemas e falar de literatura em torno da mesa, da fogueira, do vinho, dos livros. A brincadeira de ler em conjunto o texto de outras e outros nos trouxe o desafio e o prazer da escrita autoral. Formado por Ariele Louise, Ana Araújo, Elisa Tonon, Ibriela Sevilla, Juliana Ben, Juliana Pereira e Luciana Tiscoski, realizou as publicações Abrasabarca (Medusa, 2018) e Revoluta (Caiaponte, 2019). Principais performances: Durar ou arder? (Quinta Maldita, 2018), Uma mulher o que é? (Sarau da Tainha, 2019), Como olhas? (FestiPoa Literária, 2019), Revoluta (Bienal Internacional de Curitiba/ Polo SC, 2019).

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