
Poéticas da Convivência: desaprender o mapa da razão
Soube hoje que os índices de poluição despencaram
enquanto despencam os corpos
soube que geólogos registraram a diminuição de ruídos sísmicos,
barulho gerado pela vibração na crosta terrestre que pode ser medido por sismógrafos
mas aqui, do lado de fora e de dentro da minha casa
fora e dentro do meu corpo
um barulhão não me deixa pensar direito
embora os minutos pareçam conter eternidades
já não há tempo de desaprender o mapa da razão
aqui, no meu fora dentro pulsante
os peixes vivem
mesmo com a água no pescoço
suas barbatanas brilham, refletindo a luz de um tempo
que não vem
os peixes
são a vivacidade que não me deixa mentir
que me espera
que me fita
que me alcança
no aquário
o vidro das janelas
guarda respostas a mistérios
jamais enfrentados
como a dúvida de que haja par
no Real à vida que se grava
naquela foto da água-viva de águas
profundas onde a humanidade
nunca esteve em presença corpórea
baleias azuis são vistas
pela primeira vez
na Antártida depois de 40 anos
em Veneza peixes prateados
dançam em canais verdes