O preconceito contra pessoas com deficiência é mascarado
Na sociedade em que vivemos hoje, reza a lenda que o preconceito foi deixado para trás. Que não existem mais resquícios de violência praticada contra as minorias sociais, e, ainda, que é possível viver em perfeita harmonia com aqueles que, por anos, foram os que nos agrediram e abusaram. Ao visitar a realidade mascarada que escreveram para pessoas com deficiência, o filtro fica mais forte ainda. Não só é afirmado que não existe mais opressão, como mascara-se que indivíduos com limitações físicas e intelectuais são muito bem vindos. Ah, quem dera.
Há alguns dias, um “coach de emagrecimento”, conforme o profissional se intitula, publicou nas suas redes sociais que faria um workshop direcionado para pessoas que não querem que o seu filho nasça com condições como autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, dificuldades na fala, visão, deficiências físicas ou intelectuais, entre outras questões. De acordo com o próprio, os hábitos de vida da mãe determinam o desenvolvimento do bebê durante a gestação.
Não é preciso grandes teorias para saber que deficiências e condições genéticas possuem causas diferenciadas, que nem sempre dependem dos hábitos de vida da genitora de um bebê. No entanto, a questão a ser enfatizada não é o artifício superficial e mentiroso para vender um conteúdo medíocre com uma divulgação bastante apelativa. A chamada é para a ideia de que nascer com uma deficiência, além de um grande desastre, é completamente evitável.
O preconceito contra pessoas com deficiência não só ainda existe, como toma novas formas a cada dia. Já não é mais aceitável ou, como gostam de usar, politicamente correto, pregar o ódio explícito aos PCD’s. No entanto, a infantilização, inferiorização e invisibilidade do nosso grupo e das nossas pautas permanece e se fortalece cada vez mais. Pessoas com deficiência seguem tentando resistir à uma sociedade que reproduz comportamentos capacitistas.
Não podemos romantizar a deficiência a ponto de achar que não é um desafio nascer com limitações físicas ou intelectuais nos dias de hoje. Sobretudo, o diagnóstico de uma condição corporal não é uma condenação para a vida. É possível, sim, ter deficiência e viver uma vida saudável, plena e feliz.
Neste mês de setembro, alusivo à luta da pessoa com deficiência, ainda precisamos bater em teclas muito básicas, de expressões de preconceito que já deveriam ter superadas. Da mesma maneira que eles se aprimoram nos comportamentos capacitistas, nós nos reconhecemos e nos aprimorados em lutar e resistir.