Ricos se tornam super-ricos e pobres viram miseráveis na nação em que o presidente propõe um programa que não atende os mais vulneráveis

A pandemia escancarou as diferenças no Brasil. E mais de um ano depois da chegada da Covid-19 ao país, a distância entre os mais ricos e mais pobres está abissal. Prova disso é o levantamento da consultoria britânica Newmark, que revelou o número de brasileiros com patrimônio com mais de 1 milhão de dólares até 2025. São 481 mil pessoas, um crescimento de 29% em relação a 2020.

Para chegar a essa conclusão, a consultoria criou um modelo que leva em conta informações de 600 fontes pelo mundo, incluindo a nata dos private banks e consultores. A lista dos super-ricos é montada levando em consideração o patrimônio líquido e até residência principal mais valiosa de cada um deles.

Na outra ponta do país, o que temos é o aumento da pobreza e até mesmo da indigência. Reportagem publicada no Uol, há alguns dias, revela que o índice de miséria no Brasil atingiu 23,7 pontos em maio, o maior em nove anos.

Esse percentual é calculado a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e foi acelerado por causa da inflação, do alto custo de vida, da queda na renda do brasileiro e claro, pelo aumento do desemprego.

No meio desses números tão díspares, ainda temos o aumento inclusive dos moradores em situação de rua. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostraram que, em setembro de 2012, existiam mais de 92 mil pessoas vivendo nas ruas do país. No início do ano passado, quando a pandemia já dava sinais por aqui, esse número havia chegado a 221 mil pessoas.

Não há no momento um levantamento atualizado. Mas a percepção que se tem é que a quantidade de pessoas nessa situação aumentou em cidades como São Paulo, que deve ter atualmente 20 mil sem-teto, de acordo com estimativas. E também mudou o perfil de quem faz da rua a sua morada. Hoje, há mais casais, além de mulheres sozinhas ou com filhos.

No país das famílias chefiadas majoritariamente por mulheres (de acordo com o Ipea, o percentual de casas comandadas por elas pulou em 23 anos de 25% para 45% em 2018), a proteção dos programas sociais não chega a quem realmente precisa.

Ciclos de pobreza e miséria se repetem, como histórias com fim triste já programado. Ao mesmo tempo, o governo ensaia uma proposta de auxílio para substituir o Bolsa Família que não oferece as condições mínimas de sobrevivência nem amparo a quem mais precisa.

E pior: desconsidera todos os ensinamentos aprendidos ao longo dos anos com o Bolsa Família e com mais de um ano de auxílio emergencial, oportunidades em que foram apontados gargalos e falhas nos sistemas de adesão e controle de pagamento desses benefícios.

Enquanto o governo finge que se preocupa efetivamente com o bem-estar dos mais pobres, a pandemia segue fazendo vítimas e ceifando vidas ou sonhos.

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  • Paola Carvalho

    Assistente social, especialista em Gestão de Políticas Públicas na perspectiva de gênero e promoção da igualdade racial,...

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