“Mulheres originárias: Reflorestando mentes para a cura da Terra”. O tema da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Indígenas é resultado da convergência entre as cinco mil mulheres, de 172 Povos Indígenas, de todos os biomas do Brasil, que ocuparam Brasília para demarcar a luta política mais central do país. São séculos de insurgência contra os massacres coloniais que devastam nossas mentes, corpos e territórios.

Acompanhamos mais uma sessão do julgamento mais importante do país, sobre a tese genocida do ‘marco temporal’. O primeiro ministro a votar foi Edson Fachin, que reafirmou o seu voto reconhecendo o nosso direito originário, #MarcoTemporalNão! Comemoramos muito essa vitória com cantos e danças na tenda do encontro na capital federal. 

O segundo Ministro a votar foi Nuno Marques, bolsonarista genocida que votou contra os Povos Indígenas, abrindo divergência a favor do ‘marco temporal’, do governo e do agronegócio. O Ministro Alexandre de Moraes pediu vista e o julgamento ficou suspenso por tempo indeterminado. Seguiremos acompanhando.

Assista ao julgamento:

Saímos em marcha para mostrarmos aos nossos parentes, aos governantes, ao país e ao mundo a força da nossa ancestralidade. Somos guerreiras e iremos lutar sempre! Superamos as inseguranças e os medos vividos pelo conflito estimulado nos atos antidemocráticos que aconteceram em Brasília, com os ataques de bolsonaristas, com a precarização das instalações no acampamento. Nos agarramos à esperança de dias melhores para nós.

Lutamos por nossas vidas, pelo direito à nossa existência, contra as violências históricas cometidas às mulheres indígenas, contra os feminicídios. Nos unimos em uma só voz para dizermos: Raíssa Guarani-Kaiowá Presente! Daiane Kaingang presente!

Foto: Pietra Dolamita Kowawá Kapukaya Apurinã (@pietradolamita)

O desejar perverso do capitalismo

Falaram que trocamos nossas riquezas por espelhos e bugigangas com os portugueses. Falaram que não valorizamos nossas riquezas. Mas é necessário entender o que é riqueza para os Povos Indígenas e o que é riqueza para os povos não indígenas. Falaram que éramos preguiçosos, pois não temos ainda a ideia do acúmulo e do processo do capital dentro da nossa ancestralidade. Ainda nos perguntamos hoje: o que seduz?

Foto: Pietra Dolamita Kowawá Kapukaya Apurinã (@pietradolamita).

A sociedade ocidental ainda vive, e ainda é, algo extremamente sedutor para os olhos, para alguém que nunca viu. Quando você olha para o espelho você vê a sua imagem, mas você também pode projetar uma imagem que você não vê, mas que você pode sonhar, pode desejar.

É isso que o capital produz em mentes que não estão preparadas para conhecer esse outro mundo, o desejar. E o desejar do capitalismo é um desejar perverso que produz esse desejo, produz o desejo para que o indígena queira ter algo que não lhe pertence, e esse não lhe pertencer é produzido a partir de uma matriz de exploração de um ser humano contra outro ser humano.

No sentido dessa exploração, essa sedução é tão perversa que ela adentra os nossos territórios através de muitas ações que podem ter uma sutileza, uma ingenuidade, algo que a gente despercebido, mas que vai adentrando como um evangelismo com seus deuses, e um dia está pertencendo à comunidade, aos territórios. É o espelho que ainda seduz.

Seduz o indígena, seduz o não indígena, seduz uma sociedade que ainda não se preparou para entender como vivem outros povos. Esse eurocentrismo está vivo e continua colonizando ou tentando colonizar os corpos e as corpas, o nosso modo de viver no mundo. É necessário muito cuidado com os vícios e a beleza de uma medusa porque o espelho, muitas vezes, pode nos transformar em pedra.

espelho
Foto: Pietra Dolamita Kowawá Kapukaya Apurinã (@pietradolamita).

Uma pedra que não canta, que não ressoará nenhum sentido de vida e nos transformará em uma sociedade petrificada, iguala essa que lutamos contra. Para que nos escute e para entender que nós ainda precisamos salvar o planeta. Não esse planeta, mas a humanidade, porque a terra resistirá a todos os vermos que tentam acabar com ela, inclusive nós, Povos Indígenas, se não entendermos que nós temos de andar procurando fazer o bem sempre e não olharmos apenas para o espelho.

Encerramos a nossa participação em Brasília-DF. Novos ventos nos levam…

 

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