Quando foi implementado, em abril do ano passado, o auxílio emergencial socorreu 68 milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade, evidenciando a necessidade de intervenção do Estado para apoiar os que mais precisavam. Ao longo do último ano, com os ajustes que foram feitos, este número chegou aos atuais 22 milhões (incluindo quem faz parte do Bolsa Família e também recebeu o benefício). 

Estima-se que, agora, com o fim do auxílio emergencial, 5,3 milhões ficarão à deriva, sem qualquer tipo de proteção social, em um momento em que a inflação bate a casa dos dois dígitos, não temos a população totalmente imunizada, não temos emprego e o vírus ainda circula entre nós. Esse é o grupo que não era beneficiado pelo Bolsa Família, mas teve acesso ao auxílio emergencial durante este ano. 

Quando cria um programa com fins claramente eleitoreiros, o presidente Jair Bolsonaro ignora que seu Auxílio Brasil nem de longe atende os interesses de 84,9 milhões de pessoas que convivem com fome ou algum grau de insegurança alimentar.

Esses números, que correspondem a aproximadamente 41% da população do nosso país, foram divulgados no fim de agosto na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, e compreendem o período entre 2017 e 2018. 

Desse total, 27% vivem situação de insegurança alimentar leve, quando não há certeza quando e que tipo de alimento terão acesso. 

O Auxílio Brasil de Bolsonaro nem de longe atende também o que foi determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de que o Governo Federal cumpra, obrigatoriamente, a partir do ano fiscal de 2022, a lei 10.835/2004. 

Sancionada há 17 anos, essa lei prevê a criação de uma política de transferência incondicional de renda básica para a população brasileira em situação de vulnerabilidade, nos casos de extrema pobreza e pobreza. Portanto, pelos números, vemos que passa longe de quem mais precisa.  

Mas põe fim a um programa como o Bolsa Família apenas para, atendendo aos caprichos do atual presidente, deixar sua marca na área social. Ele apenas esqueceu que a marca que deixará, mantendo-se a política atual, será muito mais profunda. Inesquecível, eu diria.

Especialistas já acenam com a possibilidade de vivermos recessão no próximo ano. Diante disso e da dificuldade de economia decolar, com baixo índice de empregos e sem a perspectiva da dose de reforço da vacina – o presidente ainda não acenou para a compra de vacinas no próximo ano, medida que a ciência já comprovou ser essencial para combater um vírus que veio para ficar – o que esperar? 

Silenciosamente, há um mapa da fome sendo desenhado sobre o mapa do Brasil. Não é mais concentrado como em décadas passadas, quando existiam bolsões.

Agora, a fome está entre nós, em todos os estados, em todos os rincões deste país. 

A fome está do nosso lado e ao alcance dos nossos olhos. Que usemos isso para fazer escolhas acertadas em 2022 e não colocarmos este país em uma rota sem volta, caso se mantenha a política bolsonarista atual. Façamos isso pelos que precisam de proteção social porque não têm perspectivas ou alternativas de socorro.

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  • Paola Carvalho

    Assistente social, especialista em Gestão de Políticas Públicas na perspectiva de gênero e promoção da igualdade racial,...

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