Messias do caos
Como o presidente tem conduzido o país a um retrocesso jamais visto – em todas áreas e sentidos
A semana começou com a preocupação de cientistas e pesquisadores para a chegada de uma terceira onda de contaminação pelo coronavírus. Muitas cidades pelo país já estão tomando medidas mais restritivas de circulação de pessoas e fechando os comércios novamente. A vacinação segue em ritmo lento. Só não há lentidão por trás do número crescente de mortes e de pessoas que necessitam da vacina e do auxílio emergencial para oferecer o mínimo para as suas famílias.
Enquanto isso, países como os Estados Unidos estão vacinando crianças a partir de 12 anos e o governo estabeleceu um programa robusto de proteção para sua população. Resultado: agora, a expectativa de crescimento dessa economia chega a 6,9%, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e 41% da população já foi imunizada. As pessoas retomam paulatinamente suas vidas.
No Brasil, ao contrário, ganha cada vez mais força o discurso do ódio e do desrespeito às pessoas e às instituições democráticas. Falas irônicas do chefe da nação dão a dimensão disso, a exemplo de: “quer auxílio? Vai pedir empréstimo no banco” ou “não mandei ninguém ficar em casa”, colocando em xeque a decisão de vários estados em decretar o lockdown.
Como pedir empréstimo ao banco, presidente? Essas pessoas não têm pão. Só para lembrá-lo, o seu papel como chefe desta nação é prover os recursos necessários para a população passar por esta fase com o mínimo de sofrimento. Mas falar de sofrimento com um retrógrado é pregar no deserto.
Essas duas falas são uma síntese desse governo inconsequente e, sim, genocida. À medida que ignora os milhões de brasileiros em situação de fome e faz pouco caso da vacina, vamos acumulando estatísticas de mortes, de fome e de quem, mesmo tendo direito comprovado e garantido na justiça, é barrado do auxílio emergencial.
Em paralelo, há casos como o de Greice Naomi, a irmã de Nise Yamaguchi, que recebeu o valor de R$3.600,00 como auxílio emergencial em 2020, mesmo trabalhando com a médica. Aqui fica a pergunta: será que neste país das diferenças e do tratamento desigual entre classes, o Imposto de Renda vai cobrar o retorno aos cofres públicos dos valores pagos indevidamente a quem não tinha direito?
O presidente conta mentiras como quem conta causos. Disse, em seu pronunciamento, que distribuiu 100 milhões de doses de vacinas, quando o que realmente conta são as vacinas aplicadas. Nem chegamos a 50 milhões de pessoas imunizadas com a primeira dose nem a 25 milhões com as duas doses. Comentou ainda que o Brasil está entre os cinco países que mais vacinas distribuiu. Estamos em 42º lugar quando comparado aos grandes. Na lista dos pequenos, estamos na lanterna.
Em dois anos, retrocedemos em todos os sentidos, especialmente quando falamos de políticas públicas e de assistência social. Há no país hoje 15 milhões de desempregados e milhões de pessoas sem esperança. É por elas que vamos continuar desmentindo esse messias do caos. E lutando para estabelecer uma renda básica digna que ajude a manter quem ficará à deriva quando a pandemia passar.
*Paola Carvalho é diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, uma das organizações da campanha Renda Básica que Queremos.