A coluna recupera alguns fatos sobre violência política de gênero que ocorrem durante o mês.

As labaredas do mês de março reverberam a luta histórica e mundial das mulheres por direitos, liberdade e emancipação. A realidade violenta mostra como esse grito por visibilidade é fundamental para que as mulheres possam ocupar, com segurança, o espaço que desejarem, especialmente a política, ambiente historicamente masculinizado e agressivo.

Não precisamos nem ir muito longe. Em uma retrospectiva do mês, lembramos que Ciro Gomes, em mais uma fala machista, comparou a ex-presidentA Dilma a um aborto; a vereadora de Vitória (ES) Camila Valadão foi impedida de falar por parlamentares que não consideraram sua roupa “adequada”; a governadora do Rio Grande Norte, Fátima Bezerra, foi pressionada ao silêncio numa audiência de conciliação em que defendia o rigor dos protocolos sanitários para conter a pandemia no estado; a prefeita de Juiz de Fora (MG), Margarida Salomão, sofreu ameaças de morte e xingamentos nas redes pelo mesmo motivo. São exemplos que aconteceram na primeira quinzena de março, mas, infelizmente, parte de uma realidade cotidiana de silenciamento praticada durante todo o ano.

Além da violência psicológica, institucional, midiática, obstétrica, econômica e legal, as mulheres sofrem ainda a silenciosa violência política, que ainda é um tema de debate recente no Brasil, mas é uma modalidade de violência já tipificada legalmente em países como a Bolívia, o México e o Peru. Ela opera de múltiplas formas, com o objetivo de impedir as mulheres de se candidatarem, interferir no exercício de seus mandatos e, de maneira geral, desestimular, desanimar e abreviar a carreira política feminina.

Essa violência traumatiza e chega a matar, como no assassinato da vereadora Marielle Franco, um crime político de proporções mundiais que simbolizou o grau máximo da violência política contra as mulheres. É um tema urgente, que reverbera diretamente na sub-representação feminina nos parlamentos e no poder executivo. É necessário reagir e nominar essa tipificação de violência, para que seja compreendida como sistêmica, coletiva, cultural.

A partir desse entendimento, é mais viável pressionar por ações mais incisivas do Tribunal Superior Eleitoral, dos partidos e dos parlamentos na criação de mecanismos de proteção e inibição, além de ativar um debate social para transformação da cultura. Buscamos isso com o projeto-ação Meu Voto Será Feminista. Essa movimentação inclui propostas para potencializar e valorizar as mulheres que fazem política: as eleitas e especialmente as não eleitas. Queremos que a experiência violenta da campanha seja percebida também como vitória política na ocupação da arena pública, impulsionando-as a ressignificar os aprendizados para alçarem novos desafios.

#14M
Confere o PodCast Meu Voto Será Feminista sobre Marielle Franco. O episódio é um resumo dos melhores momentos do programa Mulher Faz Política Todo Dia, que foi ao ar em 2019.

DOSSIÊ
O Instituto Marielle Franco montou o Dossiê 3 anos do caso Marielle e Anderson, um compilado das questões mais importantes a respeito da investigação e do árduo caminho de luta por Justiça para o caso, uma linha do tempo e um marcador temporal. Confere mais detalhes neste link Dossiê do Caso Marielle e Anderson .

PLANTANDO SEMENTES
Outra iniciativa do Instituto Marielle ganhou destaque nesse mês de março. 70 parlamentares de 45 cidades do Brasil se envolveram na ação coordenada #PlantandoSementes, que consistiu em protocolarem nas casas legislativas onde atuam um pacote com 12 projetos de lei apresentados por Marielle na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, mais um projeto que deseja instituir o dia 14 de março como o Dia Marielle Franco de Enfrentamento à Violência Política contra Mulheres Negras, LGBTQIA+ e periférica.

AMÉRICA LATINA
O Instituto Update acompanha de perto os processos eleitorais na América Latina, que em março e abril terão seu pico. Semana passada foram realizadas as eleições regionais da Bolívia, onde o Movimento ao Socialismo venceu em 3 estados e vai ao 2º turno em 4 regiões. Em abril, processos eleitorais bem importantes também acontecerão no Chile, Equador e Peru. Vamos acompanhar! Para seguir o Instituto: @institutoUpdate

 

 

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