A chica que escreve da semana é a Letícia Copatti Dogenski, gaúcha, dentista e também autora. Seu livro mais recente “A última Rosa do Verão” ganhou o Prêmio Literário Cidade de Passo Fundo, na categoria romance.

Vamos à entrevista! 😊

Como de costume, para começar você poderia contar um pouco de sua trajetória como escritora? Por que começar a escrever? E mais, por que continuar escrevendo?
Iniciei na escrita muito jovem por ter muito incentivo à leitura tanto em casa quanto na escola desde meus primeiros anos. Além da literatura, no final da infância eu tinha muito interesse em música, então aprendi a tocar violão e comecei a compor. Logo mais eu estava incluindo nas minhas letras vários personagens e criando histórias que, percebi, careciam de um espaço maior para se desenvolver. Meus primeiros contos vieram por essa época, eu tinha uns 11 anos. Desde então escrever, para mim, é um alívio. Quando tenho uma ideia de enredo ou personagem, não consigo ficar tranquila até não colocar tudo no papel, minha cabeça fica num turbilhão imaginando as possibilidades, as falas, os sentimentos, e eu preciso descarregar isso. No mínimo, escrever é um escape para a minha ansiedade e eu amo essa sensação.

Você poderia nos contar um pouco sobre as suas influências. Quais nomes da literatura te marcaram? O que você anda lendo ultimamente?
Tenho alguns livros a que sou apegada e guardo com muito carinho porque marcaram minha trajetória. O principal deles é Cem Anos de Solidão, do Gabriel García Márquez. Foi o primeiro livro em realismo fantástico que li e, quando o fiz, descobri um universo novo dentro da literatura. Li tudo de Gabo depois disso, sou devota dele. Antes de García Márquez chegar na minha vida, porém, eu tinha Jorge Amado nesse pedestal, que continua um dos meus favoritos até hoje. Mas como estou no processo de pesquisa para um romance em desenvolvimento, tenho lido muito mais livros sobre a história do Brasil nesse momento, que eu também adoro.

Você já publicou vários livros. Poderia contar aos leitores do Portal um pouco a respeito das obras “Onde as Nuvens Fazem Sombra” e do livro de contos “Previsões de Mau Signo”?
Onde as Nuvens Fazem Sombra foi meu primeiro livro e eu escrevi muito jovem, comecei quando tinha uns 14 anos. Ele acompanha a trajetória da família Manarca durante um ano todo de muita chuva numa cidade chamada Bazalta, ao passo de que a matriarca, delirando pelo isolamento, envolve a todos numa trama de mitos sobre a criação do mundo e o purgatório. Na época pareceu uma façanha, mas agora eu vejo que cometi vários erros tanto no processo de escrita quanto depois da publicação devido à minha falta de experiência. Esse livro não se encontra mais à venda por isso, pretendo fazer algumas mudanças e correções nele antes de pensar numa segunda edição. Mas é um livro importante para mim não apenas por ser o primeiro, que me rendeu contatos e amigos na área, mas porque me ensinou muita coisa sobre o mercado e, principalmente, sobre a minha própria escrita e o meu desenvolvimento. Com ele me dei conta de questões que precisava estudar e comecei a fazer isso através da escrita de contos curtos. O Previsões de Mau Signo surgiu nesse momento, a partir de algumas dessas histórias que deram certo. Compilei nele 12 contos, dos quais 6 foram selecionados para publicações em jornais e revistas ou premiados em concursos literários, e montei um e-book que disponibilizei na Amazon Kindle. Acabei retirando a publicação no ano passado com a ideia de fazer uma nova revisão e ilustrar cada conto, o que já está sendo feito. O Previsões traz histórias mais sombrias unidas na temática da solidão, que parece destinada a alguns desde o nascimento, como se um signo do zodíaco. Gosto dele porque, para mim, demonstra minha evolução.

Gostaria de saber um pouquinho sobre o seu livro publicado pela Moinhos “A última rosa do verão”. O plot da história sem dúvida já deixa qualquer leitor curioso. Como você teve a ideia para o romance? Como foi o desenvolvimento do livro?
Minha primeira pretensão era que A Última Rosa do Verão fosse um conto, mas conforme eu ia organizando a história percebi que precisava desenvolve-la mais, e assim fui incluindo nela outras ideias soltas. Eu tinha um punhado de fragmentos que levei um tempo para alinhar e entender. Mas lembro bem do dia em que, saindo da faculdade e olhando os canteiros floridos do caminho, consegui repassar o enredo completo na minha cabeça e pensei “É isso”. Não demorou muito eu estava escrevendo. Minha experiência anterior com romance, o Onde as Nuvens Fazem Sombra, tinha sido muito conturbada pela minha falta de organização. Por isso, quando comecei A Última Rosa, fiz tudo de forma muito disciplinada e desenvolvi um modo de me organizar que funcionou muito bem e uso até hoje. Fiz um resumo bem detalhado de tudo o que precisava escrever, dos personagens e dos locais, e apenas segui esse fluxo. Passei pela escrita, reescrita e revisões de forma muito rápida e tranquila.

Como foi sua experiência de publicação?
Já publiquei através de editoras e já me autopubliquei. As duas formas tem suas vantagens e desvantagens, mas nesse momento fico muito mais propensa a publicar através de uma editora, pelo suporte que ela oferece durante todo o processo. No meu primeiro livro eu não tinha nenhuma experiência nesse quesito, mal sabia o que estava fazendo, e isso me rendeu alguns incômodos. Tentei a autopublicação depois, que funciona muito bem e pode dar um bom retorno mesmo com investimento baixo, mas demanda um empenho que agora, com meu mestrado em andamento, eu não consigo ter. Já a minha experiência com a Moinhos foi ótima e esclarecedora desde o primeiro contato, eles são atenciosos além de fazer um trabalho de muita qualidade no livro tanto quanto na divulgação. A Última Rosa do Verão foi um dos primeiros livros publicados por eles, lá no início da editora, e é incrível acompanhar como eles cresceram nesse pouco tempo. Tem pessoas muito dedicadas por trás disso e eu pretendo continuar com elas o quanto for possível.

Por fim, há algo que você gostaria de dizer para outras mulheres que escrevem? Ou, alguma mensagem final?
Vou deixar aqui a indicação de uma música linda, ainda mais na voz de Elis Regina, e que tem muito significado para mim. A letra de O Que Foi Feito Devera diz que “Se muito vale o já feito, mais vale o que será, e o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir. Falo assim sem tristeza, falo por acreditar que é cobrando o que fomos que nós iremos crescer. Outros outubros virão, outras manhãs plenas de sol e de luz”. Escrevam suas vidas com a sabedoria de quem está abrindo as portas pro futuro e enxerga uma nova realidade, de maior consciência, mais igualdade, com outros entendimentos e interpretações. A literatura é arte, é terreno de ideias e é arma de luta.

Além dessa entrevista a Morgana fez a gentileza de enviar as seguintes dicas:

Livro: “Cem anos de Solidão”.

Filme: “As baladas de Buster Scruggs”.

Série: Fargo

Gostaria de agradecer imensamente a Letícia Copatti Dogenski por ter aceitado por ter aceitado meu convite para participar e disponibilizar seu tempo para esse bate-papo online. Por hoje é só, por favor, lembre-se, leiam mais e leiam mulheres!

 

 

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  • Laura Elizia Haubert

    Laura Elizia Haubert é doutoranda em Filosofia pela Universidad Nacional de Córdoba, Argentina. Graduada e Mestre em Fil...

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