Por trás delas, uma estratégia de desviar o foco do que realmente interessa: o desmonte social que acontece no país

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes colecionam declarações infelizes em torno de políticas sociais. Engana-se quem acha que essas declarações são novidade do governo para enfrentar a crise de aprovação, a corrupção e o desmonte do país. Em março de 2020, ao ser questionado sobre a ação do governo na chegada da Covid-19 ao Brasil, Bolsonaro respondeu: “‘E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre.”

Na nossa defesa do auxílio emergencial, o governo sempre se posicionou a favor de um voucher (cupom) para os desassistidos, desalentados e totalmente fora da economia formal – algo em torno de 18 milhões de brasileiros.

“O valor não pode ser maior nem menor do que o do Bolsa Família”, dizia ele no ano passado. Mesmo considerando que as pessoas não poderiam trabalhar para complementar a renda. Só se posicionou a favor quando viu os índices de aprovação do governo subirem.

Neste ano, Paulo Guedes fez uma comparação entre o tamanho de um prato de comida de um brasileiro de classe média ao de um europeu para ilustrar o tamanho do problema do desperdício de alimentos no país. Sugeriu ainda a distribuição das sobras de alimentos para os mais pobres e vulneráveis.

O ministro da economia também criticou o Fies, afirmando que o governo distribuiu bolsas demais para o Ensino Superior e que a ação enriqueceu poucos empresários, mas beneficiou até quem não tinha capacidade de entrar na universidade – como se esse ainda fosse um ambiente destinado apenas aos nobres e burgueses.

Na ocasião, ele relatou que o filho de seu porteiro recebeu a bolsa mesmo após zerar o vestibular. Para complementar, recentemente, o Ministro da Educação afirmou que a universidade é para poucos.

Em 2020, antes da pandemia, Guedes também falou sobre a elevação cambial, afirmando que o dólar mais alto era bom para todo mundo. Ele disse que quando a moeda americana estava mais baixa, “todo mundo” ia para a Disney, nos Estados Unidos, incluindo “as empregadas domésticas”.

Nas mais recentes declarações perversas deste governo nefasto, Guedes comentou o aumento da energia elétrica – resultado tanto da falta de investimentos, como da crise hídrica, consequência de queimadas e do avanço do agronegócio sobre a mata nativa. E disse: “E daí? Qual o problema de a conta de luz ficar um pouco mais cara?”

O auge, no entanto, veio na semana passada e saiu da boca de Bolsonaro, quando afirmou: “Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Aí tem um idiota: ‘Ah, tem que comprar é feijão’. Cara, se você não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar.”

Por que é tão importante recuperar essas falas? Porque elas são históricas e revelam um pensamento conservador e liberal, que criminaliza os mais pobres, responsabiliza mulheres e negros pela falta de oportunidades, pela exclusão e pela violência da qual são alvo e vítimas.

É importante destacar que essas falas ainda encontram eco, cada vez menor, no pensamento de ódio de muitos brasileiros. Enquanto Bolsonaro faz o papel do fanfarrão, que anda de moto, fala bobagem e aparece em live de camiseta e chinelo para mostrar ser do povo, temos uma operação permanente que fortalece a política econômica neoliberal e a total liberdade do mercado.

O sonho capitalista dos banqueiros está se realizando e a realidade que vemos hoje é a desigualdade social está ainda mais acentuada; reforma da Previdência que aumentou a quantidade de anos de contribuição; reforma trabalhista que flexibilizou as garantias dos trabalhadores e trabalhadoras, precarizando relações de trabalho; 19 milhões na extrema pobreza; 14,8 milhões sem emprego e 5 milhões de desalentados.

Como se não bastasse, a correção dos salários está abaixo da inflação, reduzindo o poder de compra dos trabalhadores e custo de vida cada vez mais alto.

Retrocedemos décadas de conquistas sociais em apenas três anos. Apesar de toda essa situação de perdas e miséria, a população brasileira é de muita resistência e luta.

Por isso, acredito que, apenas a união do povo, o combate às fake news e ao senso comum, com a organização das pautas centrais e a derrubada de Bolsonaro e do seu pensamento de ódio, podem trazer de volta a esperança de dias melhores. Fiquemos atentas/os às falas e ao significado por trás de cada uma delas.

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  • Paola Carvalho

    Assistente social, especialista em Gestão de Políticas Públicas na perspectiva de gênero e promoção da igualdade racial,...

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