Um retiro de mulheres cristãs em busca de empoderamento se transforma em um pesadelo marcado por fé, controle e terror. Essa é a trama de Virtuosas, filme produzido inteiramente em Florianópolis (SC), que acaba de ser premiado no “Goes to Cannes”, vitrine do Marché du Film, durante a 78ª edição do Festival de Cannes. Com direção de Cíntia Domit Bittar e produção dela e de Ana Paula Mendes, o longa — previsto para estrear em 2026 — combina suspense e crítica social ao mergulhar nos bastidores do universo dos coaches cristãos voltados a mulheres, um universo raramente retratado no cinema brasileiro.

“Ter sido escolhido mostra que o filme tem um ótimo potencial de conexão com o público e isso é fundamental pra gente”, afirma a diretora. 

Estrelado por Bruna Linzmeyer, Maria Galant e Juliana Lourenção no elenco principal, o filme mistura humor ácido, suspense e terror de final amargo. A história acompanha um retiro VIP exclusivo para mulheres cristãs virtuosas, que rapidamente se transforma em caos e horror quando o conto de uma obscura lenda de bruxa começa a assombrá-las, expondo tensões ligadas à repressão, ao controle e à fé. 

“É um filme que aborda o ultraconservadorismo e a manipulação da fé dentro de um segmento cult do cristianismo, utilizado como instrumento de manipulação. O elenco principal é inteiramente composto por mulheres, e a narrativa explora justamente essa faceta do ultraconservadorismo entre mulheres que se autointitulam virtuosas”, destaca Cíntia Domit Bittar ao Catarinas.

O “Goes to Cannes” é uma vitrine de filmes em pós-produção com potencial internacional e, neste ano, reuniu 25 longas-metragens. O vencedor Virtuosas foi um dos cinco projetos brasileiros escolhidos por meio do edital da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv/MinC), com curadoria do Festival do Rio, que este ano representa o Brasil, país de honra do Marché du Film. 

“O Goes to Cannes tinha cinco países com seus showcases e a gente ter sido o filme escolhido mostra a força do cinema brasileiro e do cinema de gênero feito por mulheres”, ressalta Bittar.

“Mal podemos esperar para finalizar o filme e compartilhá-lo com todo mundo, trazendo à tona um tema novo e fresco que revela um lado do Brasil raramente visto nas telas”, ressalta Ana Paula Mendes, produtora do filme.

Conforme explica a diretora, o cinema de gênero é aquele que trabalha com categorias narrativas específicas, como o terror, o suspense, a ficção científica e o fantástico. Esse tipo de cinema dialoga com o imaginário popular e, ao mesmo tempo, permite abordar temas complexos de forma simbólica e impactante. Quando realizado por mulheres, o cinema de gênero se fortalece ainda mais, por desafiar tanto os padrões estéticos quanto às estruturas dominantes da indústria audiovisual.

Esta foi a primeira vez em que a diretora e a produtora Novelo Filmes estiveram no festival. “Participar em 2025, ano em que o Brasil é justamente o país homenageado, é muito bom, e ter ganhado o Goes to Cannes é muito importante para nós, para a nossa carreira, para a empresa e, especialmente, para o projeto que ganha um destaque bastante grande neste momento em que ainda não estreou”, compartilha a diretora

Produzido em agosto de 2024, o elenco de Virtuosas também é formado por Sarah Motta, Brisa Marques, Nenê Borges, Fernando Bispo e participação especial de Gabriel Godoy. O filme encontra-se em pós-produção. A distribuição é da Olhar Filmes, que também assina como coprodução. 

O projeto foi viabilizado com recursos do edital Prêmio Catarinense de Cinema, da Lei Paulo Gustavo de Santa Catarina – ambos geridos pela Fundação Catarinense de Cultura – e do FSA – Fundo Setorial do Audiovisual.