Entre os uivos em nossas paredes ocas, e apenas nelas, é que percebemos a impossibilidade da presença de outros uivos durante o caminhar. Não há externo, não há alguém por você, mas também há. Há sempre porção de presenças afetuosas, porém se farão ausentes logo ao dobrarmos a esquina. Os caminhos são parecidos a todos, somos nós que fingimos não saber, com nossa ilusão autopsicotrópica desde paridos. Os bandos, os pares, os afins, os acolhedores e os que nos causarão algum prejuízo, sempre estiveram e estarão. Não falo sobre viver só, um não precisar arrogante; mas sim da absoluta solitude necessária para se poder tornar algo que valha a vinda nesse caos bonito e áspero. Mas é nas paredes ocas, resistindo aos abandonos, aceitando que ninguém é caminho de voltar pra casa, que aceitamos. Enxergamos que de fato vivemos em relações de conveniência, na maior amplitude que a palavra possa ter. E é tão humano o descarte. E é tão humano o descartar de forma sutil ou exibida nesse convés do desinteresse. Nada errado. Ninguém pode ser caminho pra ninguém e a gente sempre soube. Entretanto, ter coragem pra ficar só nas paredes ocas ouvindo os próprios uivos, quase ninguém tem.

Fêre Rocha

Jornalista, escreve no Blog da Fêre há oito anos, espaço criado para publicação de seus escritos e divulgação da música brasileira. Fêre tem algumas parcerias musicais com músicos de Floripa e Sampa e é colunista na revista digital Itinerário Imprevisto. Cotidiano Horizonte é seu primeiro livro publicado.

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