Depois de acompanhar a mobilização de ontem em Brasília pelos colegas dos veículos independentes – Sílvia Medeiros estava lá e enviou conteúdo para o Catarinas, tinha também a Mídia Ninja e os Jornalistas Livres, todos in loco, e não observando de helicópteros – me dispus a ver esta manhã a abordagem da TV aberta.

Quem assistiu só à Globo conclui que:

– O movimento não tinha pauta. Milhares de pessoas viajaram em centenas de ônibus de todas as partes do país – apenas de Santa Catarina foram quarenta carros que rodaram trinta horas – para depredar  prédios em Brasília. Não estavam interessadas em contestar as reformas trabalhista e previdenciária nem em exigir o direito democrático a eleição direta.

– A mobilização é algo que varia entre crime e uma coisa, no mínimo, nebulosa. Não um instrumento de pressão previsto na Constituição que permite que o povo se expresse a respeito dos temas políticos e de interesse coletivo.

– Que o drama da engenheira que vai refazer a fachada do prédio atacada por manifestantes é maior do que o das pessoas atingidas por bala de borracha da polícia lá no asfalto – o sujeito do movimento sem teto que levou um tiro na barriga nem apareceu no noticiário.

– Que fachadas de edifícios são mais importantes do que direitos trabalhistas. Prédios são patrimônios públicos; jornada de trabalho e direito a aposentadoria assegurados por lei, não.

Como tantos outros veículos, a Globo cumpre o papel de manter as coisas como estão. É aparelho ideológico do Estado, pra recordar os colegas que estudaram Comunicação e leram Althusser. Não há denúncia pirotécnica contra o governo Temer que represente mudança real na sua conduta. O guia de qualquer empresa é o seu lucro. Neste caso, o “produto” que a empresa fabrica é a notícia, e não um carro que, identificado o defeito, se envia para recall antes que mate alguém. As notícias fabricadas pela grande imprensa ignoram, anulam e matam gente todo dia.

A Globo explora uma concessão pública e ganha dinheiro defendendo seus interesses econômicos por meio de conteúdo editorial e anúncios que enfia goela abaixo do/a brasileiro/a médio. Pra aprovar ou barrar projetos em que tem interesse, nem precisa agendar audiência, pagar cruzeiro ou doar dinheiro pra campanha, como fazem outras empresas e setores econômicos. Basta um texto lido pelo Bonner. Mas imoral mesmo é sindicato pagar ônibus pra levar pra Brasília trabalhador que não tem o mesmo acesso aos gabinetes.

A Globo não é pra nós, gente. Também não é pra apenas um partido ou para o país. A Globo é só pra Globo. Quem não quiser acompanhar o povo que vai pra rua, sugiro que, pelo menos, não se iluda. Um/a manipulado/a a menos já ajuda.

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  • Ana Claudia Araujo

    Jornalista (UPF/RS), especialista em Políticas Públicas (Udesc/SC), mãe de ninja.

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