A Mallu Magalhães é só mais um exemplo da mediocridade e do privilégio branco: uma voz, uma letra, um sonzinho e um clipe medíocre e pronto: já é a grande cantora. E se for racista, melhor ainda!

Já, nós cantorxs negrxs não podemos nos dar o luxo de produzir e reproduzir tanta mediocridade, pois, isso não nos é possível até sendo os melhores do mundo!  Xs grandes (se não melhores do mundo) cantorxs negrxs – ícones mundiais foram subjugadxs, humilhadxs para estabelecerem uma trajetória de sucesso e aquelxs que ousaram e ousam pôr sua arte à luta antirracista são rechaçadxs e mal vistxs não somente pela indústria cultural mainstream, mas também pela sociedade em geral que constroi seu “gosto musical” a partir do que a mídia comprada pela industria é obriga a formular.

Gente, a Mallu Magalhães é só mais uma branca “bem intencionada” que resolveu entrar na onda de outras para nos afrontar e nos impor uma pauta de debate, ou seja, nos obriga a militar quando isso não foi programado por nós mesmos. Elas querem chamar nossa atenção porque um grupo que representa um número considerável de consumidores e tem divas estupendamente maravilhosas como representantes, jamais desperdiçará seu tempo e pôr em risco sua saúde auditiva ouvindo algo racista e tão medíocre.

Ela assim como outras querem desviar nossa atenção para seus espetáculos pobres e deprimentes quando deveríamos estar colocando nossas energias em pautas relevantes como, por exemplo, o extermínio da juventude negra, porque sabem que nos permitir o exercício da reflexão, da aquisição do conhecimento hegemônico e de uma condição de seres criticamente pensantes, é pôr em risco seus privilégios.

É só isso que elas querem mesmo: sapatear de salto agulha; tripudiar na nossa cara e ganhar dinheiro com isso.
Afinal, não foi isso que historicamente a branquitude sempre fez conosco?

“A escolha dessa música como primeiro single foi por uma necessidade e vontade de quebrar o vidro, do meu trabalho, da minha carreira e da minha imagem… colocar pra fora uma energia de atitude, uma onda tão urbana quanto selvagem”.

A Cantora Mallu Magalhães diz muito do “eu” da sua branquitude nessa fala, na letra de sua música e no seu clipe. Quando ela compõe uma música intitulada: Você não presta”, cujo clipe expõe pessoas negras posicionadas em lugares que expressam e naturalizam estigmas dessa população e sua marginalização promovida pelos projetos racistas do capitalismo predatório, e diz que seria o primeiro trabalho onde há inclusão de pessoa negra; isso não é caso de fazer acusação” de racismo e sim de “confirmação”. Nele ela faz questão de definir o seu lugar e das pessoas negras simbolicamente pois, podemos ver que ela se coloca e forma diferenciada das pessoas negras não só nos espaços, mas na roupa, na dança e na letra da música, num momento onde pessoas negras começam a ocupar alguns espaços, e principalmente na música onde sempre tivemos referências maravilhosas,  ela afirma: “não vem na minha sopa, não vem no meu terreno”, aí é quando começo acreditar no medo branco da negritude afrontosa.

Quando ela diz “foi por uma necessidade e vontade de quebrar o vidro, do meu trabalho, da minha carreira e da minha imagem… colocar pra fora uma energia de atitude” e faz essa representação dx negrx, o que podemos intuir? Isso nos leva entender que na verdade esse “quebrar o vidro” significa botar pra fora essa concepção racista que se aloja no imaginário da maioria das pessoas brancas que nasceram, cresceram e construíram toda a sua concepção de mundo em um país racista – cujo debate sobre ainda é um tabu – que se orgulha da sua suposta democracia racial. E com isso, ela não quebrou a imagem de si, pelo contrário, ela a fortalece e cristaliza nessa tripla narrativa: a entrevista, a letra da música e o vídeo.

Vale destacar que uma letra de música não nasce sozinha e é a expressão da concepção de mundo do artista. Logo, o artista é responsável sim pela sua obra, já que não existe abstração pura. Sendo assim, se a obra expressa o racismo, é porque o racismo está expresso no imaginário do artista.

Com isso, ela nos retira desse lugar de “acusadorxs” e se coloca em uma espécie de narrativa de “auto-denúncia” incidentalmente devido ao seu estado de alienação sobre estudos e debates das questões raciais e do racismo. Quando ela afirma: “uma onda tão urbana quanto selvagem” e apresenta os negros nessas condições; aí nos perguntamos: como em pleno século 21 onde se fala tanto dos “quilombos urbanos” e dos processos históricos de sitiamento da população negra nos espaços urbanos e, onde há muitos debates e contestações intensas sobre a perpetuação e naturalização dos estigmas e estereótipos sobre os corpos negros, alguém resolve colocar pessoas negras nos moldes que se repudia: selvagens, objetificadas, hipersexualizadas, encarceradas em um cenário de miséria; e ousa achar que tá tranqüilo, ta favorável”?

Bom, gente; estamos vendo que isso é normal, muito divertido, legal e um ato político em defesa da luta emancipatória para algumas pessoas brancas que não sabem o que é ser cidadão, porque nunca souberam o que é cidadania, uma vez que sempre viveram de privilégios. Para pessoas brancas que jamais se colocarão no lugar de alguém que tem obrigação não somente de ter compreensão mínima sobre como se estrutura e opera o racismo na sociedade brasileira dentro das questões e relações raciais, mas também de combater o racismo, já que não é um problema de suas vítimas – que são afetadas, mas sim, de seus protagonistas – que de fato precisam resolver seus demônios e assumir suas responsabilidades.

 

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  • Antonilde Rosa

    Antonilde é cantora, formanda em Bacharelado em Canto Lírico pela UFG. Ativista dos Feminismos negro,é integrante da Red...

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