Maria foi ao médico.

Maria que era Maria Madalena, assim batizada por pais muito religiosos, mas de pouco preconceito. Acharam por bem misturar, então Madalena nasceu junto com a filha Maria.

Mas ela vinha se queixando, não andava muito bem. Quando a mãe perguntou desde quando Maria assim se sentia, ela disse que desde os 15.

Feito um minucioso exame, o médico então diagnosticou e anunciou. Maria sofria de não enquadramento aos padrões vigentes.

Ela não entendeu bem no início, mas não demorou muito a absorver os conselhos do médico atento. Queria logo saber o que fazer, estava cansada de se sentir mal. Aquelas náuseas…

Disse ele que era até bem simples, mas exigia determinação. Que a recomendação médica era: Ser ela mesma de doze em doze, oito em oito, seis em seis horas e cada vez mais. E que seguisse firme contra as dores causadas pelo não enquadramento aos padrões vigentes. E ainda que se possível e aos poucos, fosse seu lado mais Madalena e menos Maria. Enfrentando sem medo seus efeitos colaterais de ser quem se é.

Fêre Rocha

Jornalista, escreve no Blog da Fêre há oito anos, espaço criado para publicação de seus escritos e divulgação da música brasileira. Fêre tem algumas parcerias musicais com músicos de Floripa e Sampa e é colunista na revista digital Itinerário Imprevisto. Cotidiano Horizonte é seu primeiro livro publicado.

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