Desvendando o poliamor: o que as mulheres estão descobrindo sobre o amor
Descubra como o poliamor está transformando as concepções tradicionais de amor e relacionamento.
Perguntei a mulheres poliamorosas quais benefícios isso lhes trouxe e essas foram suas respostas:
“Perceber que não tenho que suprir todas as expectativas. Tirou um peso que eu carregava e não sabia”
Pode ser uma tarefa difícil atender suficientemente às necessidades românticas e sexuais do parceiro em uma relação exclusiva. Na exclusividade, você tem tudo para si, mas este tudo, às vezes, pode ser muito para dar conta. Tradicionalmente, considera-se casamento bem-sucedido aquele em que se consegue manter amizade, atração sexual e compatibilidade de projetos de vida. Um projeto de relação que, na prática, acaba sendo bastante distante da realidade de vários casais.
É claro que é orgânico que nem tudo consigamos atender, mas não podemos considerar aceitável alguém que viva permanentemente com a sensação de sobrecarga, frustração e ressentimento em suas relações. É possível compartilhar o atendimento de nossas necessidades afetivas entre mais pessoas, que podem ter espaço em nossas vidas ainda que não sejam um encaixe perfeito.
Estas premissas podem fazer parte mesmo de um relacionamento sexualmente exclusivo, mas aparecem com muita evidência no poliamor. Há um descanso quando deixamos a necessidade de sermos tudo o que o outro precisa primeiro porque, por mais esforço que façamos, vamos falhar, e porque é exaustivo nos adaptar demasiadamente. É profundamente nutritivo receber o amor que vem ainda quando somos insuficientes.
“Entender meus limites e me posicionar mais nas minhas relações”
Quando seguimos os padrões relacionais normativos, adotamos as regras, condutas e até mesmo modos de sentir. Temos um sistema relacional/familiar com um passo a passo do que é e não é permitido, do que é considerado natural ou não, do que é e não é amor. Fazer diferente é quase sempre considerado desamor, desajuste, imaturidade e coisas do tipo.
Se alguém não gosta da ideia de coabitar com seu esposo, esposa, consideramos se diz que essa pessoa “não está pronta”. Se uma mulher não quer ter filhos dentro de seu casamento, muitos pensam que sua vida enquanto mulher será incompleta. Quando já se tem jeito certo de fazer, não aprendemos a fazer do nosso jeito, a pensar sobre limites, desejos e necessidades.
Não monogamia não se trata de nenhum modelo relacional específico, mas da negação a um sistema para que se abra espaço para se conhecer e ter condições de escolher o que tem a ver consigo.
“Autonomia e independência, saber se priorizar para se relacionar com os outros”
Esse é um dos relatos mais recorrentes e preciosos na poliafetividade, porque é uma vivência que nos convoca ao exercício da autonomia por carta nominal e timbrada, pois sem este exercício as coisas podem ficar insustentáveis.
Testemunhar sua(s) parceria(s) afetiva(s) exercendo desejo por outras pessoas é, dentre outras coisas, uma das experiências mais didáticas sobre individualidade. Encaramos de frente duas verdades: o desejo do outro não me pertence e nem todo o desejo do outro está direcionado a mim.
Não é preciso o poliamor para nos mostrar isso mas, sem dúvida, é uma experiência que nos leva de frente com a noção de que a vida afetiva do outro vai além de nós, e vice-versa. Na consciência de que o outro não me completa, nos responsabilizamos mais em sermos nossa fonte primeira de afeto.
“Fortalecer minha autonomia, me afastar de embustes e elevar a régua”
Quem disse que poliafetividade é lugar de macho escroto que só quer ter mais liberdade para pegar geral enquanto a parceira só aceita e sofre, não conhece a grande comunidade de pessoas não monogâmicas que estão realmente comprometidas com romper estruturas do patriarcado e machismo.
Sim, há quem use da crescente legitimação da não monogamia para validar velhas práticas opressoras. Mas, chegando mais perto deste movimento, vamos encontrar muitas pessoas, de todos os gêneros, verdadeiramente comprometidas a entenderem como as estruturas de opressão operam nos relacionamentos amorosos e fazerem um trabalho de estudo e autoconhecimento para serem melhores consigo e com suas parcerias.
Agradeço demais a participação de todas as mulheres que enviaram suas mensagens. Ainda que seu comentário não tenha aparecido aqui neste texto, li todos com carinho, e com certeza ajudaram a compor e atualizar meu trabalho e minha visão sobre a não monogamia.