No Sul da Bahia, território Tupinambá, foram seis léguas descritas na Carta de Mem de Sá, governador-geral do Brasil na época, de corpos encontrados mar, um ataque contra os povos indígenas da região que resultou na morte de milhares de indígena em 1559. Eram os indígenas Nadadores. Um mar de sangue. Os colonizadores não venceram, jamais venceram a Terra, e a resistência inexorável dos ventos, das águas, dos corpos dos filhos e filhas da Terra.

A XIII Caminhada Tupinambá de Olivença, realizada na última semana de setembro, é a memória popular e cultural que relembra a Batalha dos Nadadores (1559), que resultou no maior massacre/genocídio dos indígenas da história das américas. Eles foram cercados pelos homens do então governador-geral do Brasil, Mem de Sá. Massacrados e acuados na praia, a maior parte afogada nas ondas fortes. Os corpos foram estendidos um após o outro, somando seis léguas de índios mortos (segundo os documentos oficiais). O mar os devolveu à Terra mãe, mostrando o crime da colonização.

“Eu sou filha do marco do tempo, só pra ver a cultura do mar. Dança homem, dança mulher, as guerreiras da beira do mar”, canta o Povo Tupinambá durante a caminhada. 

Caminhada Tupinambá
Foto: Pietra Dolamita Kowawá Kapukaya Apurinã (@pietradolamita)

Entre cantos coletivos, os oito quilômetro de caminhada demonstram a fé Tupinambá, dentro de uma perspectiva de resistência profunda de homens, mulheres, jovens, anciões, anciãs, crianças e bebês. Isso é uma afirmação de uma memória coletiva de luta permanente.

Foto: Pietra Dolamita Kowawá Kapukaya Apurinã (@pietradolamita)

Dentro da Caminhada Tupinambá há a incorporação até a Ponte do Cururupi, onde um dos mártires, o caboclo Marcelino Tupinambá (anos 1930) lutou contra os coronéis do Cacau, preso e acusado de comunista, por defender o seu povo Tupinambá. Não há notícias, apenas especulação, mas até o presente momento o povo Tupinambá não sabe onde está o Guerreiro Marcelino após sua prisão.

Os Tupinambá retomam suas terras, nunca deixaram de existir e estão no lugar que, hoje, vivem. Devemos sempre sermos respeitas/os. Trazemos nos olhos a delicadeza e sensibilidade de muitas guerras. Todes os indígenas do que chamam de Brasil têm muito que aprender com guerreiras/os Tupinambá que constroem sua Ancestralidade através dos Encantados que mostram com Sabedoria e Amor a profunda relação da Terra e o Mar.

2° Seminário de Jovens e Anciões nos Conhecimentos Tradicional este mês na TI Olivença

Foto: Pietra Dolamita Kowawá Kapukaya Apurinã (@pietradolamita)

Estivemos juntas com as anciãs Tupinambá, suas falas doces e arretadas, que transmitem extrema humildade e força da conexão sempre presente com os encantados, que apontam o caminho – e os meios – mais propícios para o cultivo e a continuidade da luta e da cultura tradicional de seu povo.

“O seminário é um fortalecimento para que as nossas práticas continuem, a nossa oralidade continue, porque quem passa a nossa oralidade são os anciões, é por eles que a gente está aqui e a juventude tem que aproveitar esses momentos”, afirma Nádia Cauã.

Uma relação marcada pela amorosidade e dignidade. Uma Retomada contínua que nos mostra a Força do Porancim nos Cantos do Povo que anda em pé e caminha para um futuro, lutando todos os dias pela Demarcação dos territórios ancestrais.

Foto: Bruna Kunhã Jeguakai Arandú (@an__urb)

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