Homens, querem saber como contribuir para acabar com a cultura do estupro que resulta, entre outras violências, em casos como o da menina de 10 anos que ganhou repercussão na última semana?

1. Busquem informação sobre masculinidade tóxica e todas as reflexões já produzidas sobre esse “masculino hegemônico” que causa uma infinidade de problemas de saúde pública, dor, destruição familiar e caos social no país.

2. Coloquem-se dentro da equação não como “salvadores” de meninas, ou apoiadores do feminismo: mas sim se percebam como os potenciais estupradores, aqueles que carregam dentro de si (você gostando ou não) uma série de disfunções sociais que matam, estupram, violentam e abandonam todos os dias. Se você nunca estuprou, bolinou, agrediu ou abandonou uma mulher ou uma criança, acredite, você é uma exceção, e não a regra.

3. Confrontem outros homens que fazem tudo isso e vocês escolhem não perceber. Não comprem dessas pessoas, não façam negócios com elas, não glorifiquem publicamente, não finjam que não sabem. Se a vida ficar difícil, se perceber que teria que “cancelar” muita gente, parabéns: você percebeu que o problema é maior do que imagina.

4. Busquem ajuda psicológica, grupos de apoio e toda a cura psicológica e emocional que puderem encontrar com profissionais da saúde, e não com uma garrafa de cerveja ou a bíblia.

5. Promovam grupos de homens que discutem os próprios problemas como potenciais agressores, que se propõem a empreender um movimento social amplo de confronto com as questões da masculinidade tóxica hegemônica na nossa sociedade. Sofram o preconceito, o escárnio, a criminalização e a invisibilidade que todos os movimentos de pretxs, mulheres, LGBTQs, sem teto, refugiados sofreram por décadas. Percebam que mais do que “defensores” disfarçados de príncipes encantados e messias salvadores, vocês são PROPAGADORES do problema.

6. Parem de taxar os estupradores de monstros; Monstros são coisas “raras” e deformadas em nosso imaginário…os estupradores são pessoas normais e que estão ao nosso lado diariamente. Buscar pela punição através da prisão e do linchamento público só agrava o problema, pois desestimula um verdadeiro debate social na direção de ver que o estupro e o abuso são problemas de saúde pública, assim como o aborto. A cadeia é algo que deveria ser abolido e não estimulado em nosso sistema penal.

7. Ao olharem o rosto, o nome, a vida desse estuprador, não tentem encontrar a sua “deformidade”, mas sim tenham coragem de perceber quais homens ao seu redor se encaixam perfeitamente com a imagem desse ser. Tirar o caráter de “deformidade” do estuprador não é banalizar o estupro, mas exatamente o contrário: é perceber que o que é hipocritamente considerado exceção, na verdade é a regra.

8. Assumam a luta pelo Estado laico, formem cordões na porta de hospital com as mulheres para permitir que outras mulheres tenham um aborto seguro e não sofram ameaças, cuidem para que a saúde pública cumpra seu papel nesses casos. Mexam-se, pois por vocês terem se eximido dessa luta por décadas, estamos nessa situação terrível como sociedade.

9. Falem sobre esse assunto com outros homens. Discutam isso na mesa do bar virtual. Demonstrem publicamente suas posições, mas de modo informado e decente, por favor. Esteja disposto a ouvir as mulheres, quando falar alguma bobagem, e não se ofender ou se sentir sempre mal interpretado.

10. DISPONHA-SE A APRENDER COM MULHERES, MULHERES INDÍGENAS, MULHERES NEGRAS, PESSOAS TRANS.

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  • Barbara Biscaro

    Barbara Biscaro é atriz/cantora e pesquisadora nas áreas do teatro e da música. É Doutora em Teatro pela UDESC e coorden...

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