Primeira vereadora negra a tomar posse em Florianópolis (SC), Tânia Ramos, 60 anos, é candidata ao legislativo da capital pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol). É mulher preta, cisgênero e heterossexual. Suplente de vereadora, assumiu o mandato em 2021 e novamente em 2023. Defensora da democracia, Tânia tem uma trajetória marcada por sua atuação em movimentos sociais voltados para saúde, educação, habitação e cultura, além da luta contra o racismo religioso. Foi a primeira mulher a presidir a Associação das Velhas Guardas do Carnaval de Florianópolis e atuou em diversas áreas de gestão pública.

Tânia é a sexta candidata a responder ao questionário proposto pelo Catarinas para divulgar as candidaturas comprometidas com a agenda política feminista, antirracista, LGBT inclusiva e anticapacitista no estado em Santa Catarina. As entrevistas são publicadas diariamente por ordem de chegada. Dado o volume de respostas recebidas, vamos publicar mais de uma entrevista em determinados dias. 

O questionário foi dividido em cinco eixos temáticos, abordando questões centrais para a análise das candidaturas:

• Perfil
• Apoio e financiamento
• Propostas
• Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários
• Violência política e desinformação

Acompanhe a entrevista com Tânia

Perfil 

Resuma sua trajetória de vida/militância e o que a motivou a disputar estas eleições.

Tânia Ramos é mulher negra, eleita primeira suplente de vereadora pelo PSOL de Florianópolis, nas últimas eleições. Assumiu o mandato no mês de maio de 2021, substituindo o vereador Marquito. Em janeiro de 2023, assumiu, novamente, o mandato na Câmara, desta vez, por dois anos (2023/2024).

É uma lutadora social reconhecida em várias áreas essenciais para a cidade. Está sempre na luta em defesa da democracia, contra as opressões, como racismo, machismo, LGBTfobia, fascismo e racismo religioso – e por serviços públicos de qualidade para todas e para todos.

Na gestão da Frente Popular, na década de 1990, participou do Núcleo Gestor do Plano Diretor do Continente e foi Secretária Executiva da Secretaria Regional do Continente. Também participou de diversos movimentos em defesa da Saúde e da Educação e contribuiu com o movimento por moradias em locais de disputa social.

Na comunidade do samba contribuiu com a abertura de espaços de participação e de discussão da igualdade de gênero. É a primeira mulher a exercer a presidência da Associação das Velhas Guardas do Carnaval de Florianópolis e Região. Foi vice-presidenta da Escola de Samba Unidos da Coloninha e presidenta da Velha Guarda da mesma Escola.

Já participou do Conselho Municipal de Habitação de Florianópolis, do Fórum Catarinense contra as Privatizações e do Fórum Participação Catarinense de Mulheres na Política. Também já exerceu atividades de assessoria parlamentar na ALESC e na Câmara Municipal da capital. Foi presidenta da Associação Cultural Creche A Casa do Povo, na Coloninha, e membra do Conselho Municipal de Saúde de Florianópolis, além de diretora da UFECO.

Quais personalidades políticas são suas referências?

Marielle Franco, uma mulher inspiradora.

Apoio e financiamento

Você tem conseguido verba para a campanha? Quais?

Sim: Apoio e recursos do partido, financiamento colaborativo e doações diretas.

Você enfrenta desafios para arrecadar os recursos necessários para sua campanha? Se sim, quais são os principais?

Sim. Falta de dinheiro, apoiadores com baixa renda.

Propostas

Quais são os principais temas a serem debatidos no município e suas propostas para cada um?

Negritude e Resistência: o combate a todos os tipos de racismo e discriminações será constante. Assim como estarei na luta contra o racismo religioso e pela valorização do povo de Axé: 

• denúncias de práticas de racismo;
• fortalecimento e ampliação das ações do Compir – Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial;
• defesa do livre exercício dos cultos religiosos e proteção aos locais destes cultos;
• busca por maior visibilidade às Religiões de Matriz Africana;
• destaque a iniciativas como as Medalhas Antonieta de Barros e Cruz e Souza para pessoas negras que nos orgulham e inspiram.

Saúde e assistência: sucateamento, privatização e terceirização dos serviços de Saúde vêm sendo uma constante ao longo das últimas administrações públicas da nossa cidade e é uma das marcas da atual gestão. Por isso, minha luta também é constante contra retrocessos. Meu compromisso central é com o fortalecimento do Sistema Único de Assistência Social (SUA), Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e do Sistema Único de Saúde (SUS).

• busca pela garantia de acolhimento psíquico e físico em casos de abortamento e de violência sexual;
• apoio a mulheres grávidas em situação de vulnerabilidade, especialmente mães solos;
• manutenção e ampliação do programa Parto Humanizado;
• apoio às enfermeiras obstetras, doulas e parteiras que defendem o parto humanizado;
• defesa da qualificação do atendimento à população negra, na saúde;
• defesa do atendimento adequado a PCDs;
• apoio a trabalhadoras e trabalhadores da saúde;
• defesa do fortalecimento das UPAs Sul, Norte e Continental;
• fiscalização das irregularidades na implantação e desempenho do Hospital Dia.

Educação: minha luta em favor da educação pública, gratuita e de qualidade vem de longo tempo, por isso, meus compromissos são:

• defesa e fortalecimento das creches municipais em tempo integral;
• fortalecimento e ampliação de programas de alfabetização nas comunidades, principalmente voltados para negras e negros;
• promoção de políticas públicas educacionais e campanhas que combatam discriminações de gênero, raça e classe social;
• defesa de programas de incentivo à inclusão escolar de crianças e adolescentes com necessidades especiais;
• defesa de programas de qualificação e valorização dos profissionais da educação;
• luta por concurso público para preenchimento de vagas na educação.

Meio ambiente: neste setor, de suma importância para o nosso povo, estarei lutando, propondo e fiscalizando:

• Comcap 100% pública e de qualidade;
• saneamento básico nas comunidades;
• preservação ambiental na Ilha e no Continente;
• combate às ocupações irregulares por grandes empreendimentos em áreas preservadas;
• manutenção, preservação e apoio ao único Quilombo Urbano de Florianópolis;
• ampliação do combate à zoonose;
• apoio a ações pela proteção e saúde dos animais.

Trabalho e renda: estarei na luta por qualidade de vida, com a garantia de trabalhos dignos e valorização de trabalhadoras e trabalhadores:

• apoio aos pescadores, rendeiras, artesãos e recicladores;
• fortalecimento de ações protagonizadas por mulheres empreendedoras;
• manutenção e qualificação do Restaurante Popular;
• criação de uma rede de restaurantes populares;
• defesa da oferta de cozinhas e lavanderias coletivas nos bairros.

Cultura: na área da cultura, estarei na defesa de mais investimento e pela valorização de nossa arte e nossa história:

• ampliação de recursos para a cultura;
• investimento em espaços culturais e de lazer como praças, teatros, museus, bibliotecas;
• promoção de atividades culturais nas comunidades;
• apoio ao carnaval, com destinação de verbas públicas e debates com a sociedade;
• preservação e manutenção periódica da Passarela do Samba Nego Quirido;

Mobilidade urbana: minha luta será por políticas públicas de construção e ampliação de ações que qualifiquem o transporte coletivo, que garantam maior acessibilidade nas ruas e que facilitem o deslocamento de forma saudável, além de transparência na gestão e auditoria nos contratos de concessionárias do transporte público: 

• tarifa zero;
• ampliação de horários dos ônibus;
• transporte público 24 horas;
• novas rotas cicloviárias;
• mais faixas de segurança elevadas, instalação de piso tátil e semáforos de orientação sonora.

Segurança: as estruturas e relações de poder, desigualdades sociais e falta de acesso a serviços básicos originam a violência e levam à repressão e penalização de pessoas vulneráveis, negras e periféricas. Por isso, minha luta será muito enfática nessa área: 

• promoção de debates com as comunidades para construir políticas públicas de segurança sem qualquer forma discriminação;
• denúncia e promoção de campanhas educativas contra o assédio e violência sexual;
• instalação da Casa da Mulher Brasileira em Florianópolis.

Mulher: as propostas para mulheres estão distribuídas em cada item.

Quem forma sua base eleitoral? Quais são suas mensagens centrais? E seu slogan de campanha?

Comunidades periféricas, movimentos sociais, negritude, mulheres, trabalhadoras e trabalhadores, servidoras e servidores públicos. Qualidade de vida e direito à cidade para todas, todos e todes. Meu slogan é “Mulher de luta toda vida!”.

Tem propostas para promover a igualdade de gênero, LGBTQIA+ e racial no âmbito municipal? Se sim, quais?

Sim. Estão incluídas na questão das propostas.

Você tem propostas relacionadas à política do cuidado? Se sim, quais?

Sim. Estão incluídas na questão das propostas.

Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários

Como pretende enfrentar discursos reacionários que comprometem a equidade de gênero e racial, especialmente na educação?

Como sempre fiz, dentro e fora da Câmara, firme em meus propósitos e de cabeça erguida, exigindo respeito, apresentando dados e cobrando reflexão sobre o assunto.

Como avalia a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas municipais? 

A participação ainda é muito tímida. Precisamos de ações, preferencialmente conjuntas, que fortaleçam essa participação.

Sua plataforma propõe formas de ampliar a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas? Se sim, como?

A defesa do orçamento participativo e a realização de audiências públicas para discutir as necessidades da população.

Qual o papel das minorias políticas na transformação dos serviços de saúde e educação municipais?

Fundamental, porém, a participação dessas minorias é oprimida constantemente, pela direita.

Violência política e desinformação

Já sofreu ataques, incluindo intimidação, durante a sua trajetória devido à sua agenda política? Em caso positivo, pode compartilhar algum caso?

Sim. Só dentro da Câmara, enquanto mulher negra, tenho vários casos para contar: já fui barrada na porta do plenário, pela Guarda Municipal (GM), que só “podia deixar vereadores entrar”; no elevador, nunca me consideram vereadora, sempre perguntam quem eu assessoro; num dos nossos maiores eventos dentro da Câmara, o Novembro Negro, colocaram um objeto de tortura da época da escravatura, no meio de nossa exposição de artistas negros e negras.

Nesta campanha, sofreu ataques nas redes sociais ou nas ruas? Se sim, quais?

Sim. Infelizmente, o maior ataque veio de outra candidata, que tentou apagar minha história.

Sua candidatura tem sido alvo de desinformação? Se sim, como?

Não.

Tem ações específicas para combater a desinformação? Se sim, quais?

Sim. Equipe de comunicação atenta e bem orientada.