Ana Lúcia Martins, 58 anos, é a primeira vereadora negra da história de Joinville e busca a reeleição pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Mulher preta, cisgênero e heterossexual, sua candidatura é marcada por propostas que visam tornar a cidade mais inclusiva e igualitária, com foco em segurança alimentar, transporte público, moradia e fortalecimento do serviço público.
No campo dos direitos das mulheres, destaca-se pela defesa de iniciativas como o auxílio aluguel para mulheres vítimas de violência e o combate ao lesbocídio. A candidata propõe ainda políticas de reparação aos danos causados à população negra e indígena, como a implementação de cotas nos concursos públicos.
Ana é a décima sétima candidata a responder ao questionário proposto pelo Catarinas para divulgar as candidaturas comprometidas com a agenda política feminista, antirracista, LGBT inclusiva e anticapacitista em Santa Catarina. As entrevistas são publicadas diariamente por ordem de chegada. Dado o volume de respostas recebidas, vamos publicar mais de uma entrevista em determinados dias.
O questionário foi dividido em cinco eixos temáticos, abordando questões centrais para a análise das candidaturas:
- Perfil
- Apoio e financiamento
- Propostas
- Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários
- Violência política e desinformação
Acompanhe a entrevista com Ana Lúcia
Perfil
Resuma sua trajetória de vida/militância e o que a motivou a disputar estas eleições.
Nascida e criada no bairro Floresta. Fui trabalhadora doméstica, babá e balconista. Atuei como educadora popular na Fundação Catarinense do Bem-estar do Menor (FUCABEM). Tenho uma vida dedicada ao serviço público como professora e educadora física.
Idealizei o Programa Dança na Escola. Integrante do Coletivo Ashant, feminista, antirracista e defensora dos direitos humanos. Mãe e avó. Luto por uma cidade inclusiva, justa e de oportunidade para todos e todas. Primeira vereadora negra da história de Joinville.
Quais personalidades políticas são suas referências?
Marielle Franco sempre será uma referência. Mas também admiro muito a trajetória e a luta de Anielle Franco, Macaé Evaristo, Sônia Guajajara, Deputada Dandara, entre outras.
Apoio e financiamento
Você tem conseguido verba para a campanha? Quais?
Sim: apoio e recursos do partido e financiamento colaborativo
Você enfrenta desafios para arrecadar os recursos necessários para sua campanha? Se sim, quais são os principais?
Sim. Em uma cidade conservadora como Joinville não encontramos muitos apoiadores dispostos a contribuir financeiramente.
Qual é a importância do financiamento coletivo para a viabilidade de sua candidatura?
Financiamento coletivo é fundamental, pois o fundo partidário possui um orçamento mais restrito.
Propostas
Quais são os principais temas a serem debatidos no município e suas propostas para cada um?
As minhas pautas principais são:
Direito das Mulheres
- Criação da Casa da Mulher Brasileira;
- Erradicação da pobreza menstrual (lei aprovada pelo mandato);
- Auxílio Aluguel para mulheres vítimas de violência (lei do mandato em tramitação);
- Erradicação da violência contra as mulheres;
Cidade para todos
- Transporte público gratuito aos domingos;
- Políticas de segurança alimentar para pessoas em situação de extrema pobreza;
- Programa de Moradia para grupos historicamente excluídos;
- Ampliação e fortalecimento do Serviço Público sem terceirização e privatização.
Igualdade Racial
- Promoção da igualdade racial e eliminação do racismo;
- Cotas para negros, indígenas e quilombolas nos concursos públicos;
- Casa de Passagem para Povos Indígenas;
- Efetivação das leis 10.639 e 11.645 nas redes pública e privada de ensino.
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Cultura
- Desburocratizar e ampliar o acesso aos editais do SIMDEC;
- Criação da Lei Municipal Cultura Viva e fomento de Pontos de Cultura;
- Ampliação dos recursos dos Blocos e Escolas de Samba;
- Criação de espaços culturais nas regiões periféricas como extensão da Casa da Cultura.
Educação
- Criação do cargo de segunda professora para atendimento de estudantes com diferentes perfis de aprendizagem;
- Ampliação dos programas de contraturno escolar;
- Programa de Ensino de Capoeira e Hip Hop nas escolas municipais.
Quem forma sua base eleitoral? Quais são suas mensagens centrais? E seu slogan de campanha?
Meu slogan de campanha é: Essa Voz não pode ser calada!
Tem propostas para promover a igualdade de gênero, LGBTQIA+ e racial no âmbito municipal? Se sim, quais?
Sim. Durante meu mandato, nós criamos o projeto de Lei para instituir o Dia Municipal de Combate ao Lesbocídio; minha proposta é continuar lutando para aprovação da lei, assim como investir em práticas educativas para promover a igualdade de gênero.
Você tem propostas relacionadas à política do cuidado? Se sim, quais?
Sim. Alguns exemplos:
- Criação do cargo de segunda professora para atendimento de estudantes com diferentes perfis de aprendizagem;
- Ampliação dos programas de contraturno escolar;
- Políticas de segurança alimentar para pessoas em situação de extrema pobreza;
- Programa de Moradia para grupos historicamente excluídos;
- Auxílio Aluguel para mulheres vítimas de violência (lei do mandato em tramitação).
Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários
Como pretende enfrentar discursos reacionários que comprometem a equidade de gênero e racial, especialmente na educação?
As minhas pautas principais são o Direito das mulheres e a Igualdade Racial. Um projeto muito interessante, que aprovamos durante o mandato atual, foi o Mês Educar pela Igualdade Racial (Lei 9441/2023).
Estamos sempre recebendo, acolhendo e acompanhando as vítimas de racismo na cidade. Possuo uma proposta para garantir cotas para negros, indígenas e quilombolas nos concursos públicos municipais, por exemplo.
Como avalia a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas municipais?
A participação da sociedade civil é fundamental. Uma prática comum do meu mandato é escutar as pessoas. Mas quando a sociedade civil está organizada, ela se fortalece e é mais fácil das demandas serem escutadas e atendidas.
Sua plataforma propõe formas de ampliar a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas? Se sim, como?
Sim.
Qual o papel das minorias políticas na transformação dos serviços de saúde e educação municipais?
Como professora acredito que os serviços públicos, em especial o que se refere à saúde e educação, precisam se adaptar para atender os corpos em transformação e aquelas e aqueles que historicamente sofrem preconceitos e/ou são minoria.
Como mulher preta e professora, meu mandato ofereceu apoio e acolhimento às diversas vítimas de racismo na escola. Criamos o “Projeto Mês Educar pela Igualdade Racial”. Tenho, também, um trabalho constante de apoio e encaminhamento à educação das crianças imigrantes.
Na área da saúde, minhas ações costumam estar mais relacionadas com a saúde psicológica da mulher e de pessoas vítimas de abuso, violência e preconceito.
Violência política e desinformação
Já sofreu ataques, incluindo intimidação, durante a sua trajetória devido à sua agenda política? Em caso positivo, pode compartilhar algum caso?
Sim. Acredito que o mais marcante tenha sido em 2020, quando fui eleita a primeira vereadora negra de Joinville, eu sofri diversas ameaças e intimidações.
Nesta campanha, sofreu ataques nas redes sociais ou nas ruas? Se sim, quais?
Sim. As mensagens mais comuns são relativas ao PT.
Sua candidatura tem sido alvo de desinformação? Se sim, como?
Não.
Tem ações específicas para combater a desinformação? Se sim, quais?
Sim. Durante o meu mandato eu pratiquei um “mandato educativo” e realizei prestação de contas periódicas. Produzimos materiais impressos, mantemos um canal de comunicação sempre aberto e transparente das atividades da minha legislatura para a população.