Jornalismo que mete a colher 

Somos um veículo de jornalismo independente, constituído legalmente como uma organização sem fins lucrativos. Sediadas em Florianópolis (SC) desde 2016, oferecemos um serviço de informação de acesso aberto e gratuito. 

Desenvolvemos jornalismo de causa, com atuação feminista e antirracista no âmbito da afirmação dos direitos humanos e direitos fundamentais para a garantia de uma sociedade mais justa, democrática e plural. 

Reportamos e interpretamos os fatos de maneira crítica, por meio da lente do feminismo interseccional que reconhece o entrecruzamento das camadas de opressão que estruturam as dinâmicas de poder na sociedade: raça, classe social, gênero, sexualidade e etnia.  

Compreendemos que o jornalismo provoca impactos fundamentais no acesso a direitos, e principalmente produz conhecimento para promover rupturas no âmbito da cultura, que é onde se cristalizam as relações de gênero, raça, sexualidade, sendo construídas, mas também tensionadas constantemente. 

Temos como pilar o direcionamento político de coalizão antirracista, transafirmativa, anticapacitista e anticapitalista. Nas décadas de 1970 e 1980, a precursora do pensamento interseccional no continente, Lélia Gonzalez, já apontava e confrontava as desigualdades de classe social, de gênero e de raça na tentativa de compreender as dominações históricas e coloniais que persistem atadas à condição de ser mulher latino-americana, e principalmente de mulher negra e indígena numa sociedade escravocrata e que dizimou grande parte de sua população originária. 

Estamos ao lado das sujeitas e dos sujeitos dos movimentos políticos que rompem a lógica dos papéis sociais de gênero e orientação sexual hetero e/ou monocentrada atribuídos às pessoas de maneira compulsória. Logo, cabe reiterar que nossa prática se posiciona como transafirmativa, entendendo as pessoas trans como sujeitas importantes da contestação ao padrão normativo cisheteropatriarcal. Assim como a pesquisadora transfeminista Letícia Nascimento, defendemos que não existe corpo errado, existe corpo possível.

No Brasil, como também em outros países da América Latina, vivemos um período de ascensão institucional de grupos autoritários, de extrema direita, armamentistas, fascistas, fundamentalistas e paramilitares como resultado de uma nova fase de conformação do sistema capitalista, patriarcal e colonial que aprofunda as desigualdades e violências, enquanto aumenta a concentração do poder político e econômico sobre territórios e corpos femininos, feminizados e dissidentes. 

Segundo analisa a antropóloga argentina Rita Segato, nas guerras informais contemporâneas, cuja expressão máxima é o estupro e o feminicídio, o corpo da mulher é um lugar onde se inscreve a potência jurisdicional dos homens e da máfia: a soberania sobre um território. Essa afirmação da crueldade, chamada de “pedagogia da violência”, se estende a crimes homofóbicos, transfóbicos e racistas: “não são outra coisa que o disciplinamento que as forças patriarcais impõem a todos que moramos à margem da política”.

A nós interessa mais a “pedagogia da pergunta” de Paulo Freire – e é por isso que trazemos a conscientização e o diálogo para o centro do noticiário. Nos importa enquanto jornalistas compreender esses tempos, questioná-los, reportá-los, registrar a memória dos modos de vida que resistem e produzem fissuras nas dinâmicas de exploração e apropriação dos corpos e territórios, denunciar as  injustiças, combater a cultura da violência, e lutar pela garantia de direitos para uma sociedade mais justa e equânime, em que todas, todes e todos possamos viver livres de discriminações, regimes autoritários e de ódio.