Entrevista com Soledad Pérez, Córdoba, Argentina

CATARINAS – A organização da greve das mulheres cresceu neste ano em comparação com 2017?

O número de mulheres que vieram às assembleias antes da marcha aumentou cinco vezes. Chegam mulheres apartidárias, de forma independente. Organizações autoconvocadas, comunicadores, partidos políticos e independentes participam da construção de atividades. A marcha será gigante. Os slogans são contundentes: “Paro internacional de mujeres, tortas, travas, trans. Basta de ajuste y represión. Ni una menos. Aborto legal ya. ¡El estado y los gobiernos son responsables!”. Circulam folhetos, vídeos, músicas, a chamada em redes extremamente ativas. É esperado uma chamada maior. Não são apenas organizações ou feministas que existem há anos, mas novas pessoas que vieram à luta. A situação social e política que estamos enfrentando também contribui para um declínio constante dos direitos.

CATARINAS – Que tipos de ações devem ocorrer?

A agenda feminista deve ser consolidada contando com mulheres feministas lutadoras que nos precederam. As vozes das mulheres devem ser ouvidas em todas as áreas, direitos articulados, coletivos e exigentes. Vozes que não caem nas provocações de que os fundamentalistas (como aqueles que falam de “ideologia do gênero”) nos fazem usar contra nossa luta. O governo deve ouvir as reivindicações e assumir posições, estratégias e ações que nos apoiem.

CATARINAS – Qual o papel que você atribui à mobilização das mulheres no 8 de março contra a luta anticapitalista?

A luta das mulheres é fundamentalmente para os direitos coletivos, a construção de uma sociedade mais justa e menos violenta. Toda a diversidade que leva à adesão de uma agenda progressiva está intimamente ligada. Nós nos mobilizamos por direitos coletivos para o trabalho decente, salários dignos, contra a destruição do planeta, para cidades mais equitativas e seguras e democráticas. Menos desigualdades, erradicar a pobreza. Nós sempre defendemos os direitos humanos e das mulheres como inerentes ao modelo de desenvolvimento que não é um modelo de capitalismo selvagem, hoje hegemônico. (É uma luta que cresce) não só na América Latina. O #NiUnaMenos replicou na Espanha, França, Estados Unidos e Itália (e certamente mais lugares). Isso fala de uma crescente consciência dos direitos por parte do grupo de mulheres e também de uma politização e ativismo em redes paralelas que reivindicam primeiro o direito à vida, à liberdade.

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